De um time dominante do futebol inglês para o acúmulo de fracassos. Essa é uma temporada para esquecer do Manchester City, mesmo com a presença de nomes consagrados de sua história e grande investimento em reforços.
Pep Guardiola caminha para a sua pior — e irreconhecível — temporada como treinador. Até então, o terceiro lugar do City em 2016/17, no primeiro ano na Inglaterra, foi a única vez que o espanhol não ficou entre os dois primeiros colocado em uma competição nacional ou com menos de 80 pontos.
A situação nas competições internacionais também são terríveis. Pela primeira vez Guardiola foi eliminado da Champions League antes de chegar nas quartas de final.
O que está acontecendo com Guardiola e o City? O que explica essa queda surpreendente da equipe na temporada?
O maior erro do Guardiola veio antes da temporada começar
O City entrou na temporada 2024/25 não apenas com o objetivo de manter o domínio na Inglaterra e ampliar os recordes, mas para retornar ao topo do futebol europeu.
Para isso, Guardiola optou por uma atitude controvérsia. Os Citizens mantiveram a base da equipe em um mercado modesto. O único investimento na janela de janeiro foi a contratação de Savinho, enquanto Gündogan retornou ao Etihad Stadium sem custos.
Essa opção de Guardiola custou muito caro em uma temporada que foi se deteriorando com o passar do tempo. O primeiro grande golpe veio no final de setembro, quando Rodri rompeu o ligamento do joelho direito.

A temporada foi passando, mais jogadores se lesionaram e Guardiola viu as opções para escalar a equipe ficarem limitadas. Em janeiro, o clube precisou ir ao mercado, mas foi tarde demais.
Foram 172,1 milhões de libras (R$ 1,2 bilhão) investidos em reforços apenas em janeiro. O substituto de Rodri chegou apenas no último dia da janela, o “Deadline Day”: Nico González.
O próprio treinador admitiu que errou ao não contratar jogadores antes do início da temporada durante entrevista coletiva em janeiro.
— No verão, o clube pensou (em contratações) e eu disse: ‘Não, não quero fazer nenhuma contratação'. Eu confiei muito nesses caras e pensei que poderia fazer isso de novo. Mas depois das lesões, talvez devêssemos ter feito isso.

O declínio do Manchester City sem Rodri
Pode parecer simples justificar o declínio do City com a lesão de Rodri. Mas não é e muito pelo o que ela representa.
Com a bola, Rodri traz controle e ordem ao time com passes em espaços apertados, quebrando a pressão adversária. Sem a posse, o espanhol era o responsável para quebrar o contra-ataque ainda na origem das jogadas.
Para exemplificar o impacto do espanhol. Na temporada passada, na vitória contra o United por 3 a 1, o City terminou o jogo com 27 finalizações, viu o rival chutar apenas três vezes e conseguiu 73% de posse.
Em 2024/25, já sem Rodri, na derrota para os Red Devils por 2 a 1, foram dez finalizações para cada lado e 52% de posse para o time de Guardiola.

As tentativas de Guardiola para corrigir a rota
O treinador de 54 anos precisou buscar soluções, enquanto a pressão pelo acúmulo de resultados negativos cresce.
Muitos dos problemas do City estão no meio-campo, onde falta energia e fisicalidade para conseguir parar os contra-ataques assim que o time perde a bola. Guardiola tenta tirar esse peso mantendo a posse de bola como forma de descansar os meias.
— O problema é que não descansamos com a bola. No grande, grande sucesso do time, fomos capazes de fazer 20, 25, 30 sequências de passes no campo adversário, e agora não conseguimos mais fazer isso — disse Guardiola após a derrota na ida para o Real Madrid na Champions League.
Consequentemente, sem esses momentos de “descanso”, o time fica mais vulnerável aos contra-ataques e erros individuais na defesa.
A solução imediata do treinador foi abrir mão da posse de bola. Por exemplo, contra o Leicester no dia 26 de dezembro, os Citizens tiveram 46% de posse. Em determinado momento, os Foxes trocaram passes por mais de dois minutos.
Outra tentativa do treinador está na inversão das posições dos jogadores. Grealish chegou a ser utilizado como meio-campista, Gvardiol passou a ser utilizado mais como apoio na ponta esquerda — mesma função do final da temporada passada — e Savinho deslocado para a esquerda.

O início do fim do Guardiolismo?
A crise do City é um problema tático enraizado no clube, como o próprio treinador disse após a derrota na ida para o Real Madrid. “Não funciona como funcionava no passado”, acrescentou Guardiola.
— Hoje, o futebol moderno não é posicional. Você tem que seguir o ritmo — declarou Guardiola.

Mas esse não é o fim do “Guardiolismo”. O treinador está começando a se adaptar para uma nova versão do City. Ele remodelou a equipe para construir o domínio doméstico. Depois, mais mudanças, dessa vez de olho no topo da Europa com a tríplice coroa.
O City é um time com falta de confiança e envelhecido, mas mudanças estão sendo feitas. Marmoush é o mais velho dos quatro reforços de janeiro, com 26 anos. Nico González (23), Khusanov (21) e Vítor Reis (19), além do Echeverri que ainda não estreou, são nomes de olho para o futuro.
Nico trouxe algo que o City precisava desesperadamente: ordem no meio-campo. Marmoush tem a “desordem” ao atacar todos os espaços no setor ofensivo. Na defesa, Khusanov e Vitor Reis rejuvenescem um setor com muitos veteranos.
Para tentar salvar a temporada, o City precisa esquecer o amargo quinto lugar e voltar para a Champions League, enquanto espera evitar outra frustrante eliminação, dessa vez na Copa da Inglaterra.
Ainda há muito o que melhorar. O time precisa de outro lateral-direito com a temporada difícil de Rico Lewis — e com Kyle Walker negociado para o Milan. Os pontas deixaram de ser tão letais como eram. Mas Guardiola já pode estar no caminho para esquecer o desastre da temporada 2024/25 e olhar para o futuro.
