Não existe margem de erro para superar o Manchester City de Pep Guardiola na Premier League. Não é que eu tenha descoberto isso agora, mas o inédito quarto título consecutivo (eu já joguei a toalha) apenas reforça a ideia de que, com ele na disputa, fazer o suficiente não é suficiente.
O Arsenal chega para a última rodada com a melhor defesa (sofreu apenas 28 gols até aqui e 18 clean sheets). Foi superado no ataque (93 a 89), mas tem o melhor saldo (61 a 60).
Tem, também, o seu maior número de vitórias num campeonato (27) desde 1970/71 (29). E se somar mais uma vitória, sobre o Everton, terminará com um ponto a menos que os Invincibles de 2003/04 (90) e com uma campanha melhor que 10 dos 13 títulos do Manchester United de Sir Alex Ferguson.
Ainda fechou esta Premier League sem perder para adversário do Big Six (6 vitórias e 4 empates). Inclusive, fez 4 pontos contra o próprio Manchester City de Guardiola.

Os ‘absurdos' normalizados pelo Manchester City de Pep Guardiola
É uma loucura, mas nós já vimos isso acontecer com o Liverpool de Klopp. O ponto é que está acontecendo de novo. E de novo. Num mundo normal supostamente não deveria ser assim.
Aston Villa e Liverpool já foram clubes que conquistaram 4 títulos em 5 anos. E em 5 oportunidades, Huddersfield, Arsenal, Liverpool e Manchester United (duas vezes) ganharam três títulos em sequência, mas algo os impediu de ganhar a quarta.
Acredito que, primeiro, pela natureza de qualquer competição. Quatro anos são tempo suficiente para os rivais ajustarem a casa (como fez o Arsenal agora, coincidindo com a chegada de Arteta). Segundo que há diversos outros fatores que podem minar essa sequência, como lesões, mudança de treinador, saída de jogadores-chave, lesões, foco em outros torneios, falta de motivação etc.
Mas na vez do Manchester City lá está o maldito carequinha. Ou Haaland, que numa temporada de baixa faz, pelo menos, 27 gols na Premier League. Ou o pé-direito do goleiro reserva no chute do craque do outro time. Ou a finalização absolutamente inimiga do xG (estatística de gols esperados) do zagueiro Kompany. Ou Gündogan de elemento surpresa na pequena área.

Não tem jeito: a sensação é que sempre estará alguém. Não há o que possa ser feito do outro lado – e o Liverpool de 2019/20 é a exceção para comprovar a regra.
Pep perdeu pontos corridos em apenas três ocasiões como técnico:
– Mourinho com o Real Madrid em uma temporada recorde de 100 pontos.
– Primeira temporada no City. Chelsea do Conte levou.
– Liverpool com temporada de 99 pontos na melhor versão do Klopp.A régua é lá no alto. pic.twitter.com/2Gs4R0tuSI
— Ericky Maier (@erickymaier) May 14, 2024
Por isso é duro ler que “o Arsenal pipocou” ao ser derrotado pelo Aston Villa na 33ª rodada. Essa é uma frase que não faz o menor sentido a quem se propõe a entender o jogo por dois motivos:
- O Aston Villa é um excelente time de futebol, classificou-se para a Liga dos Campeões e também venceu o Manchester City
- O Arsenal tropeçou apenas duas vezes em 16 rodadas da Premier League em 2024. Não há como cobrar perfeição como se fosse a coisa mais singela e corriqueira do mundo
Eu não acho que toda e qualquer comparação com o futebol brasileiro seja válida, mas o Palmeiras foi campeão em 2023 com 70 pontos.
E foi destacada, merecidamente, a resiliência do time de Abel Ferreira. Os 70 pontos nesta Premier League podem não ser suficientes para garantir sequer o quarto lugar.
Não há como medir com a mesma régua um campeonato em que Pep Guardiola está presente. Ele não ganhará a sua 12ª liga nacional em 15 possíveis à toa.
E de uma coisa já sabemos: se o Arsenal quiser evitar o quinto título consecutivo em 2025 terá que superar a barreira dos 90.
Não pensem, em hipótese alguma, que é fácil.
