A dúvida sobre o sucessor de Tite na seleção brasileira, que deixou o comando após a Copa do Mundo do Catar, ainda não foi sanada. A CBF promoveu interinamente ao cargo o treinador da equipe sub-20, Ramon Menezes, em meio a rumores envolvendo nomes como Carlo Ancelotti, Zinedine Zidane, José Mourinho e Luis Enrique.
O atual campeão do Campeonato Sul-Americano da categoria, disputado no início deste ano, fará em março a primeira convocação para o ciclo da Copa de 2026. As opções estrangeiras para assumir o comando do Brasil seguem em alta.

Contexto da Seleção
A seleção brasileira vem de cinco edições do Mundial sendo eliminada por europeus, sendo quatro vezes nas quartas de final e uma na semifinal – o 7 a 1 para a Alemanha, seguido por outra derrota por 3 a 0 para a Holanda na disputa do terceiro lugar em 2014. Nas duas últimas campanhas, sob comando de Tite, o Brasil chegou como força reconhecida depois de recordes ofensivos, defensivos e de invencibilidade nas Eliminatórias da América do Sul.
Com um título da Copa América em 2019 e um vice em 2021, o trabalho do ex-treinador do Corinthians passou por processos de altos e baixos no que diz respeito a elogios e críticas. O estilo de atacar, que mudou por conta da substituição das peças ao longo do ciclo, e consequentemente as características que os diferentes jogadores promoviam, foi o principal ponto de debate.
Discursos de um time “apático”, “previsível” ou “conservador” pairavam sobre o trabalho de Tite, que teve apenas sete derrotas em 81 jogos com a Seleção. Em meio a essa situação, parte do grande público espera que o novo treinador da equipe mostre inovação. Isso se dá principalmente em termos estéticos, que é onde a maioria das cobranças são colocadas pelos espectadores – ou seja, um “resgate ao futebol arte”, que passa pelo estilo brasileiro de jogar futebol.
Estilo brasileiro
O estilo brasileiro de futebol ficou marcado a partir de dribles, tabelas e a exposição de habilidades esteticamente agradáveis ao público. Mas nos últimos anos cresceu o debate sobre uma possível perda da “essência” do futebol nacional, principalmente por conta da influência estrangeira no que diz respeito a metodologias de treino e abordagens táticas.
Mais do que os pormenores envolvendo a “mística” por trás do futebol nacional, acrescida pelos títulos das Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1970, o público brasileiro cobra, em sua maioria, por um jogo ofensivo. Também por isso, a escolha pelo novo comandante da Seleção passa por alguém que seja capaz de desenvolver esse tipo de característica.
Além da tentativa de “resgatar” o futebol esteticamente agradável para a Seleção, a PL Brasil desenvolveu cinco critérios para escolher o novo técnico do Brasil.
1. A capacidade ofensiva de seus times, baseada em padrões de construção nas diferentes fases do jogo e na forma de se defender;
2. O conhecimento do futebol brasileiro, que, nesse caso, se dá principalmente pela experiência que o treinador tem com atletas do País;
3. A experiência do treinador em questão, que terão os títulos como principal régua – mas não a única – neste quesito;
4. O modelo de jogo deve ser condizente com as “cobranças” dos torcedores em relação ao estilo brasileiro: um time que domina a partir da posse, com verticalidade e muita criação de oportunidades;
5. A possibilidade de o técnico ser considerado e/ou aceitar o cargo, ou seja, a ideia é traçar perfis realistas de alvos para a Seleção;
Com base nesses critérios, veja cinco treinadores da Premier League que poderiam treinar a seleção brasileira:
Pep Guardiola

A primeira opção pode parecer óbvia: Pep Guardiola é um dos treinadores mais competentes no mercado. Além do fato de ser laureado o suficiente – o terceiro com mais títulos na história do esporte (33), o catalão está em evidência no cenário internacional há praticamente 15 anos e viveu raros momentos de “pontos baixos” na carreira. Um dos responsáveis por popularizar um estilo de jogo amplamente “copiado” mundo afora, principalmente os conceitos de Jogo de Posição, Guardiola torna-se também uma das opções mais pedidas.
Seu conhecimento do futebol brasileiro também é notável, desde a quantidade de jogadores com quem trabalhou, como Daniel Alves, Rafinha, Fernandinho, Éderson, Danilo e Gabriel Jesus, como também suas referências como treinador. Enquanto comandava o Bayern de Munique, citou a influência da Seleção de 1970 em seu repertório, além do seu encantamento com a equipe de Telê Santana na Copa de 1982.
Sua ligação com a seleção brasileira existe há anos: em 2012, quando deixou o Barcelona, Guardiola estaria disposto a treinar a Amarelinha, segundo Martí Perarnau, autor de duas de suas biografias – entretanto, a CBF não o contatou à época. Mais recentemente, Francisco Novelletto Neves, vice-presidente da CBF, confirmou à Rádio Grenal em 2022 que a entidade se reuniu com o empresário de Guardiola em 2019 e que ele teria aceitado o cargo, mas que “o salário dele é 24 milhões de euros (R$ 132 milhões, na cotação atual)” e estava fora da realidade.
Julen Lopetegui

O espanhol atualmente comanda o processo de revitalização do Wolverhampton, mas acumula boas passagens por Porto, seleção espanhola e Sevilla. Em Portugal, foi vice-campeão em 2015, com a melhor defesa e o menor número de derrotas da liga, e terceiro em 2016, quando deixou o clube para assumir La Roja. No Porto, também treinou brasileiros como Maicon, Casemiro, Danilo e Alex Sandro.
Deixando solo lusitano com 68,8% de aproveitamento em duas temporadas, teve passagem invicta pela seleção espanhola em 20 jogos. Apesar da polêmica saída às vésperas da Copa do Mundo da Rússia, por conta de seu acerto com o Real Madrid, deixou a equipe nacional com 70% de aproveitamento. Pela seleção de base, foi campeão da Eurocopa sub-19 e sub-21 em 2012 e 2013, respectivamente.
No Sevilla entre 2019 e 2022, foi campeão da Europa League em sua primeira temporada e montou um time que recebeu muitos elogios, principalmente pela capacidade ofensiva e troca de passes agressiva para criar oportunidades, mas também pela solidez defensiva: foi a terceira equipe menos vazada em 2019/20 e 20/21, e a segunda em 21/22.
Desde que chegou aos Wolves, Lopetegui tem quatro vitórias, três derrotas e um empate na Premier League. Antes de sua primeira partida, o espanhol pegou a equipe na lanterna do campeonato e, atualmente, está em 15º. As estatísticas também podem agradar o público brasileiro: os Wolves são o quarto time com mais dribles de um contra um na Premier League e o líder na taxa de acerto, além de ser o quarto em corridas seguidas – quando um jogador com a bola disputa contra um adversário na corrida.
Mikel Arteta

Revelado na base do Barcelona e auxiliar de Guardiola no Manchester City por três anos, Mikel Arteta tem sido bastante elogiado pelo seu trabalho no Arsenal. O espanhol tem 63,9% de aproveitamento no comando dos Gunners e transformou a equipe em candidata a título mesmo com a menor média de idade entre as cinco grandes ligas da Europa (24.1). Na temporada 2021/22, levou o Arsenal de volta a uma competição internacional – ficou a dois pontos da Champions League – e atualmente lidera a Premier League mesmo com um jogo a menos que os principais rivais.
Arteta promoveu um futebol agressivo e com troca de passes vertical de volta ao Arsenal: é o time com mais dribles na liga, o segundo com mais toques na área adversária e o terceiro em passes para o terço final do campo. Além disso, seu modelo de jogo prioriza uma abordagem pressionante em fase defensiva, com jogadores em regiões altas na intenção de roubar a bola já no campo adversário. Isso é ilustrado pelo fato de ser a segunda equipe com menos passes por ação defensiva (8,72) – ou seja, geralmente os adversários não chegam a trocar nove passes antes dos Gunners tentarem interceptá-los.
Mesmo com o pouco tempo de carreira, Arteta já tem dois títulos com o clube londrino: a Copa da Inglaterra de 2019/20 e a Supercopa da Inglaterra de 2020. Além disso, esteve na comissão de Guardiola em dois títulos da Premier League (2017/18 e 18/19). Sua relação com brasileiros também é um fator positivo a seu favor – trabalhou com David Luiz, Willian e o trio de “Gabrieis” que vive grande momento na atual temporada: Magalhães, Jesus e Martinelli.
Roberto de Zerbi

Revelado pelo Milan, o ex-meia não teve tanto sucesso como jogador, mas, como técnico, de Zerbi ganhou notoriedade nas divisões inferiores do Campeonato Italiano antes de alcançar o palco global no Sassuolo. Com um estilo de futebol ofensivo e curioso pela atitude e disposição dos jogadores em campo, De Zerbi foi contratado pelo Shakhtar Donetsk, mas teve seu trabalho interrompido por conta da invasão de tropas militares da Rússia no território da Ucrânia. É muito vangloriado como um “romântico” do futebol, principalmente pela sua filosofia de manter a bola e levar um jogo estético ao público, mas que ainda não se traduziu em títulos.
De Zerbi é, provavelmente, a opção que mais se importa com a beleza promovida pelo seu time entre os cinco candidatos listados. Com uma equipe de 11 jogadores capazes de pisar na bola e driblar se necessário, o italiano faz com que seus zagueiros chamem a pressão adversária para furá-la com passes rápidos nas costas dos rivais, geralmente por dentro do campo, e então acelerar até o último terço. Seu Shakhtar encantou amantes do futebol nos 30 jogos em que comandou a equipe ucraniana, com 20 vitórias, cinco empates e cinco derrotas (72,2% de aproveitamento).
No Brighton, transformou os Seagulls em uma das equipes mais atrativas da Premier League. Disputando por um lugar em competições europeias, é o quinto time com mais chutes por jogo, o quinto em passes na área adversária e o quarto em passes em profundidade, além de ter o quinto melhor ataque e o terceiro maior índice de posse de bola. Sua agressividade em ter a bola a todo custo também é refletida na defesa: é o quarto em passes por ação defensiva e marca com o time todo em bloco alto.
Desde seu tempo na Itália, De Zerbi também tem grande experiência com brasileiros, acentuada no Shakhtar, onde dirigia um time titular praticamente brasileiro – contava com jogadores como Dodô, Ismaily, Marlon, Pedrinho, David Neres e Tetê. Seus títulos podem pesar contra: são apenas dois, uma Serie C com o Foggia, em 2016, e a Supercopa da Ucrânia em 2021.
Eddie Howe

Uma das sensações da Premier League por conta da compra do clube por um fundo de investimento saudita, o Newcastle também foi alçado à disputa de títulos através do trabalho desenvolvido por Eddie Howe. É possivelmente o menos laureado entre os candidatos, com suas maiores façanhas sendo o título da Championship em 2015 e três acessos com o Bournemouth, promovendo os Cherries da quarta à primeira divisão. Por outro lado, sua abordagem moderna deu resultado no Newcastle.
Considerado um treinador ofensivo, Howe fez o time pressionar alto para ter a bola com mais frequência. Por conta disso, é o terceiro time com maior nível de intensidade em duelos defensivos e vê somente 9,44 passes por ação defensiva. No ataque, conta com dois pontas muito velozes e com grande capacidade de drible em Almirón e Saint-Maximin, além de usar a versatilidade dos meias para pisarem na área.
Único inglês da nossa lista, sua relação com o Brasil não é a mais forte entre as opções, mas dois de seus principais jogadores são brasileiros: Bruno Guimarães e Joelinton. O último, inclusive, teve a carreira revitalizada pelo treinador. Antes um centroavante de área, foi recuado e transformado em um meio-campista dinâmico, agressivo em duelos defensivos e versátil para ocupar também regiões laterais. Com 59,6% de aproveitamento, levou o Newcastle à final da Copa da Liga Inglesa na atual temporada e disputa ativamente por uma vaga na Champions League.