O técnico Chris Hughton também teve carreira notável como jogador, na qual defendeu o Tottenham por mais de uma década e disputou Copa do Mundo e Eurocopa pela seleção da Irlanda.
Hughton costuma ser apontado como um dos grandes laterais da história dos Spurs e despontou num período de renascimento do clube, no início dos anos 1980, em que conquistou duas Copas da Inglaterra e uma Copa da Uefa, além de cumprir boas campanhas na liga.
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A história e carreira de Chris Hughton
Filho de pai ganês e mãe irlandesa, Christopher William Gerard Hughton, ou simplesmente Chris Hughton, nasceu em Forest Gate em 11 de dezembro de 1958.Chegou ao Tottenham com 13 anos, em 1972. Foi subindo nas categorias de base pelos anos seguintes até ser incluído no elenco profissional pelo técnico Keith Burkinshaw a partir de 1977.
Depois de duas temporadas sem chegar a atuar, ele finalmente faria sua estreia pelos Spurs no início da temporada 1979-80, num jogo contra o Manchester United pela Copa da Liga, em 29 de agosto.
Três dias depois, viria a estreia pela liga, justamente contra o rival do United, o Manchester City. O Tottenham começara mal o campeonato e estava em situação delicada, mas reagiu naquela tarde de 1º de setembro e bateu os Citizens por 2 a 1.
A atuação de Hughton, mostrando boa técnica, segurança na defesa e impetuosidade no apoio, fez com que ele rapidamente se firmasse como titular da lateral-esquerda (apesar de destro) por todo o resto da temporada, atuando em 39 partidas.
Além de descobrir um novo (e jovem) titular para a posição, a presença de Hughton trazia outra simbologia. Ele era apenas o segundo jogador de ascendência negra na história do clube, depois do pioneiro Walter Tull, nas primeiras décadas do século XX.
Chris Hughton na seleção irlandesa
Menos de dois meses depois, ele se tornaria também o primeiro afrodescendente a defender a seleção da Irlanda, para a qual seria convocado graças a sua ascendência materna. Em sua estreia, os irlandeses bateram os Estados Unidos em Dublin por 3 a 2 no dia 29 de outubro.
A convocação de Hughton vinha em meio a um processo amplo de renovação na seleção, iniciado ainda sob o comando de Johnny Giles.
Esse rejuvenescimento da equipe mantinha nomes que já vinham sendo incluídos há poucos anos, como Frank Stapleton, David O’Leary e Mark Lawrenson, e outros que chegariam logo depois de Hughton, casos de Kevin Moran, Pat Bonner e Ronnie Whelan.
O ano de 1980 marcaria também o primeiro gol de Chris Hughton pelos Spurs, em 19 de janeiro e coincidentemente contra o Brighton, clube que dirige atualmente, abrindo o placar numa vitória por 2 a 0 no Goldstone Ground, velho estádio dos Seagulls.
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O Tottenham terminaria no meio de tabela naquela temporada (14º colocado) e na seguinte (10º lugar), mas nesta segunda empreenderia uma vitoriosa campanha na Copa da Inglaterra. Este foi o primeiro caneco levantado pelo clube desde a Copa da Liga em 1973.
Em seguida, os Spurs eliminariam o surpreendente Exeter nas quartas e o Wolverhampton, no replay, na semifinal, antes de levantar a taça em outros dois jogos épicos diante do Manchester City em Wembley – sempre com Hughton na lateral-esquerda.
Liderado por Glenn Hoddle e a dupla argentina Osvaldo Ardiles e Ricky Villa, aquele era o time que marcaria o renascimento dos Spurs após a passagem pela segunda divisão no fim da década anterior.
Na mesma temporada, Hughton marcou também seu único gol pela seleção, numa tranquila vitória de 6 a 0 sobre o Chipre em Dublin pelas Eliminatórias para a Copa de 82. Naquela fase de classificação, embora não conquistassem a vaga, os irlandeses surpreenderam.
Jogando em Dublin, o time de Eoin Hand chegou a vencer a Holanda, então vice-campeã mundial (2 a 1), e a França de Michel Platini (3 a 2), terminando em terceiro lugar – à frente da Laranja – na chave que classificou belgas e franceses para o Mundial da Espanha.
Mais um caneco pelos Spurs
Enquanto isso, no clube, a conquista da Copa da Inglaterra de 1981 fez os Spurs subirem de patamar e voltarem a brigar por títulos. Na temporada 1981-82, com Hughton mais uma vez dono da lateral, a equipe brigou em quatro frentes.
Na liga, o time chegou a rondar a liderança e terminou num bom quarto posto, sua melhor colocação desde o terceiro lugar de 1971. E foi bem também nas copas. Chegou à final da Copa da Liga (derrotado pelo Liverpool) e da Copa da Inglaterra (campeão batendo o Queens Park Rangers).
Naquela conquista, os Spurs deixaram pelo caminho o rival Arsenal, Leeds, Aston Villa, Chelsea e Leicester, antes de derrotarem os Rangers no replay em Wembley. Após empate em 1 a 1 no primeiro jogo, um gol de pênalti de Glenn Hoddle decidiu o segundo.
Os Spurs jogaram ainda a Recopa europeia. Despacharam com facilidade o Ajax vencendo os dois jogos e passaram ainda pelo Dundalk irlandês e pelo Eintracht Frankfurt, antes de caírem nas semifinais para o Barcelona.
Dois gols num derby inesquecível
O Tottenham teve menos sucesso nas copas na temporada seguinte, mas repetiu o quarto lugar na liga, com direito a uma vitória marcante para os torcedores. Foi um grande triunfo no derby do Norte de Londres, no dia 4 de abril de 1983.
Desfalcado de nada menos que Hoddle, Ardiles e Villa, o técnico Keith Burkinshaw mandou a campo um time com quatro atacantes. Mas quem abriria o placar seria o lateral-esquerdo da seleção da Irlanda.
Hughton desceu pelo flanco esquerdo e iniciou uma troca de passes. Avançou na diagonal e recebeu na área, cara a cara com George Wood. Seu chute saiu até fraco e um pouco desajeitado, mas a bola tomou lentamente o caminho das redes e disparou a goleada.
Depois de Mark Falco anotar o segundo gol num voleio memorável, Chris Hughton voltou a balançar as redes. Ele avançou pela esquerda, tabelou com Steve Archibald, entrou na área, driblou dois marcadores e tocou no curto espaço entre Wood e a trave.
Na etapa final, Mark Falco e Alan Brazil fecharam o placar em 5 a 0, igualando a maior goleada do Tottenham sobre o Arsenal na história, obtida em 1911, e não superada desde então.
Em 1984, um título europeu
A temporada seguinte seria marcada pela conquista mais expressiva dos Spurs no período (e uma das maiores da história do clube). A equipe conseguiu o segundo título da Copa da Uefa, derrubando times fortes como o Feyenoord, o Bayern de Munique e o Anderlecht na decisão.
Contra os holandeses, que contavam com Johan Cruyff e Ruud Gullit, o Tottenham venceu por 4 a 2 em Londres e 2 a 0 em Roterdã. Neste, coube a Hughton abrir o placar, numa jogada de infiltração bem característica do lateral, titular em todos os jogos da campanha.
Hughton seguiria como titular pelas duas temporadas seguintes. Na primeira delas, os Spurs terminariam em terceiro na liga. No entanto, ele acabaria perdendo espaço com a chegada do técnico David Pleat, em maio de 1986.
Dos Hatters, o novo treinador havia trazido o lateral-esquerdo Mitchell Thomas, que se firmou na posição. O Tottenham faria boa temporada, num time que marcou época pelo futebol vistoso, mas falhou em conquistar títulos.
Hughton, que fez apenas nove partidas pela liga, chegou a jogar de lateral-direito na decisão da Copa da Inglaterra. Os Spurs foram surpreendidos pelo Coventry na prorrogação e perderam sua primeira decisão daquela taça na história.
Titular da Irlanda na Eurocopa
No ano seguinte, no entanto, viria um grande momento com a seleção, que enfim se classificara para um grande torneio: a Eurocopa de 1988, na Alemanha Ocidental. Hughton foi titular nos três jogos daquela campanha histórica.
A equipe dirigida por Jack Charlton venceu a Inglaterra na estreia (1 a 0), empatou com a União Soviética (1 a 1) em seguida e só perdeu a vaga nas semifinais ao sofrer um gol da Holanda a nove minutos do fim, na derrota por 1 a 0.
A boa forma demonstrada no torneio de seleções o levaria a voltar a atuar com mais frequência pelo clube. Foram 21 partidas pela liga na temporada 1988-89, durante a qual também seguiu como titular da Irlanda, que se classificou para sua primeira Copa do Mundo.
No Mundial da Itália, ao contrário da Eurocopa, Hughton não chegou a atuar. Mas a equipe de Jack Charlton voltou a se destacar, chegando às quartas de final e caindo apenas diante da anfitriã pelo placar mínimo.
Pouco depois de voltar da Copa do Mundo, Chris Hughton se despediria do Tottenham após 13 anos, com 398 jogos e 19 gols. Ele seguiu em Londres, assinando com o West Ham em novembro de 1990. Na curta passagem pelos Hammers, ajudou o clube a retornar à primeira divisão.
Em março de 1992, trocou de clube pela última vez, mas ainda sem sair de Londres. Ele deixou o West Ham para defender o Brentford, clube pelo qual pendurou as chuteiras aos 34 anos.
No ano seguinte, já estava de volta ao Tottenham como integrante da comissão técnica. Seria o pontapé inicial da carreira de treinador, que o levaria ainda a passagens por Newcastle, Birmingham e Norwich, antes de chegar ao Brighton.