Depois de anos brigando (e vencendo) títulos da Premier League, emendando classificações às principais competições europeias e erguendo até a taça de campeão da Champions League, o Chelsea viveu uma temporada terrível em 2023/24.
O clube foi envolvido num processo de venda que começou no início de 2022, com a sanção ao bilionário russo Roman Abramovich, obrigado a vender o Chelsea pelo envolvimento com Vladimir Putin e a Guerra da Ucrânia. Em maio, a conclusão se deu com a chegada do empresário norte-americano Todd Boehly, que comprou o time de Stamford Bridge por 4,25 bilhões de libras (R$ 26,6 bilhões).
A primeira temporada de Boehly foi bastante atribulada. O Chelsea teve quatro treinadores, contando os interinos: Thomas Tuchel (do início até setembro); Graham Potter (de setembro até abril); Bruno Saltor (por um jogo em abril); e Frank Lampard (de abril até o fim).
O clube ainda gastou cerca de 500 milhões de libras em mais de uma dezena de contratações. O elenco ficou tão inchado a ponto de Thiago Silva, em certo momento da temporada, declarar que os vestiários de Stamford Bridge e do centro de treinamento não comportavam tantos atletas.
O resultado de tanta confusão foi a pior temporada do século na Premier League. O Chelsea terminou a competição em 12º lugar e, nas últimas semanas, se preocupou mais com o rebaixamento do que com o topo da tabela.
O time ainda foi eliminado na terceira rodada da FA Cup e da Copa da Liga Inglesa, além de cair nas quartas da Champions League. Com isso, ficou de fora de qualquer competição europeia.
No entanto, ao fim da tempestade às vezes surge um arco-íris. Ou, em outras palavras, o único caminho quando se chega ao fundo do poço é para cima. Com o objetivo de trazer otimismo aos Blues of Stamford Bridge, a PL Brasil enumerou quatro motivos que explicam por que o Chelsea pode ‘voar’ em 2023/24 depois da terrível temporada passada.
1. Reformulação no elenco: aposta em jovens sem esquecer de pilares
A reconstrução do Chelsea passa obrigatoriamente por uma drástica mudança no elenco. Saídas são necessárias por motivos financeiros e esportivos, e jovens jogadores com bom potencial são bem-vindos. Foi esse pensamento que guiou, até aqui, a janela dos londrinos.
As chegadas de Andrey Santos (19 anos) e Nicolas Jackson (22 anos) ilustram o modelo. O volante brasileiro foi contratado no primeiro semestre e passou um tempo emprestado no Vasco da Gama antes de conseguir o visto para trabalhar na Inglaterra. Agora, tudo indica que será aproveitado no time principal. E Jackson chega para renovar o ataque como um dos artilheiros do Villarreal.
Diego Moreira e Ângelo Gabriel (ambos com 18 anos) também chegaram agora, embora devam ser emprestados pelos Blues.
Os novos jogadores se juntam a algumas jovens contratações da temporada passada que ainda não explodiram, mas têm tudo para se saírem muito melhor no segundo ano de Premier League. Entram nessa lista os zagueiros Fofana e Badiashile (os dois com 22 anos, embora o primeiro tenha tido uma lesão grave na pré-temporada), o meia Chukwuemeka (19) e os atacantes Mudryk (22) e Madueke (21).
Isso sem contar promessas que retornam após períodos de empréstimo e, até agora, não se sabem se serão aproveitadas. São os casos, por exemplo, do lateral Malo Gusto (20) e do meia Cesare Casadei (20). O último foi o melhor jogador do Mundial sub-20, disputado no último mês de junho.
Ainda é interessante que o Chelsea tenha rejuvenescido seu elenco sem abrir mão de alguns pilares. Kepa se firmou como goleiro titular ao fim da temporada. Thiago Silva, mesmo aos 38 anos, é o capitão e intocável na defesa, que também conta com o excelente Reece James. Já entre o meio e o ataque, os pilares do time são Enzo Fernandez, que já tem uma Copa do Mundo como titular no currículo, e Raheem Sterling, tetracampeão inglês com o City.
Soma-se a todos eles também a contratação do atacante Christopher Nkunku, artilheiro francês do RB Leipzig que já foi o melhor jogador da Bundesliga e um dos jogadores mais disputados da Europa na posição. Fora que Nkunku custou 60 milhões de euros e ainda não deve ser a maior contratação do Chelsea na janela. Pochettino já admitiu que um meio-campista é a prioridade dos Blues e Moises Caicedo é o nome que mais agrada, num negócio que poderia passar os 100 milhões de euros.
2. Regras do fair play financeiro devem ser cumpridas
Poucos contestam o fato de que as finanças são o principal problema do Chelsea. Antes mesmo de ter gasto as 500 milhões de libras em 2022/23, o clube elatou uma perda de 121 milhões de libras (R$ 771 milhões) na temporada 2021/22 que, somado ao prejuízo de 153,9 milhões de libras (R$ 981 milhões) em 2020/21 e descontado o lucro de 32,5 milhões de libras (R$ 207 milhões) de 2019/20, resulta num balanço negativo de 241,9 milhões de libras (R$ 1,5 bilhão), valor que é mais que o dobro do máximo permitido pelo Campeonato Inglês.
Por isso, os Blues traçaram uma meta de arrecadar algo em torno de R$ 1,4 bilhão (cerca de 220 milhões de libras ou 260 milhões de euros) para cumprir as regras do fair play financeiro e escapar de uma possível punição esportiva.
A boa notícia é que o Chelsea já cumpriu seu objetivo. Até o momento, o clube arrecadou algo em torno de R$ 1,5 bilhão (265 milhões de euros) com nove vendas na janela de transferências. Isso sem contar com o alívio na folha de salarial após as saídas gratuitas de Kanté e Azpilicueta, e a provável venda de Lukaku.
Voltar a ser saudável financeiramente, ainda mais numa temporada que não terá os benefícios financeiros das competições europeias, é outro bom indicador para o futuro do clube.
Kai Havertz has joined Arsenal on a permanent deal. ✍️
— Chelsea FC (@ChelseaFC) June 28, 2023
3. Pochettino é um bom treinador
No comando de um elenco promissor e mais equilibrado financeiramente, está um bom treinador que já se provou na Premier League.
Mauricio Pochettino ter escolhido treinar o Chelsea na temporada 2023/24 foi uma boa notícia para os Blues. Aos 51 anos, o argentino já tem um currículo que o credencia para a vaga. Ele começou a trabalhar no Espanyol, em 2009, e chamou mais atenção ao fazer uma ótima campanha com o Southampton em 2013/14, fechando em oitavo lugar.
O treinador assumiu o Tottenham no mesmo 2014 e foi o responsável pelo auge do clube londrino na última década. Mesmo sem o mesmo poderio financeiro dos principais rivais ingleses, Pochettino levou os Spurs a terminar três vezes seguidos no top 3 da Premier League (terceiro em 15/16, segundo em 16/17 e terceiro em 17/18) e ser vice-campeão da Champions League em 2019, perdendo a final para o Liverpool.
Pochettino não foi capaz de acabar com o jejum de 15 anos dos Spurs, mas nem a passagem discreta pelo PSG — onde venceu a Ligue 1 em sua segunda temporada e foi demitido no meio de 2022 — apagou a boa memória que os ingleses têm do argentino. Ainda mais porque o cenário dos Blues lembra um pouco o encontrado pelo treinador no White Hart Lane.
4. Chelsea não tem compromissos europeus
Quando o Chelsea terminou abaixo da metade da tabela na última Premier League, todos lamentaram o fato do clube não disputar uma competição europeia pela primeira vez em seis anos.
De fato, a não classificação implica em consequências financeiras desagradáveis para um clube em reformulação.
Mas também é possível enxergar o copo meio cheio. Sem qualquer outro compromisso europeu que exija um desgaste do elenco, o Chelsea poderá se concentrar por inteiro na liga e nas copas nacionais, o que pode aumentar as chances de um bom desempenho.
Não à toa é o que prova o histórico. Na última vez em que não jogou na Europa, na temporada 2016/17, o Chelsea bateu campeão inglês com 93 pontos e ainda foi vice-campeão da FA Cup. Impossível cravar que os Blues sejam capazes de repetir o feito no mesmo cenário, mas um pouco de otimismo não faz mal a ninguém.