O Chelsea decidiu demitir Graham Potter depois de uma série de resultados ruins. O treinador tinha apenas 45,8% de aproveitamento à frente dos Blues e o mesmo número de vitórias e derrotas. O treinador acumulava polêmicas internas no elenco e a falta de desempenho gerou críticas da torcida, que viu Ted Boehly, proprietário do clube, dispensar o segundo treinador na temporada.
Para substituir Potter, o Chelsea promoveu o retorno de Frank Lampard a Stamford Bridge. O ídolo do clube volta, inicialmente, como “tapa buraco” até o final desta temporada. Resta apenas um título em disputa para o clube inglês, o da Champions League. Diante do Real Madrid, a equipe de Londres inicia a disputa de quartas de final da competição europeia, no próximo dia 12 de abril.
Quando foi demitido em 2021, Lampard também estava vivo no torneio continental naquela temporada. Naquele ano, Thomas Tuchel, que ocupou o cargo de treinador na sequência, levou o Chelsea ao título. Portanto, o retorno a Stamford Bridge oferece ao ex-camisa 8 da Inglaterra uma segunda chance a nível europeu como técnico.
Lampard tem chances reais de chegar lá? O que o novo comandante pode oferecer a um clube repleto de desconfiança?
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Lampard de volta: bom ou ruim?
Lampard teve 58% de aproveitamento em sua primeira experiência no comando dos Blues – números próximos aos de José Mourinho entre 2013 e 2015. Em 2019/20, na primeira e única temporada completa de Lampard à frente do Chelsea, o inglês levou o time ao 4º lugar da Premier League, empatado em pontos com o Manchester United, o terceiro, mas com quatro vitórias a mais do que os rivais.
Em sua primeira passagem como treinador por Stamford Bridge, Lampard deu mais oportunidades aos jovens da base londrina e criou um ambiente positivo no vestiário. Tammy Abraham, que havia recebido poucas oportunidades anteriormente no time principal, conviveu com empréstimos antes de se tornar titular dos Blues com Lampard. Ele terminou com 15 gols na Premier League em 2019/20.
O zagueiro Fikayo Tomori, hoje destaque do Milan, também ganhou projeção com Lampard. Reece James, que atualmente tem um dos principais salários do elenco, foi alçado pelo ex-meia. Mas quem ganhou ainda mais destaque foi Mason Mount.
De imediato, o meio-campista tornou-se titular com Lampard. Logo em sua primeira temporada, em 2019/20, disputou 37 rodadas da Premier League. Em 32 delas, começou jogando. O retorno do treinador, inclusive, cria expectativas para que o meia siga no elenco depois de não conseguir chegar a um acordo por sua renovação.
Lampard conseguiu implementar um estilo de jogo ofensivo ao mesmo tempo que equilibrou a defesa do Chelsea. Assim, rapidamente caiu nas graças da torcida. O equilíbrio, inclusive é uma das principais diferenças entre o novo treinador e o recém-demitido Graham Potter.
Lampard é um upgrade a Potter?
Potter chegou em um time “começado” por Tuchel, enquanto Lampard, à época, deu início a um projeto novo, baseado na inclusão de diversos jovens jogadores. As diferenças, entretanto, são vistas desde as formações.
O Chelsea de Lampard jogava majoritariamente em 4-3-3 (38% das vezes) ou 4-2-3-1 (24%). Raras foram as ocasiões em que os Blues jogaram com três zagueiros (9%). O time de Potter era mais camaleônico: sua principal formação era o 4-2-3-1 (25%), mas logo depois está o 3-4-3 (19%). Entretanto, o trio de defesa era o mais pedido pelo treinador – entre os diferentes esquemas, três zagueiros estavam em campo em 43% das vezes.
A comparação estatística entre os trabalhos, por outro lado, dá bastante vantagem ao ídolo do clube londrino. Colocando frente a frente os dados da plataforma “Wyscout” referentes à primeira temporada de Lampard (2019/20) e a passagem de Potter no clube, em todas as competições, é possível destacar:
Lampard x Potter no Chelsea – números por jogo
Gols: 1,97 – 1,07
Gols esperados (xG): 2,04 – 1,59
Gols sofridos: 1,46 – 1,11
Gols sofridos esperados (xGA): 1,18 – 1,26
Finalizações: 15,33 – 12,32
Finalizações sofridas: 8,77 – 9,91
Recuperações: 86,13 – 83,77
Duelos: 193,62 – 208,07
Quando treinava o Brighton, Graham Potter ficou conhecido como um técnico de boas ideias e que fazia o time criar muito, mas a qualidade dos jogadores, inferior em relação aos grandes clubes, não permitia que a equipe atingisse o máximo potencial. Na temporada passada, os Seagulls de Potter marcaram apenas 42 gols em 54,84 de xG – ou seja, poderiam ter tido, pelo menos, 12 gols a mais.
Além disso, o Brighton terminou a última temporada em 9º, com 51 pontos, mas era esperado que acabasse em 6º, com mais de 56. Foi um time do “quase”. Entretanto, a situação foi parecida no Chelsea, principalmente no ataque: marcou 29 gols em 42 de xG – uma diferença negativa de 13 gols.
A mística dos interinos do Chelsea
Guus Hiddink
Lampard chega como interino e pode se inspirar em outros que estiveram na mesma situação e tiveram sucesso. Enquanto era jogador, ajudou Guus Hiddink a levar o Chelsea ao título da FA Cup depois da demissão de Felipão, em 2009.
Roberto Di Matteo
O treinador italiano sucedeu André Villas-Boas, em 2012, e venceu a FA Cup e a Champions League. Depois disso, o próprio Di Matteo foi demitido, e Rafa Benítez, o substituto da vez, venceu a Europa League em 2013.
Lampard chega em um cenário parecido: situação caótica internamente, mas com chance de título. Isso pode fazer com que a direção mude de ideia na escolha de um novo treinador para a temporada que vem.
Chance de ouro para Lampard?
A chegada do ex-meia vai além da chance de recuperar o time na fase final da temporada. É uma escolha segura por diferentes motivos: ele é ídolo do clube e causou boa impressão na primeira passagem. Além disso, o conhecimento do elenco e a boa relação com vários jogadores também foram fatores levados em conta.
A nível pessoal, o novo desafio é uma ótima notícia para Lampard. O jovem treinador deixou má impressão no Everton, onde somou um ponto por jogo em 44 partidas. O trabalho de “tapa buraco” no Chelsea pode ser uma forma de voltar a chamar a atenção do mercado, mesmo que de forma não convencional.
Ainda assim, a situação tem dois lados. O final da passagem de Lampard pelo Chelsea foi trágica, com 16 gols sofridos em oito jogos de Champions League – recorde negativo – e uma derrota por 7 a 2 na eliminação para o Bayern. Alguns jogadores, conforme divulgou a imprensa inglesa, indicaram “falta de instruções táticas” e que “não havia diálogo por meses”. Ao pegar um elenco considerado “complicado” nesta temporada, este também pode ser um desafio a Lampard.