Drible? Malandragem? Como o Chelsea pode gastar R$ 2 bilhões e ainda escapar do fair play financeiro

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A janela de transferências do Chelsea começou com a ordem de limpa no elenco. A reformulação não era apenas necessária porque o clube teve a pior campanha do século na Premier League, mas principalmente por razões financeiras.

Sob a administração do empresário Todd Boehly, o Chelsea se viu obrigado a vender jogadores para cumprir as regras do fair play financeiro (FPF) e impedir uma punição esportiva. Isso porque o clube relatou, nas três temporadas anteriores, um prejuízo somado de 242,4 milhões de libras — mais que o dobro permitido pela Premier League.

Como, então, o clube que entrou no mês de julho aflito com as dívidas começou agosto tornando Moises Caicedo a contratação mais cara da história da liga, além de continuar negociando com outros reforços?

A PL Brasil pegou a calculadora, o bloco e a caneta para te explicar.

As dívidas do Chelsea e o fair play financeiro

O ponto de partida é o prejuízo acumulado pelo clube nas últimas temporadas. Tirando a temporada de 2019/20, quando o Chelsea fechou no lucro, as seguintes foram todas de prejuízo. Os números de 2022/23 ainda não foram revelados.

O balanço financeiro do Chelsea de 2019 a 2022, em libras

  • 2019/20: lucro de 32,5 milhões
  • 2020/21: prejuízo de 153,9 milhões
  • 2021/22: prejuízo de 121 milhões
  • Balanço das três temporadas: prejuízo de 242,4 milhões
  • Limite da Premier League na soma de três temporadas: prejuízo de 105 milhões
Mauricio Pochettino trouxe otimismo à torcida do Chelsea
Mauricio Pochettino trouxe otimismo à torcida do Chelsea – Photo by Icon sport

O recorte de três anos é importante porque é o que define o regulamento da Premier League. Segundo ele, o clube que somar um prejuízo maior do que 105 milhões de libras ao longo de três temporadas está sujeito a multas e punições esportivas. Se o negativo ficar entre 15 e 105 milhões, a liga exige que os donos cubram o buraco financeiro.

Mesmo sem ter divulgado o balanço de 2022/23, o clube fez uma projeção de quanto precisaria arrecadar com vendas de jogadores antes de 2023/24 para cumprir o FPF: pelo menos 220 milhões de libras.

Começou então a limpa no elenco, que cumpriu seu objetivo. Saíram nove jogadores por, no somatório, cerca de 230 milhões de libras (R$ 1,5 bilhão). Isso sem contar o valor recebido pelo empréstimo de Kepa Arrizabalaga ao Real Madrid; a possível negociação de Romelu Lukaku, que está sem destino definido; e as saídas gratuitas que fazem o clube economizar em salários, como as de Kanté, Azpilicueta, Aubameyang, Bakayoko e João Félix.

As saídas bem-sucedidas dos Blues explicam como o clube não será punido no fair play financeiro, mas não o tamanho do investimento. Afinal, o Chelsea já gastou mais do que arrecadou na atual janela: 240 milhões de libras.

O clube já contratou sete reforços — entre eles Moises Caicedo, que chegou do Brighton como o mais caro da história da Premier League. O Chelsea ainda negocia as chegadas de Romeo Lavia, do Southampton, Michael Olise, do Crystal Palace, e Deivid Washington, do Santos que juntos podem custar mais quase 120 milhões de libras. Os 270 milhões de libras, na conversão atual, dariam mais de R$ 2 bilhões.

Como o clube vai às compras enquanto se preocupa em economizar?

Os investimentos são possíveis por conta de um “drible fiscal” que o Chelsea passou a adotar em suas contratações mais recentes. A estratégia do clube foi fazer contratos longos com seus jogadores e amortizar o valor da transferência ao longo de todo o período. O clube fechou com Mykhaylo Mudryk, por exemplo, por 100 milhões de euros. Mas irá pagar o valor ao longo do contrato de oito anos — o que dá um gasto de apenas 12,5 milhões de euros por ano.

O mesmo foi feito com Enzo Fernandez. Os 123 milhões de euros gastos com a chegada do argentino também serão amortizados pelos próximos oito anos, que é a duração do contrato do volante.

O exemplo mais recente é o do próprio Caicedo. O equatoriano de 21 anos assinou um contrato até 2031, com opção de estender até 2032, o que permite ao clube espalhar o maior valor já pago por um jogador de futebol na Inglaterra pelos próximos nove anos e diminuir o impacto nas finanças.

Kepa chelsea
Kepa Arrizabalaga era goleiro do Chelsea – Foto: Icon Sport

A “malandragem” chamou tanta atenção que a Uefa mudou o regulamento do seu fair play financeiro. A maior entidade do futebol europeu decidiu que os clubes terão no máximo cinco anos para quitar os gastos com transferências, em novidade que passou a valer a partir de 1º de julho de 2023.

A Premier League, no entanto, ainda possibilita que os clubes possam amortizar o valor dos negócios pelo tempo do contrato do jogador, seja a duração que for. Também é por esse motivo que o Chelsea não será punido: o time de Londres não disputa competições europeias em 2023/24, logo não responde ao regulamento da Uefa.

O cenário deve ser diferente em breve. O “Daily Mail” informou nesta segunda-feira (14) que a Premier League deve copiar a mudança da Uefa e aplicar um limite para amortizar os gastos a partir da próxima temporada.

As vendas do Chelsea no meio de 2023

  • Kai Havertz (Arsenal)
  • Kalidou Koulibaly (Al Hilal)
  • Edouard Mendy (Al Ahli)
  • Ruben Loftus-Cheek (Milan)
  • Mateo Kovacic (Manchester City)
  • Mason Mont (Manchester United)
  • Christian Pulisic (Milan)
  • Etham Ampadu (Leeds)

As compras do Chelsea no meio de 2023

  • Moises Caicedo (Brighton)
  • Christopher Nkunku (RB Leipzig)
  • Axel Disasi (Monaco)
  • Nicolas Jackson (Villarreal)
  • Lesley Ugochukwu (Rennes)
  • Robert Sanchez (Brighton)
  • Ângelo (Santos)
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Diogo Magri

Jornalista nascido em Campinas, morador de São Paulo e formado pela ECA-USP. Subcoordenador da PL Brasil desde 2023. Cobri Copa América, Copa do Mundo e Olimpíadas no EL PAÍS, eleições nacionais na Revista Veja e fui editor de conteúdo nas redes sociais do Futebol Globo CBN.

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