Processo que envolve o fair play financeiro da liga inglesa e as finanças do Chelsea na ‘Era Abramovich’ se encontra em fase de investigação
Além do Manchester City, o Chelsea é outro clube lembrado em meio a discussões sobre a punição de clubes da Premier League pela infração das regras do PSR — sigla referente às regras de rentabilidade e sustentabilidade da liga inglesa, o que equivale ao fair play financeiro.
O questionamento dos torcedores se baseia na investigação contra Roman Abramovich, administrador do Chelsea de 2003 a 2022, que teria cometido possíveis fraudes financeiras em seu período no comando do clube. Além disso, há os gastos exorbitantes feitos pelos novos donos em contratações na última janela de transferências.
Diante desse cenário, os torcedores também se perguntam se o clube londrino também não está passível de uma dedução de pontos como aconteceu com o Everton recentemente.
Assim como explicamos por que o caso do Manchester City ainda não foi julgado, a PL Brasil traz as principais informações sobre a situação do Chelsea para tentar entender os motivos pelos quais o clube não é alvo de punição por parte da Premier League.
A linha do tempo da investigação contra o Chelsea
Pouco depois de o consórcio americano liderado pelo empresário Todd Boehly e a empresa Clearlake Capital assumir o Chelsea ➡️ em maio de 2022, os novos donos do clube tomaram uma atitude bastante incomum.
A atual administração do Chelsea, de forma voluntária, informar à Uefa que, durante a gestão de Abramovich, o clube havia apresentado “relatórios financeiros potencialmente incompletos relacionados a transações históricas” de 2012 a 2019.
Segundo o comunicado do clube, a nova gestão tomou conhecimento da situação durante o período de diligência — uma avaliação minuciosa realizada antes da compra de clubes.
Após ter comunicado essa informação à entidade máxima do futebol europeu, o Chelsea cooperou com a investigação destas questões e, no fim da análise do Órgão de Controle Financeiro de Clubes da Uefa, foi realizado um acordo, no qual os Blues se comprometeram a pagar um valor de 10 milhões de euros à entidade. A oficialização do acerto foi divulgada pela equipe ➡️em julho de 2023.
É importante frisar que essa multa se refere apenas a transações financeiras realizadas a partir de 2017. Isso porque as operações ocorridas antes desse período já haviam sido prescritas, conforme o regulamento do órgão financeiro da Uefa.
A investigação da Premier League
Na época da conclusão do acordo com a Uefa, a entidade relatou que a multa resolvia a questão do Chelsea e que o clube “não enfrentaria mais sanções desportivas por parte do órgão dirigente do futebol europeu”. Mas e a Premier League?
A partir do comunicado dos novos donos do Chelsea feitos à Uefa, tanto a Premier League como a Associação de Futebol da Inglaterra (FA) passaram a investigar o passado financeiro em Stamford Bridge também.
Só que desde então, não aconteceu conclusão por parte dos órgãos ingleses, como ocorreu com a Uefa. Por isso, até o momento, não foi apresentada nenhuma denúncia ou acusação formal contra o Chelsea na Inglaterra. Porém, ➡️ em novembro de 2023, a situação ficou um pouco mais complicada quando vieram à tona os resultados de uma investigação internacional batizada de “Cyprus Confidential” (Chipre Confidencial, em português).
O que é a Cyprus Confidential e o que ela tem a ver com o Chelsea?
A Cyprus Confidential foi uma investigação baseada em mais de 3,6 milhões de documentos relacionados a offshores na ilha de Chipre. Offshores são empresas e contas bancárias abertas em países onde se pagam impostos mais baixos — os famosos “paraísos fiscais”.
Esses arquivos sugerem que transações feitas a associados e empresários que negociaram com o Chelsea durante a era Abramovich não foram declaradas de forma oficial — o que é proibido pela liga inglesa.
Os beneficiários incluem:
- o agente de Eden Hazard
- um sócio do técnico Antonio Conte
- dirigentes do próprio Chelsea
- outros pagamentos não tinham beneficiários precisos, mas pareciam ligados às compras de Samuel Eto’o e do brasileiro Willian.
Os documentos foram vazados para o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e para a Paper Trail Media (uma importante agência mundial de jornalismo investigativo) da Alemanha, que compartilharam o acesso com alguns meios de comunicação, como o jornal inglês “The Guardian”.
Afinal, como está a investigação sobre o Chelsea?
Na época da publicação dessa investigação no “The Guardian”, o Chelsea se pronunciou por meio de mais uma nota. O clube reitera que comunicou proativamente os problemas da era Abramovich à Uefa, à FA e à Premier League.
Assim, esperava que a sua disposição em cooperar, assim como o fato de “o grupo Boehly-Clearlake não estar no comando quando estas alegadas violações das regras foram cometidas” fossem levadas em consideração ao “determinar possíveis punições”.
Enquanto isso, a PL e a FA relatam que seguem investigando o Chelsea pelas possíveis violações dos regulamentos financeiros.
No entanto, ao contrário dos casos de Manchester City e do Everton, não há uma acusação formal por parte dessas entidades — pelo menos até o momento.
➡️Na última terça-feira (16), Richard Masters, CEO da Premier League, comentou sobre todos estes casos — incluindo o do Chelsea. O diretor citou o fato de o clube ter entregado as documentações, mas afirmou que não comentará os resultados enquanto a investigação da entidade não for concluída.
— Sobre o Chelsea, como sabem, os novos proprietários do clube apresentaram à Uefa, à FA e à Premier League informações sobre o proprietário anterior e ainda estamos investigando isso. Não anunciaremos o resultado até termos concluído as investigações — relatou Richard Masters
O Chelsea gasta muito e não é pego pelo fair play financeiro… Por quê?
Outro questionamento também surgiu recentemente na cabeça dos torcedores. O Chelsea, sob a nova gestão, gastou por volta de 1 bilhão de libras em contratações nas últimas três janelas de transferências. Existe a possibilidade de o clube ser punido por violar o fair play financeiro, já considerando a nova gestão do grupo Boehly-Clearlake?
Em uma recente reportagem, o site inglês “The Athletic” explica porque não há grandes preocupações em Stamford Bridge relacionadas ao fair play, ainda que as regras digam que os clubes podem registrar uma perda máxima de 105 milhões de libras durante três anos.
O segredo dos novos donos é investir na amortização das taxas de transferência em contratos híper-longos. De forma simplificada, isso significa que eles estão firmando acordos mais longos que o padrão para poder distribuir o pagamento dessas taxas em um período de tempo maior, a fim de diminuir o custo anual nas contas.
Um exemplo: assinar um contrato de oito anos e meio […] significa que a taxa de transferência de 62 milhões de libras por Mykhailo Mudryk é amortizada em 7,3 milhões de libras por ano. Esse número teria sido de 12,4 milhões de libras (por ano) se ele tivesse assinado um contrato padrão de cinco anos.
The Athletic
Além disso, o Chelsea fez uma limpa no seu elenco nas últimas janelas para equilibrar o caixa. Só na última, na metade de 2023, 14 jogadores foram vendidos, sendo boa parte por um alto valor. Só a saída de N’Golo Kante, Kalidou Koulibaly e Edouard Mendy — todos vendidos para clubes da Arábia Saudita — rendeu aos caixas do clube 141 milhões de euros (R$ 766 milhões).
No total. estima-se que os Blues tenham acumulado 264,2 milhões de euros (cera de R$ 1,4 bilhão) apenas nas vendas daquela janela. E como as vendas são registradas com o valor total fechado, no papel, o dinheiro recebido com essas saídas acaba sendo superior ao gasto.
Por fim, as receitas provenientes da Champions League 2022/23, o aumento da capacidade do Stamford Bridge após a pandemia e o valor proveniente de patrocinadores ajudam a fechar as contas e afastam de Londres o perigo de infração do fair play financeiro.