Os proprietários do Chelsea, Todd Boehly e o consórcio Clearlake Capital, estão preparados para ouvir propostas de investidores que pretendem comprar uma participação minoritária do time feminino. Foi o que publicou o site americano “Bloomberg” em maio de 2024, citando inclusive que já há duas empresas sondando o clube.
O “The Athletic” acrescentou em sua apuração que não há interesse dos donos dos Blues em vender a totalidade da equipe feminina, a exemplo do que fez o Lyon no início deste ano — atualmente, o time feminino do clube francês é administrado apenas pela empresária americana Michele Kang.
Ainda que a equipe não siga o exemplo francês, o clube deve partir do valor de 200 milhões de dólares (cerca de R$ 1 bilhão), que é o quanto avaliam que o departamento feminino vale, para definir quanto os investidores minoritários pagariam.
Por que o Chelsea quer vender o time feminino?
O Chelsea é um dos grandes expoentes do futebol feminino mundial. As Blues são donas de oito taças das 14 Women’s Super League (WSL) já disputadas, cinco Copas da Inglaterra, duas Copas da Liga e uma Supercopa. Fora da Inglaterra, já chegaram à final da Champions League uma vez e quatro vezes à semifinal.
No momento da compra do clube, dois anos atrás, o investimento na equipe das mulheres foi uma das “áreas-chave” com as quais Boehly e a Clearlake se comprometeram. E, de fato, houve um apoio nas finanças, com 1 milhão de libras tendo sido gastas em transferência nas duas últimas janelas — um número significativo no mercado feminino.
Apesar de não haver respostas oficiais para o motivo do interesse em vender, já que mesmo procurado pelo “The Athletic”, o Chelsea não se pronunciou sobre o assunto, acredita-se que o objetivo seja obter renda para investir ainda mais na equipe.
Mas o que parece uma ideia positiva pensando no crescimento da modalidade, na prática pode significar uma ideia ruim. A PL Brasil elencou os principais pontos levantados em uma análise da jornalista especialista em futebol feminino Jessy Parker Humphreys, publicada no site inglês.
O Chelsea feminino vale mesmo R$ 1 bilhão?
Antes de partir para os possíveis problemas da venda, é importante frisar que o valor calculado pelos donos do Chelsea pode nem ser real.
Segundo o “The Athletic”, ele foi baseado no valor do Angel City FC, equipe da liga americana feminina (NWSL). Depois de contratar o banco de investimento Moelis and Company para arrecadar fundos em março, o clube foi avaliado em 180 milhões de dólares (R$ 978 milhões).
Mas há algumas ressalvas nessa avaliação. Para começo de conversa, ela não é oficial, tendo sido feita pelo site de negócios em esportes “Sportico”. Além disso, o modelo americano é completamente diferente do inglês, já que as equipes nos Estados Unidos são franquias e a forma como a liga é administrada segue outro padrão.
Por que vender o Chelsea feminino é uma ideia ruim?
Dito isso, há fios soltos na ideia de vender uma parte do clube. Mesmo com o aumento de investimento realizado pelos novos donos, a influência deles nas negociações em si foram bem mais discretas em comparação com o time masculino.
Com uma empresa partilhando as ações, não se sabe se isso continuará dessa forma. O departamento e a sucessora da técnica Emma Hayes, Sonia Bompastor, terão autonomia para seguir seu planejamento de mercado? O quanto a investidora será liberada para intervir em decisões do dia a dia?
Além disso, o discurso de buscar novas fontes de renda causa estranhamento, considerando que dos donos gastaram mais de um bilhão de libras (100 vezes mais que o investido no time feminino) em transferências nas últimas janelas.
Há ainda o fator de que o Chelsea feminino é um time extremamente vitorioso. Buscar outras fontes de renda para equipes femininas é uma estratégia normalmente usada em projetos que estão em fase inicial, não em trabalhos consolidados.
Por fim, há certo medo entre os torcedores de que, na verdade, esta seja apenas uma manobra de Boehly e Clearlake para “extrair valor de um dos elementos de maior sucesso do clube”. E pior: tomar essa decisão dentro de um mercado que está dando seus primeiros passos.
Ninguém tem certeza sobre o quanto e quão rápido o futebol feminino vai avançar comercialmente na Inglaterra, ainda mais às vésperas da mudança na administração da WSL. A partir desta temporada, a NewCo será a gestora das Primeira e Segunda divisões da liga, em um molde similar à Premier League no futebol masculino.
“Por que perder parte do que é potencialmente um elemento de alto crescimento do seu negócio quando você não tem noção de em que pé exatamente está o mercado?“, diz Trecho de matéria do “The Athletic”.