O Chelsea implementou uma mudança na estratégia de mercado em 2022 após ser adquirido pelo consórcio chefiado pelo empresário norte-americano Todd Boehly e passou a voltar esforços para a captação de jovens talentos do futebol mundial.
Já foram contratados 36 jogadores com 23 anos ou menos no período, porém, apenas 13 destes figuram nos jogos da equipe profissional. Esse pode ser um alerta para o jovem Estevão, reforço do Chelsea para 2025 e apontado como a grande promessa do momento no futebol brasileiro.
A lista de promessas do clube que ainda não tiveram chances inclui Andrey Santos, Ângelo e Deivid Washington, que deixaram o futebol brasileiro para vestir a camisa dos Blues em 2023. Foram R$ 262 milhões gastos no trio e apenas três jogos oficiais até agora.
Jovem promessa | Valor gasto pelo Chelsea (em euros) | Jogos oficiais no time profissional |
Andrey Santos | 12,5 milhões | 0 |
Ângelo | 15 milhões | 0 |
Deivid Washington | 15 milhões | 3 |
Com esse histórico, a escolha de Estêvão, do Palmeiras, para defender o Chelsea foi o melhor caminho?
A PL Brasil analisou o cenário e destacou os planos para o atacante se firmar no time do técnico Enzo Maresca.
A dificuldade das promessas brasileiras no Chelsea
No ano seguinte à aquisição de Boehly, em janeiro, o Chelsea firmou contrato com o volante Andrey Santos, de 20 anos, por 12,5 milhões de euros, cerca de R$ 77,9 milhões na cotação atual, para contar com o atleta até 2030. O brasileiro revelado pelo Vasco retornou ao Cruzmaltino dois meses depois em caráter de empréstimo até o meio de 2023.
Em agosto de 2023, o jogador foi novamente emprestado, dessa vez para o Nottingham Forest, onde atuou em apenas dois jogos. No início de 2024, desembarcou na França para defender o Strasbourg, que também pertence a Todd Boehly. O brasileiro chegou a falar do contrato com o Chelsea e comentou sobre os empréstimos em entrevista exclusiva à PL Brasil.
— Eles (direção do Chelsea) sempre foram muito tranquilos quanto a isso. Sempre tomamos a decisão em conjunto. Eu preferia sair por empréstimo porque o time já estava formado, entrosado. Tinha muitos jogadores na minha posição. Eu preferi sair por empréstimo para o Strasbourg —, disse Andrey.
O jovem volante ainda não fez jogo oficial pelos Blues, mas enfatizou valorizar a oportunidade de ser emprestado e decidiu continuar no Strasbourg para conquistar mais minutagem. Andrey tem sido, inclusive, um dos destaques do Campeonato Francês.
Já outro brasileiro que passou por um caminho semelhante preferiu respirar novos ares: o atacante Ângelo, de 19 anos, que também pertencia ao Chelsea e defendia o time francês em empréstimo.
Ângelo é ex-Santos e foi contratado pelos Blues em agosto de 2023 por 15 milhões de euros, cerca de R$ 93,5 milhões, com vínculo até 2029. Após um mês, o atleta foi transferido para o Strasbourg.
O jovem ficou no clube francês até o fim da temporada anterior, e acabou vendido ao Al-Nassr, da Arábia Saudita, em setembro de 2024 por 23 milhões de euros, equivalente a R$ 143 milhões. Ângelo não entrou em campo no time inglês sequer uma vez de forma oficial.
Outro “Menino da Vila” da era Boehly é o atacante Deivid Washington, de 19 anos, que também chegou ao Chelsea em agosto de 2023 por 15 milhões de euros. Na temporada passada, o jovem participou de 17 jogos no sub-21 dos Blues e marcou 10 gols. Na equipe profissional, fez apenas três partidas.
Deivid teve o futuro colocado em jogo na reta final da janela de transferências do meio do ano. No “deadline day“, último dia para concretizar negociações de mercado, o Chelsea tentou vendê-lo ao Strasbourg por 21 milhões de euros, cerca de R$ 130 milhões, segundo o “L’Equipe”.
O acordo não foi selado para evitar uma possível punição da Fifa e da PL, conforme informações da “ESPN”, uma vez que os dois clubes pertencem à mesma empresa.
O atacante também quase foi emprestado por uma temporada ao Hull City, da Championship, mas a transação não ocorreu. Além disso, o Flamengo tentou, sem sucesso, o empréstimo do jogador. A PL Brasil apurou que a ideia do Chelsea é manter Deivid Washington no time sub-21.
O projeto está no caminho certo?
O brasileiro Sandro Orlandelli, que trabalhou no departamento de scout do Arsenal por 11 anos e no do Manchester United por outros três, analisou a estratégia dos Blues. Atualmente, o executivo é diretor técnico do FC Dallas, dos Estados Unidos.
O gestor disse ser uma “tentativa interessante” de captar talentos e se antecipar ao mercado e relembrou método semelhante adotado no período em que esteve nos Gunners. Orlandelli trabalhou com Arsène Wenger e pode colher ensinamentos importantes nessa experiência.
Wenger ficou no comando técnico do Arsenal por mais de 20 anos e, no período, priorizou a contratação de jovens como reforço da equipe, principalmente promessas francesas.
— O que nos trouxe de experiência: perdemos a oportunidade de os jogadores terem a adaptabilidade da cultura. O futebol inglês, a Premier League, é uma cultura muito particular —, afirmou Orlandelli.
Para ele, fatores como clima e ambientação influenciam muito, além das diferenças de intensidade entre o futebol praticado na Inglaterra e no restante do mundo.
“É a liga mais física do planeta, demanda produções de alta intensidade e em uma quantidade mais elevada do que qualquer outra liga. Por mais técnico que seja o jogador, isso acaba impactando se ele não consegue absorver esse tipo de ritmo que a PL exige”, disse.
Dessa forma, Orlandelli enfatizou a necessidade de o clube — neste caso, o Chelsea — ter um mecanismo de adaptabilidade cultural para orientar o jogador emprestado.
Vale destacar que a lista de jovens brasileiros contratados pelos Blues poderia ser maior. O lateral-direito Pedro Lima, de 18 anos, ex-Sport, teve negociações avançadas para se tornar jogador do Chelsea em junho deste ano, mas o clube levou um “chapéu” do Wolverhampton.
A reportagem da PL Brasil apurou que não foi entrave financeiro que esfriou o acordo com o time londrino, e, sim, a ideia de possivelmente ser emprestado ao Strasbourg, que desanimou o atleta.
A joia foi comprada pelos Wolves por 10 milhões de euros, aproximadamente R$ 61,9 milhões, e estreou na equipe durante a Copa da Liga Inglesa, em agosto de 2024, na vitória diante do Burnley por 2 a 0.
Não são apenas atletas brasileiros que sofrem com falta de oportunidades na equipe principal desde o início da Era Todd Boehly no Chelsea. Desde 2022, o clube gastou mais de 955 milhões de euros em compras de 23 jovens promessas do futebol mundial. Além de Estêvão, o goleiro belga Mike Penders e o meia equatoriano Kendry Paez também vão integrar o elenco apenas em 2025.
Os planos do Chelsea para Estêvão
Agora, a mais badalada aquisição dos Blues é Estêvão, de 17 anos, vendido pelo Palmeiras em acordo que pode chegar a 61,5 milhões de euros, cerca de R$ 358 milhões. Não se trata de mais uma promessa revelada pelo futebol brasileiro, mas uma das principais desde o surgimento de Neymar no Santos.
O jovem até ultrapassou uma marca do craque no dia 20 de outubro ao atingir 18 participações em gols e se tornar o jogador de 17 anos a ter mais tentos e assistências em uma mesma temporada do Campeonato Brasileiro. Neymar, em 2009, alcançou 16 participações.
— O que posso dizer é que desfrutem enquanto estiver aqui, porque esse moleque faz maravilhas. Enquanto tiver energia para jogar, aproveitem, porque é maravilhoso –, destacou o técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, em junho.
Com o desempenho, Estêvão foi cobiçado por outras equipes europeias, mas afirmou ter escolhido o Chelsea por causa do projeto e dos planos para o futuro.
— Fiquei muito feliz. O clube acreditou em mim e confiou no meu trabalho. Espero que possa retribuir isso –, disse ele em entrevista ao “The Guardian”.
As boas atuações pelo Palmeiras credenciaram a joia a uma vaga na lista de convocados pelo técnico Dorival Júnior para defender a seleção brasileira em 2024. O jogador estreou com a amarelinha aos 17 anos, ao entrar no segundo tempo de Brasil e Equador pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026.
Dadas as movimentações recentes em relação às promessas, não é absurdo que haja certa desconfiança sobre o futuro no futebol inglês. Não pela qualidade e potencial de Estêvão, já demonstrada em grandes atuações nos gramados brasileiros, mas, sim, pelo projeto do clube inglês ter apresentado falhas.
O jornalista Fabrizio Romano, especializado em transferências, indicou que o objetivo do clube é contar com o jovem na equipe principal, comandada por Maresca.
Por falar nisso, o técnico do Chelsea está de olho nas atuações da joia e fez questão de enaltecer o futuro atleta do clube em entrevista coletiva.
— Ele está tendo um desempenho fantástico, mas infelizmente está tendo esse desempenho lá e não aqui —, brincou o técnico em setembro.
O treinador falou brevemente sobre a projeção para o atacante na chegada ao Chelsea. “Vamos esperar até o próximo verão, quando ele chegar, mas estamos muito contentes com a forma que ele está fazendo as coisas”, pontuou.
É possível que haja até mudança no posicionamento de Estevão. O jovem se destacou como ponta-direita no time de Abel Ferreira, mas a ideia do comando técnico dos Blues seria testá-lo como um camisa 10, de acordo com o “UOL”.
Dessa forma, o atleta teria como função principal ser um meia de criação, mas ainda com liberdade para jogar pelas pontas.
— Ele tem uma relação muito natural com a bola, aliada a um tempo de reação extremamente rápido, e isso privilegia que ele tenha destaque no um contra um e na criatividade. É um jogador muito criativo, muito ágil. Sem dúvidas ele tem todo o perfil para essa função —, elogiou Orlandelli.
O objetivo da possível alteração seria extrair o máximo do talento do jogador. O clube entendeu, segundo o site, que Estêvão tem qualidade para render mais e ser mais útil ao time se não ficar restrito à ponta.
Ainda assim, Orlandelli comentou sobre a importância de não negligenciar o período de adaptação no futebol inglês. Para o executivo, Estêvão começar a trajetória na Inglaterra no time B dos Blues não seria absurdo.
— É difícil um jogador ter minutagem na equipe principal sendo de uma liga completamente adversa que é o futebol brasileiro. Não é que ele não tenha condições, é que ele precisa desse tempo de adaptação. Poder ter essa minutagem com orientação na equipe B acho que seria um ótimo caminho —, declarou.