A Champions League de 2008/2009 colocou Blues e Reds frente a frente, pelas quartas de final. Os Blues venceram os Reds por 7 a 5 no agregado. A PL Brasil relembra agora o emocionante jogo da volta entre as equipes: Chelsea 4×4 Liverpool.
Jogo da ida: estrela de Ivanovic dá grande vantagem aos Blues
No dia 8 de abril de 2009, em Anfield, Liverpool e Chelsea fizeram o primeiro jogo das quartas de final da Champions League.
A partida começou com os donos da casa pressionando os visitantes. Logo aos dois minutos, Kuyt quase abriu o placar. O holandês pegou a sobra de escanteio na entrada da área e emendou para o gol, mas o sérvio Ivanovic desviou de cabeça e mandou para escanteio.
A pressão era constante e o Liverpool ditava o ritmo do jogo. E, aos cinco minutos, saiu o primeiro gol. Kuyt fez jogada pelo centro e deu belo passe para Arbeloa em profundidade. O lateral-direito cruzou para a entrada da área e achou Fernando Torres sozinho. “El Niño” pegou de primeira e mandou a bola para o fundo das redes, 1 a 0.
Mesmo com a pressão do Liverpool, o Chelsea conseguiu acordar. E o jogo ficou mais equilibrado. Com chances para os dois lados, os Blues finalmente chegaram ao empate aos 38 minutos. Após escanteio da direita, Ivanovic se livrou da marcação e deixou tudo igual em Anfiled.
No segundo tempo, a partida continuou equilibrada. No entanto, mais uma vez brilhou a estrela de Branislav Ivanovic. Em mais um escanteio, desta vez da esquerda, o sérvio subiu mais alto do que a defesa e testou firme no canto direito de Pep Reina. Virada em Anfield. Brilhava a estrela do defensor.
Os mandantes sentiram o gol. E, cinco minutos mais tarde, veio o balde de água fria. Ballack enfiou ótimo passe entre as linhas e achou Malouda em profundidade no lado esquerdo. O francês levantou a cabeça e deu um passe preciso para o matador Didier Drogba na pequena área, que chegou completando para o fundo das redes.
O Liverpool parecia entregue e ainda cedeu mais algumas oportunidades para o Chelsea que não soube aproveitar. No final, vitória decisiva dos londrinos por 3 a 1 e vaga “quase” garantida para mais uma semifinal de Champions League.
A volta em Stamford Bridge: o fantástico e emocionante 4 a 4
O segundo jogo aconteceu em Stamford Bridge. Os Blues entraram em campo com o time quase completo, com John Terry, suspenso, como única ausência.
Já o Liverpool também teve um grande desfalque para o segundo e decisivo confronto. O capitão Steven Gerrard estava lesionado e sequer ficou no banco de reservas.
Atrás no placar agregado, o Liverpool começou o jogo mais agressivo. Logo nos minutos iniciais, os Reds utilizaram uma marcação mista. Alternavam em alguns momentos com uma pressão na saída de bola dos mandantes e outros com a linha mais baixa.
Já o Chelsea jogava “com o regulamento”. Com o resultado ao seu favor, os Blues adotaram uma proposta mais cautelosa, apostando em um jogo rápido de transição defesa/ataque para pegar o sistema defensivo dos visitantes desprotegido.
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No entanto, nos minutos iniciais da partida, foi a proposta do Liverpool que surtiu efeito. O time de Rafa Benítez ditava o ritmo de partida. Com mais posse de bola, presença no campo ofensivo e muita movimentação dos extremos (Kuyt e Benayoun), os Reds quase abriram o placar aos 12 minutos.
Kuyt recebeu por dentro e achou Benayoun entre as linhas. O israelense fez o movimento da direta para o centro, conduziu e deu belo toque para Fernando Torres. O espanhol adiantou e chutou de perna esquerda. A bola passou raspando a trave direita de Cech.
A pressão continuava. E o gol não demorou para sair. Aos 19 minutos, Fábio Aurélio surpreendeu em uma cobrança de falta lateral e mandou a bola na direção da meta de Cech, que esperava um cruzamento direto. Melhor para o brasileiro. 1 a 0 Liverpool e surgia uma luz no fim do túnel.
Nem o Chelsea e nem os torcedores esperavam pelo gol. Porém, o que começava a preocupar, ficaria ainda pior. Já o Liverpool tinha total controle e dominava todas as ações.
E, aos 28 minutos, os torcedores dos Reds tiveram mais um motivo de alegria. Fábio Aurélio cobrou mais uma falta lateral e Ivanovic agarrou Xabi Alonso dentro da área. O árbitro espanhol Luis Medina Cantalejo viu o movimento faltoso na área e marcou pênalti. Com frieza e precisão, Alonso foi para a cobrança, deslocou Cech e mandou a bola para o fundo das redes.
A alteração que mexeu com o roteiro da partida
O Chelsea parecia perdido. Sem reação. A vantagem construída em Anfield estava em xeque. Porém, Guus Hiddink teve o “feeling” e tomou providências. No momento pareceu algo desesperador, mas no final, foi uma medida cirúrgica. Aos 35 minutos o técnico holandês colocou Anelka no lugar de Kalou. Os Blues precisavam de mais uma referência ofensiva além de Didier Drogba.
No entanto, mesmo com a alteração o roteiro não mudou. Apesar de ter aumentado o volume e de ter mais a bola, o Liverpool ainda era melhor em campo. Mas com 2 a 0 no marcador e mais da metade do caminho construído, a equipe de Anfield diminuiu o ímpeto, trabalhou com a linha mais baixa e deixou de sufocar o Chelsea.
Essa mudança estratégica deixou o jogo mais disputado no meio-campo e também mais físico. Além disso, os Blues tinham dificuldade para criar as jogadas ofensivas. Tanto que, em todo o primeiro tempo, os mandantes finalizaram apenas uma vez no gol.
Quem assustou e quase marcou o terceiro foi o Liverpool. Aos 44 minutos, Xabi Alonso fez ótimo cruzamento da direita e achou Dirk Kuyt na segunda trave. O holandês subiu com estilo e colocou a bola no canto direito de Cech, que fez ótima intervenção. Mais um susto em Stamford Bridge. E um primeiro tempo de tirar o fôlego para os torcedores do Chelsea.
Chelsea volta das cinzas e encaminha a classificação para a semifinal da Champions League
O Chelsea iniciou o segundo tempo com uma nova postura. O time ainda não era brilhante tecnicamente, mas apresentava mais energia. Era uma equipe “mais ligada”. Afinal, era o segundo jogo das quartas de final de uma Uefa Champions League. O Liverpool voltou da mesma forma do início da primeira etapa. Posse de bola e domínio das ações ofensivas.
Porém, a tão esperada jogada de transição do Chelsea finalmente saiu. Logo aos cinco minutos, Anelka recebeu pela direita e fez jogada individual. O francês levou a melhor sobre Fábio Aurélio e fez um cruzamento todo desequilibrado.
Mas lá estava Didier Drogba. O marfinense antecipou a defesa e deu um leve toque. Reina se enrolou todo e a bola morreu no fundo das redes. O gol mudou o roteiro da partida e da classificação para às semifinais da Champions League.
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Desta vez foi o Liverpool que se “perdeu”. Os Reds não tinham a mesma paciência para trocar passes e chegar ao campo adversário com qualidade. Sorte do Chelsea, que conseguiu aproveitar o momento instável do adversário e ainda “quase” liquidar a fatura.
Cinco minutos mais tarde veio o segundo gol dos Blues. Carragher fez falta frontal em Drogba. De muito longe, o brasileiro Alex foi para a cobrança e soltou um “míssil” que morreu no fundo do gol dos Reds. Tudo igual em Stamford Bridge.
Se o Liverpool estava atordoado com o primeiro gol, o segundo deixou os visitantes totalmente desestabilizados. E foi a vez de Rafa Benítez tentar mudar o cenário. Aos 24 minutos o treinador espanhol colocou meio-campista Riera no lugar de Mascherano.
A mudança não era só por peças, mas sim tática. Lucas, que estava posicionado como um meia-central em um 4-3-3 que variava para um 4-2-3-1, se alinhou na primeira linha de meio-campo ao lado de Xabi Alonso. Agora os Reds tinham uma linha de três com Riera, Benayoun e Kuyt, com Fernando Torres como referência.
A quase “redenção” e o despertar de Frank Lampard
A troca de Benítez não trouxe impacto de imediato. O Liverpool ainda tinha muitas dificuldades de criar e incomodar o Chelsea na defesa. Além disso, a equipe de Anfiled começava a se desorganizar e deixar espaços para eventuais contragolpes.
E o que já estava ruim, acabou piorando. Aos 30 minutos, após erro na saída de bola, Drogba invadiu a área pelo lado esquerdo e cruzou rasteiro. A bola sobrou limpa para Frank Lampard apenas empurrar para o gol. Virada dos Blues e “incêndio” no Stamford Bridge. Mesmo não sendo superior tecnicamente durante toda a partida, o Chelsea não só mudou a postura, como mudou o jogo.
O Liverpool já não tinha mais forças. Parecia entregue. Esgotado. Aos 35, N’Gog entrou no lugar de Fernando Torres, que teve pouquíssimas chances na partida. Mas, dois minutos após a substituição, iniciava o quase “milagre”.
Totalmente desorganizado e sem esperanças, os Reds se lançaram ao ataque. E a insistência deu certo. O brasileiro Lucas Leiva acertou chute forte da entrada da área. A bola resvalou em Essien e morreu no cantinho de Cech. Tudo igual.
E mais uma vez o torcedor do Chelsea teve um susto. Aos 37 minutos o Liverpool virou a partida em Stamford Bridge de forma surpreendente. Riera fez boa jogada pela esquerda e cruzou na pequena área. Kuyt atacou o espaço, se antecipou e testou firme para marcar o quarto gol dos visitantes. Gol da virada. Uma noite iluminada de Champions League.
O fim do “milagre”
Rafa Benítez mexeu imediatamente para aumentar a ofensividade da equipe. Colocou Ryan Babel no lugar de Arbeloa. A alteração fez com que o time mudasse taticamente mais uma vez e o Liverpool foi para o tudo ou nada. No entanto, a “surpresa” do primeiro tempo foi decisiva mais uma vez.
Aos 42 minutos, Anelka invadiu a área pelo lado direito e deu um ótimo passe para trás. Lampard acertou belo chute colocado, a bola bateu nas duas traves e entrou no cantinho.
4 a 4 e um verdadeiro espetáculo em Londres. Uma noite mágica, que terminou com a classificação do Chelsea para mais uma semifinal de Champions League. Mais um duelo entre ingleses que ficará marcado na história.
Ficha técnica de Chelsea 4×4 Liverpool
Chelsea: Petr Cech; Ivanovic, Alex, Ricardo Carvalho e Ashley Cole; Essien, Ballack e Lampard; Kalou (Anelka), Drogba (Di Santo) e Malouda. Técnico: Guus Hiddink.
Liverpool: Reina; Arbeloa (Babel), Skrtel, Carragher e Fábio Aurélio; Mascherano (Riera), Xabi Alonso, Lucas Leiva, Benayoun e Kuyt; Fernando Torres (N’Gog). Técnico: Rafa Benítez.