Você está entendendo esse formato novo da Liga dos Campeões? Nem eu. Mas tem uma coisa que fica fácil para todo mundo entender: a consequência da mudança – vou além, a intenção da mudança – foi simples. Ter mais jogos. Antes, na fase de grupos, tinham seis rodadas até o mata-mata. Agora tem oito. As autoridades ficam enchendo o calendário, numa busca permanente para fazer caber três litros numa garrafa feita para dois.
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Qualquer um que acompanha a loucura do calendário brasileiro sabe bem onde isso vai dar — lesões e mais lesões. E, também, a grande probabilidade de acabar piorando a qualidade do espetáculo.
O Galo de Gabriel Milito fornece um bom exemplo. O técnico argentino gosta de montar os seus times com uma abordagem ofensiva, pensando na posse da bola e superando o rival perto do gol do adversário. Os últimos meses têm sido uma aula dura, e Milito confessa que, para levar o Atlético para as semifinais da Copa do Brasil e as quartas da Libertadores, o lado sonhador teve que ceder espaço para uma mentalidade mais pragmática, frisando mais a defesa.
O futebol, claro, é um esporte de poucos gols. Defender, portanto, é bem mais fácil que atacar. Sob pressão de cansaço físico e mental, uma resposta lógica é arriscar menos, se proteger mais.
O oposto de tudo isso é o início da temporada de Erling Haaland com o Manchester City
Em cada jogo, o norueguês está dando uma aula na arte de ser o centroavante. Verdade, contra o Brentford no sábado ele só conseguiu marcar duas vezes, e não os três gols de praxe. Mas que gols! E sob pressão, porque o City levou um gol bem cedo e teve que virar o jogo contra um adversário organizado e obstinado.
No primeiro gol, a inteligência da movimentação foi sublime, se deslocando ao lado direito para ter um ângulo para o chute antes mesmo que a bola chegasse em De Bruyne, que deu a assistência. Como falam os antigos, os primeiros cinco metros estão na cabeça.
No segundo gol, Haaland simplesmente trata Pinnock, um zagueiro de muita experiência, como um juvenil, ganhando o espaço, correndo em velocidade e vencendo o goleiro com uma cavadinha sutil.
Quatro rodadas da Premier League e Haaland já tem nove gols. Ninguém tem mais que três. Trata-se de um início extraordinário, e Haaland tem a explicação pronta — a palavra mágica, férias.
Com a Noruega não se classificando para a Eurocopa, Haaland desfrutou de um verão europeu para se desligar do futebol e recarregar o corpo e a mente. Voltou fresco, empolgado, e agora todo mundo (com exceção óbvia dos adversários) tem o privilégio de assistir a um jogador magnífico operando bem perto da plenitude de seus poderes.
A gente deveria curtir enquanto dá, porque circunstâncias tão favoráveis vão ficar cada vez mais raras. Os jogadores do City estão olhando apavorados para o calendário que têm na frente:
Uma temporada desgastante na liga mais competitiva do mundo, um aumento de jogos na Liga dos Campeões e — cereja podre no bolo — antes da próxima temporada, o novo Mundial de Clubes, disputado, para piorar as coisas, no calor de verão nos Estados Unidos. E, no fim da próxima temporada, uma Copa do Mundo expandida disputada neste mesmo calor.
Jogos extras, campeonatos novos… se fica adicionando coisas sem tirar nada. Não tem nem músculos nem mentes que aguentem. Não dá para sustentar, pois a qualidade do espetáculo inevitavelmente vai sofrer os efeitos de tanto excesso. É só prestar atenção para Erling Haaland no início desta temporada. O atacante do City se transformou numa propaganda ambulante para o valor das férias.