Quais ingleses jogariam a Champions League caso não houvesse punição por Heysel?

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29 de maio de 1985 é uma data histórica no futebol. Nesse dia, foi realizada a final da Champions League disputada entre Liverpool e Juventus. Entretanto, a peleja não é relembrada constantemente por acontecimentos dentro de campo, mas sim por uma tragédia. O palco da tragédia foi o estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica, que recebeu um público de 59 mil pessoas – cerca de 11 mil a menos do que a sua capacidade total.

Porém, mesmo recebendo um número de torcedores abaixo de sua totalidade, o local apresentava condições precárias para receber uma partida desse nível.

E durante os anos 1980, os hooligans viviam o seu auge. Portanto, confusões em estádios eram bem comuns – especialmente em estádios precários, como o de Heysel. Resultado: mais de 600 feridos e 39 mortos – em sua maioria italianos, que foram espremidos nas grades das arquibancadas.

Com isso, os clubes ingleses foram punidos e ficaram fora todas as competições europeias por cinco temporadas – o Liverpool ficou seis, já que foi o clube “envolvido” na confusão.

A partir disso, a PL Brasil responde quais clubes teriam jogado a Champions caso não houvesse a punição, comenta os elencos dos respectivos times e tenta fazer uma projeção de como seria o desempenho dos ingleses na competição de clubes mais importante do mundo.

É importante destacar que, naquela época, só o campeão inglês teria direito a jogar a Liga dos Campeões.

Temporada 1985-1986: Everton

A temporada anterior é considerada até hoje por muitos como a melhor temporada do Everton em sua história. O time foi dominante na Premier League e conseguiu o título tendo conquistado 90 pontos: 13 a mais do que o vice-líder e rival Liverpool.

Assim como o Liverpool vivia na década de 1980 sua melhor fase de sempre, o Everton seguia lado a lado com o time de sua cidade, tendo montado bons elencos e chegando com força em todas as competições.

O time também venceu a Taça dos Vencedores das Taças naquele ano, batendo o Rapid Vienna na final por 3 a 1. Os Toffees tiveram a oportunidade de fazer a dobradinha, chegando à final da FA Cup contra o Manchester United, mas saiu derrotado por 1 a 0.

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O lado azul de Liverpool chegava assim com muita moral para a temporada 1985/86, tendo mantido a base da temporada passada, com jogadores como o arqueiro Neville Southall, Gary Lineker e o artilheiro da temporada passada Graeme Sharp.

O treinador Howard Kendall, que foi o melhor treinador da Inglaterra na temporada passada, também foi mantido no Goodison Park, tendo a disposição um elenco em que ele aperfeiçoou e já conhecia muito bem. As duas vezes em que o Everton foi campeão inglês com o Liverpool vice

A competição europeia daquela jornada foi vencida pelo clube romeno Steaua Bucareste, que bateu o Barcelona na final em grande atuação de seu goleiro.

Everton 1986 Getty Images Collection Hulton Archive
(Credit: Getty Images Collection Hulton Archive)
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Imaginando um cenário onde o Everton disputasse a competição, o time teria condições bem favoráveis para chegar longe. A Inglaterra dominava a nível europeu na década de 1980.

Os times da terra da rainha venceram quatro de seis taças antes da punição. Além disso, o Everton tinha um time bem entrosado e que dispunha de peças interessantes em todas as posições.

Time-base do Everton que provavelmente disputaria a competição caso não houvesse por Heysel: Neville Southall; Gary Stevens, Kevin Ratcliffe, Derek Mountfield, Pat Van Den Hauwe; Trevor Steven, Alan Harper, Paul Bracewell, Kevin Sheedy; Gary Lineker, Graeme Sharp. Técnico: Howard Kendall

Palpite: Semifinal

Temporada 1986-1987: Liverpool

O Liverpool chegaria para esta temporada com muita moral, tendo em vista que conseguiu fazer a dobradinha na temporada anterior – ganhou a Copa da Inglaterra e a Liga Inglesa – após começar a época muito mal.

É importante destacar que, durante os anos 1980, o Liverpool vivia o período mais vencedor de sua história. Então, naturalmente a cobrança por desempenho e resultado era grande – assim como as expectativas.

Os Reds eram comandados pelo atacante e também técnico Kenny Dalglish, que já estava à frente do clube desde 1985, quando substituiu Joe Fagan.

O Liverpool não conseguiu vencer nenhum título naquela temporada, foi vice da Liga Inglesa para o Everton ficando nove pontos atrás do rival; caiu ainda na primeira fase da Copa da Inglaterra diante do modesto Luton Town; e perdeu a final da Copa da Liga para o Arsenal.

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Wark Liverpool 1987 Getty Images Collection Hulton Archive
(Credit: Getty Images Collection Hulton Archive)

O elenco dos Reds contava com bons jogadores e que já estavam no clube há alguns anos. O goleiro Bruce Grobbelar, os meias Ronnie Whelan e Jan Molby, e os atacantes Ian Rush e Kenny Dalglish eram alguns nomes daquele time.

É até complicado tentar fazer uma projeção, já que o caminho do Liverpool na Champions iria depender muito do seu chaveamento.

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Isso porque o clube português enfrentou os seguintes times: Rabat Ajax, Vitkovice, Brondy, Dinamo de Kiev e foi campeão diante do Bayern de Munique. Já o caminho dos alemães até a decisão teve: PSV, Austria Viena, Anderlecht e Real Madrid.

Na época, o Liverpool era uma equipe bem experiente e acostumada a ganhar, mas na temporada 1986-1987 não conseguiu render o esperado daquele time – que tinha a expectativa muito alta.

A equipe oscilou em alguns momentos e só retomou os rumos a partir de janeiro. Como a Champions começava em setembro, provavelmente o Liverpool também não rendesse o esperado. Claro, apenas suposições.

Time base do Liverpool que provavelmente jogaria a competição caso não houvesse punição por Heysel: Grobbelar; Gillespie, Hansen, Spackman e Venison; Whelan, Johnston, Molby e McMahon; Walsh e Rush. Técnico: Kenny Dalglish

Palpite: Quartas de final

Temporada 1987-1988: Everton

Após ser vice-campeão para o seu maior rival Liverpool na temporada 1985/86, o Everton voltou a ganhar o Campeonato Inglês em 1986/87, fato que o credenciava a disputar a competição continental da temporada seguinte, se não houvesse punição.

No entanto, o clube já começava a passar por uma reformulação do elenco que havia sido estabelecido com sucesso naquela década. O treinador Howard Kendall já não estava mais no clube, assim como Gary Lineker. A espinha dorsal do time aos poucos iria se perdendo e isso se refletiu nas competições daquela época.

Os Toffees terminaram o Campeonato Inglês 1987/88 numa modesta 4ª colocação, tendo conquistado 70 pontos: 20 a menos que o campeão Liverpool. Derrotas para o rival e para o Arsenal nas Copas acabaram de vez com a possibilidade do time conquistar algo naquela jornada.

É bem perceptível que, caso disputasse a competição europeia naquela temporada, o Everton chegaria mais enfraquecido do que na temporada 1985/86, que foi o auge daquele grupo. E quando fazemos uma análise dos time que brigavam pelo título europeu em 1987/88, a lógica é pensar numa campanha mais modesta do time azul de Liverpool.

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O campeão daquele ano foi o PSV, que conquistou o seu primeiro título. Os holandeses bateram Galatasaray, Rapid Viena, Bordeaux e Real Madrid antes de chegar a final contra o Benfica.

Já o clube português eliminou Partizani Tirana, AGF, Anderlecht e Steaua Bucareste, que havia sido campeão duas temporadas antes. Ambos os clubes enfrentaram adversários difíceis e experientes na competição e que exigiram o máximo em quase todas as partidas.

Na final, uma disputa de pênaltis garantiu o título ao time de Ronald Koeman, o que mostrou a dificuldade e equilíbrio que as equipes tiveram em toda a competição. Os holandeses conquistaram seu primeiro e único título na história.

Apesar de ainda ter o excelente arqueiro Neville Southall e o goleador Graeme Sharp, o Everton já não contava com aquele poder coletivo – que fez falta na disputa do título inglês. Mesmo que tivesse conquistado a liga na temporada passada, não seria um absurdo ver o clube caindo antes das semifinais.

Time-base do Everton que provavelmente disputaria a competição caso não houvesse punição por Heysel: Neville Southall; Neil Ponton, Dave Watson, Gary Stevens, Pat Van den Hauwe; Ian Snodin, Alan Harper, Trevor Steven, Peter Reid; Adrian Heath, Graeme Sharp. Técnico: Colin Harvey

Palpite: Quartas de final

Temporada 1988-1989: Liverpool

O Liverpool chegaria para esta disputa da Champions como o atual campeão inglês, onde ergueu o título com 90 pontos e apenas duas derrotas. Era um time muito forte e que certamente chegaria como um dos favoritos.

Assim como em 1986-1987, os Reds eram comandados por Kenny Dalglish, que havia implementado na temporada 1987-1988 um estilo de jogo mais vertical. Sempre com passes para frente e deixando de lado o estilo de posse, que estava enraizado no time desde 1973,  quando Bill Shankly deu à equipe esta cara.

Para a disputa da Champions, o Liverpool apostava no sucesso de um dos melhores trios de ataque de sua história: John Barnes, Peter Beardsley e John Aldridge. Os três reuniam técnica, tática, faro de gol e muita, mas muita velocidade – talvez isso explique o motivo de Dalglish ter adotado um novo estilo de jogo.

Na temporada 1988/1989, o Liverpool começou bem irregular e só foi embalar de vez em janeiro. A arrancada começou no dia 03 de janeiro, diante do Aston Villa e deu ao Liverpool de ser campeão contra o Arsenal na última rodada caso perdesse por até um gol de diferença. Porém, os Reds acabaram derrotados pelos Gunners por 2 a 0 em um jogo histórico.

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Aldridge Liverpool Russell Cheyne Collection Getty Images Sport
(Credit Russell Cheyne Collection Getty Images Sport)

Na Copa da Liga, foi eliminado na quarta fase pelo West Ham; enquanto na Copa da Inglaterra, derrotou o Everton na final por 3 a 2. Esta temporada também é marcada pela tragédia de Hillsborough, que deixou 96 torcedores do Liverpool mortos e mais de 700 feridos. Para saber mais sobre o desastre, clique aqui.

O campeão daquela edição da Liga dos Campeões foi o Milan e seria um desafio bem difícil para o Liverpool tirar o título da equipe de Gullit, Van Basten e companhia. Os italianos eliminaram Vitosha, Estrela Vermelha, Werder Bremen, o poderoso Real Madrid e foram campeões diante do Steaua Bucareste; enquanto o clube da Romênia derrotou Sparta Praga, Spartak Moscou, Göteborg, Galatasaray e perdeu a decisão diante dos Rossoneros.

Tentando fazer uma projeção do desempenho do Liverpool, os Reds eram uma equipe madura, competitiva e que sabia vencer. Porém, como começou a temporada oscilando bastante, poderia ter caído antes do esperado. Caso não enfrentasse Milan ou Real Madrid até a final, a probabilidade de chegar na decisão seria gigantesca.

Time base que provavelmente disputaria a Champions caso não houvesse punição por Heysel: Grobbelaar; Nicol, Ablett, Hansen e Staunton; Whelan, McMahon, Barnes e Houghton; Aldridge e Beardsley. Técnico: Kenny Dalglish

Palpite: Final

Temporada 1989-1990: Arsenal

A temporada 1988/89 reservou um campeão que no início era tido como improvável mas que cresceu ao longo do torneio e superou os seus limites. O Arsenal venceu a liga depois de 18 anos em uma disputa pelo título que foi a mais acirrada de todos os tempos.

Os Gunners encerraram com 76 pontos, que foi a mesma quantidade obtida pelo Liverpool. No entanto o título foi decidido no critério dos gols feitos, com o time de Londres vencendo o último jogo contra os Reds fora de casa.

O Arsenal contava com um esquadrão bastante determinado, com jogadores como Lee Dixon, Paul Merson, Alan Smith e no comando técnico ninguém menos do que George Graham: considerado um dos maiores treinadores do clube.

Na temporada seguinte o time continuou com os seus principais jogadores mas não conseguiu manter o nível elevado que foi obtido na jornada passada. O clube terminou na 4ª colocação da liga tendo somado 62 pontos. Nas copas, foi eliminado em ambas na quarta rodada.

O ataque, que havia lhe dado o título na edição anterior, caiu drasticamente de produção. Alan Smith, que marcou 23 gols na campanha do título, obteve apenas 10 na temporada seguinte.

Fazendo uma projeção da Champions League naquela temporada, foi uma competição muito mais “cascuda”, com os principais times do continente mostrando o seu valor e brigando pela tão sonhada orelhuda.

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O Milan sagrou-se campeão naquela edição e teve confrontos extremamente difíceis. Os italianos eliminaram HJK Helsinki, Real Madrid, KV Mechelen e Bayern de Munique antes de enfrentar o Benfica na finalíssima.

Os portugueses enfrentaram times mais acessíveis como Derry City, Budapeste, Dnipro e Olympique de Marseille. Foram três goleadas irrepreensíveis até encontrar mais dificuldade contra os franceses, tendo avançado pelo critério do gol fora.

Tendo chaves bastante desequilibradas, talvez o Arsenal pudesse fazer uma boa campanha em solo europeu. Os Gunners não seriam os favoritos. O domínio dos ingleses na competição já não era tão gritante e o clube caiu muito de rendimento de uma temporada para outra.

É justo dizer que possivelmente o time de Londres teria uma participação honrosa, mas dificilmente seria candidato a passar das quartas.

Time base que provavelmente disputaria a Champions caso não houvesse punição por Heysel: John Lukic; Nigel Winterburn, Tony Adams, David O’Leary, Lee Dixon; Michael Thomas, Kevin Richardson, David Rocastle, Paul Merson; Alan Smith, Perry Groves.

Palpite: Quartas de final

Temporada 1990-1991: Liverpool

O Liverpool chegava para a disputa dessa Champions após ganhar o seu 18º e até então último título inglês, onde conquistou com autoridade e sendo o melhor time desde o começo.

Kenny Dalglish continuava sendo o técnico e os Reds contavam com a ótima fase do ídolo Ian Rush, que havia retornado ao clube após uma passagem na Juventus. Além dele, John Barnes, Peter Beardsley e Ronnie Whelan eram destaques do elenco. O atacante John Aldridge tinha deixado o Liverpool para jogar na Real Sociedad.

Na temporada 1990-1991, o Liverpool começou muito bem e disputando ponto a ponto a liderança do campeonato com o Arsenal, porém, em 22 de fevereiro de 1991, Kenny Dalglish surpreendeu a todos e pediu demissão do clube.

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Grobbelaar Liverpool Champions Ben Radford Collection Getty Images Sport
(Credit Ben Radford Collection Getty Images Sport)

Aquela atitude demonstrava uma espécie de desgaste naquela equipe, que parecia ter atingido seu ápice técnico e tático após ter vencido tanto nos últimos anos. Foi um dos erros do escocês não ter renovado o time como deveria.

Nessa temporada, o Liverpool não ganhou nenhum título. O ídolo e ex-jogador dos Reds assumiu e pouco pôde fazer. Na liga inglesa, foi vice ficando nove pontos atrás do Arsenal; já na Copa da Inglaterra foi eliminado pelo Everton nas oitavas de final; enquanto na Copa da Liga caiu diante do Manchester United

O campeão da edição 1990-1991 da Champions foi o Estrela Vermelha, que eliminou Grasshopper, Rangers, Dynamo Dresden, Bayern de Munique e foi campeão diante do Olympique de Marseille; já os franceses que acabaram ficando com o vice derrotaram Dinamo Tirana, Lech Poznán, Milan, Spartak Moscou e sucumbiram diante dos sérvios.

Tentando fazer uma projeção, era um Liverpool que provavelmente começaria muito bem a Champions, mas que inevitavelmente iria cair de rendimento com a troca de técnico e com o limite que aquele elenco parecia ter chegado.

Time base que provavelmente disputaria a Champions caso não houvesse punição por Heysel: Grobbelaar; Nicol, Gillespie, Hysén e Staunton; Whelan, McMahon, Barnes e Houghton; Ian Rush e Beardsley. Técnico: Kenny Dalglish e Graeme Souness.

Palpite: Quartas de final

Lucas Holanda
Lucas Holanda

Jornalista em formação, olindense e apaixonado por futebol.