O órgão que rege a legislação do futebol, o International Football Association Board (Ifab), deu um passo que pode promover uma mudança significativa no esporte, principalmente no que diz respeito à arbitragem: o futebol profissional pode ter “cantinhos do castigo” sendo testados em competições na Inglaterra
Foi recomendando pelo Ifab na última terça-feira (28) que “afastamentos temporários” sejam testados no profissional, depois experiências com sucesso em competições de base. A ideia seria semelhante a de um “cartão laranja”, mesmo sem a existência de um: o jogador que cometer a infração ou tiver mau comportamento ficará de fora do jogo, mas não será expulso definitivamente da partida.
De onde vem a ideia da Ifab?
Mark Bullingham, diretor-executivo da Associação de Futebol da Inglaterra (FA), falou sobre a implementação da ideia, que tem inspiração em regras do rúgbi e do hóquei no gelo.
— As áreas que estamos analisando são a discordância e as faltas táticas. Há uma verdadeira frustração dos torcedores quando veem um contra-ataque arruinado por isso e (se perguntam) se um cartão amarelo é suficiente – afirmou.
A FA, juntamente com a Fifa e as associações de futebol da Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales, compõem o Ifab. Os primeiros testes ocorreram em competições de base no Reino Unido. Nos testes realizados até agora, uma penalização é indicada pelo árbitro mostrando um cartão amarelo e, em seguida, apontando para as laterais com ambos os dedos indicadores, banindo o jogador infrator para as laterais por 10 minutos.
Por outro lado, não haveria local específico em que o jogador ficaria delimitado, como uma área quadrada de penalização, ao contrário de outros esportes. Na prática, o “cantinho do castigo” não existiria.
Aplicação na Premier League?
Os afastamentos temporários foram introduzidas no nível de base na Inglaterra durante a temporada 2019/20, mas o ex-árbitro e membro da Ifab, Pierluigi Collina, afirmou que elas poderiam agora ser implementadas “no nível profissional, até mesmo no alto nível profissional” para punir a discordância e as faltas táticas.
A Ifab afirmou que trabalhará no desenvolvimento de protocolos de teste e, embora não tenha sido estabelecido um prazo, um sistema poderia estar em vigor para a temporada 2024-25, com Collina dizendo que a esperança era implementá-lo “em breve”.
O campeonato mais apropriado para os testes ainda está em discussão, mas as possibilidades iniciais são ligadas à FA Cup ou à Super Liga de Futebol Feminino (WSL).
Ajuda à arbitragem e… revolução tática?
Essa forma de penalização poderia interromper ou pelo menos reduzir a discordância e o abuso dos árbitros que se tornaram praticamente automáticos para as decisões mais significativas do futebol.
Elas também poderiam preencher a lacuna entre uma infração não grave o suficiente para um cartão vermelho, mas que merece uma punição maior do que um amarelo; o famoso “cartão laranja”.
Isso também poderia levar a inovações táticas e maior criatividade nas substituições. Se o seu zagueiro for penalizado, isso exigiria uma reorganização e mudança de planos — às vezes, até uma substituição. Mas e depois, quando ele voltar?
Diversos cenários podem ocorrer dentro de campo com a expulsão momentânea de algum jogador. O adversário iria completamente para o ataque para aproveitar os poucos minutos com um jogador a mais? O que isso acarretaria na postura dos dois times?
Os possíveis problemas
Pode ser que, no futebol profissional, isso interrompa ainda mais vezes o jogo. Algumas penalizações por jogo provavelmente acrescentarão mais alguns minutos a um evento teoricamente de 90 minutos que estará se aproximando de duas horas de tempo de jogo em breve.
Essa interrupção pode ter consequências além de apenas irritar os observadores. Existe a possibilidade de que possa levar a lesões. O técnico do Tottenham, Ange Postecoglou, sugeriu recentemente que os longos intervalos do VAR podem ter contribuído para a lesão no tendão de Micky van de Ven, por exemplo.
Além disso, tirar um atleta de alto nível de um jogo por 10 minutos e permitir que seus músculos esfriem — não importa quantos exercícios eles façam durante o período de reclusão — e depois jogá-los de volta à ação não parece positivo em termos de ativação muscular. O lado positivo disso é que eles terão um descanso e podem voltar revigorados.