Canedo: por que o ‘pacote Neymar’ ficou caro demais até para a Premier League

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Contratação de Neymar pelo Al-Hilal, da Arábia Saudita, foi oficializada nesta terça-feira (15); brasileiro terá Jorge Jesus como treinador e Malcom, ex-Zenit e Corinthians, como companheiro


A janela de transferências começou com especulações sobre o futuro do Neymar. Desta vez, ao contrário dos outros anos, o Paris Saint-Germain estaria disposto a aceitar uma oferta que considerasse aceitável pelo craque brasileiro. O problema é que isso gerou a maldita expectativa. Nos enchemos de esperança em vê-lo na Premier League para, no fim das contas, ficarmos a ver navios – ou melhor, cruzeiros.

Neymar foi comprado pelo Al Hilal, da Arábia Saudita, o único clube que chegou no número desejado pelo PSG, com quem o camisa 10 tinha contrato até 2027. Na verdade, o único que de fato formalizou uma proposta. Ele assinou por duas temporadas.

Para os PSG, o negócio foi um presente do céu.

O clube recebeu aproximadamente 90 milhões de euros ao mesmo tempo em que se livrou de um salário na casa dos 40 milhões de euros anuais. E ainda satisfez a vontade de Mbappé, com quem busca renovar o contrato de qualquer maneira.

Para Neymar, um choque de realidade.

Não me entendam mal: ele é CRAQUE, em caixa alta, o maior jogador brasileiro de sua geração, e seguramente um dos melhores que eu vi jogar. Mas escolhas erradas na sua carreira e um pouco de azar o arrastaram para este cenário.

Neymar tem 31 anos, ou seja, já partimos de um número em que clubes olham com certa ressalva ao pensar num grande investimento. Além disso, ele mostrou em todos os anos de PSG enorme dificuldade para estar em campo.

As lesões, muitas de contato, o tiraram de fases decisivas de Champions League e influenciaram diretamente em eliminações precoces. Ele jogou apenas 54% das partidas possíveis desde que foi contratado, em 2017. No Barcelona, esse número fora de 77,5%.

Aliás, ele deixou o PSG com menos jogos e minutos em relação às quatro temporadas no Barça. Com a diferença que esteve na França por dois anos a mais:

Números de Neymar no Barcelona e PSG. Crédito: Victor Canedo

Todo esse pacote foi suficiente para convencer os clubes ingleses a investir em outros nomes.

O “pacote Neymar” deixou de ser uma grande oportunidade de mercado para se transformar numa operação de alto risco.

Segundo reportagem do jornalista Miguel Delaney, do “Independent”, Manchester United, Bayern, Real Madrid, Chelsea e Manchester City declinaram o negócio. Se fosse de graça, e ganhando pouco, é claro que os principais clubes do mundo sairiam no tapa por Neymar. Mas a realidade não é essa.

O que se viu, na verdade, foram Chelsea e Arsenal quebrarem recorde na mesma janela de transferências mais cara da história da Premier League. Estamos falando de mais ou menos 115 milhões de euros por Moisés Caicedo e Declan Rice, dois volantes.

O Bayern também gastou 100 milhões em Harry Kane, que havia acabado de entrar em seu último ano de contrato com o Tottenham. O inglês Bellingham foi para o Real Madrid por 90 milhões, o mesmo preço pago pelo Manchester City para comprar o zagueiro Gvardiol. 

Neymar é o novo reforço do futebol da Arábia Saudita - Foto: Icon Sports
Neymar é o novo reforço do futebol da Arábia Saudita – Foto: Icon Sports

Até Manchester United e Arsenal fizeram graça ao investirem 75 milhões no dinamarquês Hojlund e no alemão Kai Havertz, respectivamente, enquanto o Liverpool fincou 70 milhões no meia Szoboszlai.

Ou seja: o dinheiro sempre esteve na mesa, ele só foi direcionado para outras prioridades.

Neymar terá 33 anos em 2025. Ao que tudo indica, será um agente livre no mercado e, se estiver bem física e tecnicamente, poderia fazer a temporada da Copa do Mundo na Premier League. Mas, até lá, nos resta constatar que ele ficou caro demais.

Victor Canedo
Victor Canedo

Victor Canedo trabalhou por 12 anos como repórter de futebol internacional no Grupo Globo. E até hoje mantém o hábito de passar as manhãs e tardes dos fins de semana ouvindo a voz de Paulo Andrade. Para equilibrar a balança dos colunistas deste site, é torcedor do Arsenal desde Titi Henry.