Todos que acompanharam minimamente o futebol mundial entre 19 dezembro de 2022 e 20 agosto de 2023 sabem que Messi talvez não deveria nem estar entre os 12 finalistas aptos a receber voto. Mas aconteceu: ele foi eleito, fato que causou um enorme constrangimento.
Primeiro porque o vencedor do prêmio não se deu ao trabalho de estar lá para recebê-lo. É como se Messi tivesse sido convidado para sua grande festa, mas ficou com vergonha de ouvir os parabéns sem ser o seu aniversário. Ele, definitivamente, não precisava disso. Não à toa, ficou em Miami.
Agora precisamos entender por que isso aconteceu. Meu primeiro alvo é a Fifa, que resolveu mudar o período de avaliação por conta da Copa do Mundo do Catar. A temporada 2021/22 ganhou mais seis meses, o que notoriamente prejudicou Karim Benzema. Messi foi um justo vencedor por conta da Copa, mas o craque francês não teve nem como se defender, uma vez que se lesionou às vésperas do Mundial.
Para a eleição seguinte, a Fifa descartou os seis primeiros meses da temporada 2022/23, incluindo a Copa do Mundo. O grande problema é que ela não conseguiu se comunicar com clareza. E eu prefiro acreditar que o Messi recebeu essa enorme quantidade de votos no modo automático, com capitães e técnicos das seleções, jornalistas e fãs considerando o título da Argentina.
Ao menos o capitão de Andorra já confirmou a minha tese…
Na pontuação final, Messi e Haaland ficaram empatados, mas o argentino levou no critério de desempate (votos dos capitães). Eles são o meu segundo alvo: uma rápida análise dos últimos anos é suficiente para perceber que não há lá muitos critérios técnicos.
Dezenas de jogadores votam em compatriotas ou companheiros de clube porque o mais importante é evitar conflitos. E é de se duvidar que eles realmente assistiram ao mínimo necessário.
Minha terceira bronca é com o júri, o que a Fifa chama de conselho técnico, formado por ex-jogadores (incluindo Kaká). Eles definiram a pré-lista dos prêmios masculinos, e para a última eleição consideraram alguns nomes absurdos como Declan Rice, Brozovic, Julián Álvarez e Messi.
São eles:
- Kaká (Brasil)
- Petr Cech (República Tcheca)
- Didier Drogba (Costa do Marfim)
- Bret Emerton (Austrália)
- Rio Ferdinand (Inglaterra)
- Asamoah Gyan (Gana)
- Mario Kempes (Argentina)
- Alex Lalas (EUA)
- Jon Obi Mikel (Nigéria)
- Park Ji-Sung (Coreia do Sul)
- Ivan Vicelich (Nova Zelândia)
Para salvar a reputação do prêmio (ainda mais em comparação com a tradicional Bola de Ouro da France Football), a Fifa deveria pelo menos realizar três mudanças estruturais:
- Reduzir a pré-lista de finalistas de 12 nomes para 6. Assim, os votos ficariam menos distorcidos (Declan Rice não teria recebido voto para melhor do mundo do capitão de Montserrat, por exemplo, e nem Roberto Martínez teria escolhido Brozovic como número 1).
- Mudar o sistema de votos. Torcedores realmente precisam ter 25% de peso na eleição final? Capitães e técnicos vão poder seguir votando em compatriotas ou seus comandados? Que tal um número consideravelmente menor de eleitores, porém muito mais criteriosos?
- A janela para a votação precisa acontecer imediatamente após a temporada. São raras as pessoas que se dão ao trabalho de realizar uma pesquisa para não confiar cegamente na memória. Em 2024, ao fim da Eurocopa e Copa América, o conselho já deveria escolher os 6 nomes, e a Fifa dar 1 mês para os eleitores. A premiação, assim, poderia acontecer em agosto, no máximo setembro, e não em janeiro, causando um distanciamento ainda maior.
Por mais que o futebol seja um esporte coletivo, vencido por equipes, os nomes mais populares são um dos responsáveis por atraírem mais consumidores. E é natural que a premiação individual tenha esse cartaz e gere tantas discussões. Só não precisa ser desse jeito.
Porque aí eu confio mais na enquete que eu fizer na minha rede social.