Em vez de contestarem, que tal se renderem? Lionel Messi está nos últimos suspiros de uma das mais brilhantes carreiras que testemunharemos. O sentimento de que está realmente acabando me consome a cada movimento. Primeiro ele foi para os Estados Unidos, agora como consequência ficará diversos meses sem atuar. Direito dele, claro. Mas nem por isso tenho que ficar satisfeito.
Nos resta, então, olhar para trás e agradecer. Messi não apenas mereceu todas as suas oito Bolas de Ouro, como provavelmente teria vencido mais se o critério fosse “quem jogou mais futebol”. Essa é uma tese referendada por alguns dos personagens que vivenciaram essa era, como Pep Guardiola, Filipe Luís, entre outros.
— Quem diz que ele não merece ou não está vendo o que eu vejo ou eu não sei nada de futebol – disse o lateral do Flamengo em 2019.
Filipe, como sabemos, sofreu constantemente com Messi nos enfrentamentos entre Barcelona e Atlético de Madrid na última década. Ele tem propriedade para falar. E eu, que acompanhei todos os passos da sua carreira (sendo repórter de futebol internacional por 12 anos), tento chegar perto, na humildade…
Podemos falar de cada um dos anos sem constrangimento. Por exemplo: insistem em dizer que 2010 deveria ter sido de Iniesta ou Sneijder. O critério, claro, é a soma dos títulos mais a participação na Copa do Mundo.
O ponto em questão é que Sneijder esteve atrás de Diego Milito em importância na Inter. Sua Copa foi de alto nível, mas não terminou em título. Ele fez 13 gols e deu 9 assistências no ano inteiro.
Com Xavi e Iniesta a Copa do Mundo precisaria ser fenomenal para que a diferença criada dentro do próprio Barcelona fosse aniquilada. Talvez nem todos se lembrem, mas Messi em 2010 já estava no modo insano como falso 9. Fez 60 gols e deu 17 assistências, fora o apavoro que criava a cada partida.
Recomendo uma visita ao YouTube para relembrarem o jogo contra o Real Zaragoza, ou os quatro gols contra o Arsenal nas quartas de final da Liga dos Campeões, o hat-trick no Sevilla, as duas assistências contra o Real Madrid…
Daí vamos para 2019 (espero que não sejam loucos de pedir 2015 para Neymar). Messi já não tinha o mesmo nível de companheiros ao redor, mas fez uma das melhores temporadas da carreira, carregando o time para a semifinal de Liga dos Campeões (aquela em que o Liverpool virou em Anfield) e ganhando o Campeonato Espanhol, muito por conta dele.
Novamente, se estamos falando de uma das melhores temporadas da carreira do Messi, essa discussão não deveria existir, ainda mais em se tratando que o principal competir foi o zagueiro Virgil van Dijk. Messi fez 50 gols e deu 18 assistências em 58 jogos. Fora o apavoro…
Aconselharia, dessa vez, que revessem os jogos contra Betis, Lyon, Manchester United, Liverpool…
Chegamos em 2021. O prêmio passou para a temporada completa (2020/21), e foi uma votação apertada com Lewandowski, que havia vencido no ano anterior quase que incontestavelmente.
Não só foi a despedida de Messi no Barcelona, em grande nível, como também o seu primeiro título pela Argentina, a Copa América no Brasil, até então o seu melhor torneio em desempenho pela seleção (4 gols e 5 assistências em 7 jogos).
Ele terminou aquela temporada com 42 gols e 17 assistências em 54 jogos. Ganhou, também, a Copa do Rei, fazendo uma enorme final contra o Athletic Bilbao.
Lewandowski também foi muito bem no que diz respeito aos números (54 gols e 10 assistências em 48 jogos), mas pesou a eliminação nas quartas da Liga dos Campeões (ele jogou até as oitavas), assim como a péssima campanha da Polônia na Eurocopa (eliminada na fase de grupos com duas derrotas). Não havia unanimidade como em outros anos.
Por último, 2023. Messi claramente já não teve o mesmo nível de atuações pelo seu clube, o Paris Saint-Germain – talvez o seu maior feito tenha sido ser o líder de assistências do Campeonato Francês (16). Mas era temporada de Copa do Mundo, e o argentino teve uma para chamar de si, tal qual Romário, Ronaldo, Maradona, Garrincha…
Foram 7 gols e 3 assistências no Catar e a sua primeira Copa, o que lhe restava para completar a carreira. E aí, mesmo que o Mundial tenha lá os seus 7 jogos, a representatividade venceu em comparação com a tríplice coroa do Manchester City de Haaland.
O norueguês faz gols como absolutamente ninguém na atualidade, mas não tem no seu jogo outras valências que o façam chegar perto de Messi. Não sou do time que negaria a qualquer custo uma Bola de Ouro para alguém do seu perfil, mas compreendo ela ir parar nas mãos de Messi mais uma vez.
Se diante de tudo isso você ainda não se convenceu de que ele é merecedor e transcendental a qualquer rivalidade, não há mais o que ele possa fazer.
O caminho está aberto para alguém fazer igual. Vamos ver em quanto tempo isso vai acontecer…