No que diz respeito à compra de jogadores, a Premier League é mais líder do que o Botafogo. Fechada mais uma janela de transferências, o abismo para as demais grandes ligas da Europa está ainda mais explícito. Ninguém senta na mesma mesa, nem mesmo a Arábia Saudita – pelo menos por enquanto.
Os 20 clubes desembolsaram um total de 2,36 bilhões de libras na aquisição de atletas, valor recorde para um mercado de verão. Sozinha, a Premier League representou quase metade (48%) dos gastos nas top-5 ligas, juntamente com LaLiga, Serie A, Bundesliga e Ligue 1.
Quer outro número? Nada menos que 14 transferências ultrapassaram a marca de 50 milhões de libras, de Declan Rice a Moussa Diaby. A Espanha só teve Jude Bellingham acima desse valor. Na Alemanha, apenas Harry Kane.
Já é uma concorrência desleal, claro, fruto de um trabalho muito competente da liga em explorar a sua imagem em todo o mundo. Sabemos que o produto é bem cuidado há mais de décadas, o que permite hoje a clubes como West Ham, Bournemouth, Aston Villa e Nottingham Forest tirarem destaques de outras ligas, até mesmo de clubes muito mais tradicionais.
Sem ignorar, é claro, o fato de a Premier League permitir donos bilionários (ou até países), dispostos a despejar rios de dinheiro na tentativa de burlar o Fair Play Financeiro, caso do Chelsea, o que mais investiu pelo segundo ano consecutivo.
Esse cenário, ano após ano, me leva a crer que a Premier League nada sozinha e de braçadas. Esportivamente, os efeitos ainda não são tão notórios quanto nos rankings da Deloitte, até porque as vagas em competições europeias são limitadas. Mas tudo parece questão de tempo – West Ham e Manchester City já foram campeões continentais há poucos meses…

Se você ainda não acredita, talvez os exemplos ajudem. Sandro Tonali era peça-chave no meio-campo do Milan, sete vezes campeão da Champions League. O Newcastle, em sua primeira participação em 20 anos, o seduziu com projeto e muito dinheiro.
O Manchester United comprou o goleiro Onana da vice-campeã Inter de Milão, o City buscou o zagueiro Gvardiol na Alemanha (Leipzig) e o atacante Doku na França (Rennes), o Aston Villa tirou Pau Torres da Espanha (Villarreal) e Diaby da Bundesliga (Bayer Leverkusen), de onde também saiu Szoboszlai (Leipzig) para o Liverpool.
Kudus e Edson Álvarez, realidades no Ajax, foram parar no West Ham, enquanto Timber reforçou o Arsenal. Sangaré trocou a fase de grupos da Liga dos Campeões com o PSV pelo Nottingham Forest. Vicario virou o goleiro titular do Tottenham após se destacar na Itália (Empoli). O Brighton substituiu Caicedo com Baleba, do Lille.
Acreditem: eu poderia continuar até amanhã e nem citei o Chelsea de Nkunku, Disasi e Nicolas Jackson.

Claro que algumas baixas foram computadas, inclusive de nomes de grife como Firmino, Mahrez, Kanté, Fabinho, Henderson, Mitrovic, Rúben Neves, Saint-Maximin, Koulibaly, Mendy… Em comum o destino: a Arábia Saudita.
Os sauditas fizeram a sua primeira janela (ainda aberta) sob investimento sem precedentes de um fundo do governo. Na lista das ligas que mais gastaram, a Saudi Pro League é a terceira, abaixo dos 900 milhões de libras (quase três vezes menos do que a Premier League). A Ligue 1 é a segunda, mas muito por conta do dinheiro que entrou e, claro, de um time chamado Paris Saint-Germain.
É bastante provável que a Arábia se fortaleça em mais algumas janelas e até compita em números com a Premier League. Até lá, porém, me dou ao direito de enxergá-la como uma intrusa no reino.

Para encerrar, fui desafiado a montar o meu top-10 da janela da Premier League.
- Seja por custo-benefício e/ou qualidade do atleta, aqui vai o meu:
10. Nkunku (Chelsea)
9. Ward-Prowse (West Ham)
8. Kudus (West Ham)
7. Caicedo (Chelsea)
6. Tonali (Newcastle)
5. Kovacic (Manchester City)
4. Szoboszlai (Liverpool)
3. Maddison (Tottenham)
2. Gvardiol (Manchester City)
1. Declan Rice (Arsenal)