Tudo indica que a temporada do Arsenal será definida pela sua capacidade de colocar a bola dentro da rede. Parece uma frase óbvia, mas o contexto atual é bastante importante: o time vive uma fase de negação ao gol.
Para transformar o ano em sucesso, há basicamente duas alternativas: contratar alguém que resolva nesta janela de janeiro, o que é extremamente improvável, haja vista as raríssimas oportunidades e Fair Play Financeiro, ou recuperar a confiança de seus jogadores-chave na frente.
Para quem viu os últimos jogos, essa também não parece ser uma tarefa simples. A seca do Arsenal começou contra o Aston Villa, no dia 9 de dezembro. Foram sete jogos no período, com cinco gols marcados através de 124 finalizações e um xG de 11,76.
ADVERSÁRIO | GOLS ARSENAL | FINALIZAÇÕES | XG |
ASTON VILLA | 0 | 12 | 1,4 |
PSV | 1 | 12 | 0,98 |
BRIGHTON | 2 | 26 | 2,34 |
LIVERPOOL | 1 | 13 | 0,74 |
WEST HAM | 0 | 30 | 2,77 |
FULHAM | 1 | 13 | 1,64 |
LIVERPOOL | 0 | 18 | 1,89 |
TOTAL | 5 | 124 | 11,76 |
Aqui, uma rápida explicação sobre o que significa a métrica “gols esperados” (tradução para a sigla xG): cada finalização recebe uma nota de 0,01 a 0,99 de acordo com a probabilidade de terminar em gol. O cálculo é feito automaticamente por um modelo que analisou dezenas de milhares finalizações em contextos parecidos.
Ou seja, uma chance claríssima, com a bola na pequena área e o goleiro batido, por exemplo, tende a chegar mais próxima do número 1. Já uma chance rara, como num chute de longa distância, com muitos defensores pela frente, está mais próxima do 0.
Na prática, fazendo um cálculo rápido, o Arsenal teve em média um xG de 0,09 para cada finalização (dividindo 11,76 por 124). Significa que nem todas as chances de gol foram cristalinas — talvez o time esteja chutando de onde não deveria para começo de conversa.
Por outro lado, revi os lances destes jogos e foram mais de 15 grandes chances desperdiçadas. O time ainda está criando, o que é um bom sinal, porém não há ninguém no momento capaz de assumir a responsabilidade.
E não dá nem para cobrar exclusivamente de Gabriel Jesus e Nketiah, pois o Arsenal é um time que costuma dividir as responsabilidades. Ödegaard fez 15 gols na última Premier League e só tem quatro na atual. Com Gabriel Martinelli, também foram 15 gols antes e apenas dois agora. Saka saiu de 14 para, por enquanto, seis.
Os dois pontas, inclusive, estão recebendo muitas bolas longe do gol e dão sinais de cansaço, mas o elenco não parece ter a profundidade necessária para lidar com esse outro problema.
No comando do ataque, Gabriel Jesus também tem decepcionado no que diz respeito a colocar a bola dentro da casinha. Foram 11 gols na temporada passada e, por ora, apenas três nessa. Nketiah foi o único a melhorar, com cinco gols contra quatro de 2022/23, embora três deles tenham acontecido na goleada sobre o Sheffield, dando uma leve maquiada nos números.
Pode ser apenas um momento, mas o Arsenal já está fora das duas Copas e viu o Liverpool abrir cinco pontos de vantagem na liderança da Premier League.
Para minimizar os riscos, o Arsenal deveria buscar um camisa 9 goleador nem que fosse para situações específicas do jogo, de abafa e desespero. Ainda assim, trata-se de um perfil raro pensando em custo-benefício — basta lembrarmos que o Manchester United também tentou recentemente, com Weghorst e Ighalo, e deu em água.
Outra alternativa é torcer para que seus principais nomes coloquem o pé na forma. Principalmente até meados de fevereiro, quando começam as oitavas de final da Liga dos Campeões. O Arsenal pode ser favorito contra o Porto, mas a estrada ainda será longa até maio.