Desconsiderando a indiferença, a temporada passada do Arsenal nos leva somente a dois caminhos. O primeiro é a inevitável dor do quase, na qual agonizamos lembrando do que poderia ter sido sem aqueles malditos tropeços na reta final. É um sentimento justo para o torcedor e cada um tem o seu tempo de luto. Não julgo.
Mas eu prefiro o copo muito cheio. Por mais que a esperança de título tenha sido alimentada ao longo da campanha, ganhar seria como pular algumas etapas do processo. Se este Manchester City não existisse, ótimo. Mas para vencê-lo em 38 rodadas todos os capítulos precisam estar preenchidos.
Talvez o mais determinante deles esteja acontecendo agora, numa janela de transferências que é praticamente uma declaração de intenções. A maior contratação da história de um clube inglês (Declan Rice, por 105 milhões de libras) é do Arsenal, que manteve suas estrelas e preparou calmamente o terreno para chegar neste momento como um forte candidato.
Primeiro porque o Arsenal é uma construção gradual, e acompanhá-las tem um sabor diferente. Quando Jürgen Klopp chegou ao Liverpool, em 2015, as coisas também não aconteceram instantaneamente. E eu não sei se a trajetória será tão gloriosa quanto, mas há algumas semelhanças na caminhada.
Arteta assumiu os Gunners em dezembro de 2019. O clube ainda não dava sinais de vida sem Arsène Wenger e parecia perdido. Mas, aos poucos, o espanhol foi se envolvendo numa necessária renovação. Líderes como Aubameyang foram dispensados, outros tiveram uma saída um pouco mais amigável, como Lacazette e Özil. Mais alguns foram emprestados ou vendidos para que a roda pudesse girar.
O coração do Arsenal seria, então, a juventude.
É claro que essa conta não saiu barata, e tampouco foi da noite pro dia. Mas é difícil encontrar alguém que discorde da estratégia.
Veja só alguns nomes que estão no Arsenal:
JOGADOR | IDADE | DURAÇÃO DO CONTRATO |
---|---|---|
Declan Rice |
24 anos |
5 anos |
Kai Havertz |
24 anos |
5 anos |
Gabriel Martinelli |
22 anos |
5 anos |
Jurrien Timber |
22 anos |
5 anos |
Bukayo Saka |
21 anos |
4 anos |
Gabriel Jesus |
26 anos |
4 anos |
Aaron Ramsdale |
25 anos |
4 anos |
William Saliba |
22 anos |
4 anos |
Gabriel Magalhães |
25 anos |
4 anos |
Oleksander Zinchenko |
26 anos |
3 anos |
Ben White |
26 anos |
3 anos |
Martin Odegaard |
24 anos |
2 anos |
Folarin Balogun |
22 anos |
2 anos |
Kiwior (23 anos), Nelson (23), Fabio Vieira (23), Nketiah (24), Tomiyasu (24) Smith-Rowe (22) são outros jovens, ainda que em outra prateleira; Trossard (28), Turner (29), Partey (30), Jorginho (31) e Elneny (31), os “veteranos” que carregam alguma experiência.
E assim o elenco do Arsenal está montado, recheado de talentos e com o presente e futuro assegurados. Pelo menos num ciclo de quatro anos, como aconteceu com o Liverpool de Klopp quando foram chegando Salah, Mané, Robertson, Alisson, Van Dijk…
Dessa vez, um trabalho impecável de Edu, Arteta e companhia. Ainda mais ao conhecermos como foi o processo de convencimento para atrair jogadores como Rice, por exemplo. O Arsenal estava preparado para todos os detalhes da operação e bastante convencido que o volante era a peça que faltava para conseguir reunir Havertz e Odegaard com os três atacantes (Saka, Jesus e Martinelli).
Como escrevo este texto em 18 de julho, é possível que mais mudanças aconteçam. Como a saída de Balogun, por exemplo, para fazer caixa, ou a chegada de um ou outro jovem. Mas a espinha dorsal é essa e há qualidade em todas as áreas como há muito tempo não se via no norte de Londres.
Por isso a empolgação é justificada. Do campo, o torcedor já sabe o que esperar.