Você nunca vai esquecer a camisa verde do Tottenham

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Este é um texto sobre camisas de futebol. No processo de escrita desse artigo, eu pensei em duas linhas de abordagem. A primeira, através do conceito de monomito, vulgarmente conhecido como “A Jornada do Herói“.

Mas essa linha se provou errada. No fim das contas, os heróis são aqueles que vestem o elemento que nós discutiremos aqui. Apesar de ser uma história de ascensão, acho que essa não é a melhor maneira de ser debatida.

Sobre o senso comum

Então vamos lá, pela segunda linha de abordagem: a do senso comum. Existem certas coisas da nossa cultura, certos hábitos e informações, que são conhecimento da maioria das pessoas. Todos sabem que o céu é azul, que o Superman usa uma capa vermelha, que o Brasil é o país do futebol, e que Um Maluco no Pedaço é a melhor série de humor já feita (ou não).

Esse tipo de informação deixa claro, dentre outras coisas, conhecimentos e informações que são muito marcantes em determinadas culturas. E na cultura do futebol, isso não é diferente. “Todos” sabemos que o futebol africano é forte nas categorias de base, que Barcelona e Ajax costumam priorizar o toque de bola, e todos sabemos as camisas tradicionais dos clubes mais famosos.

Mesmo fugindo do tradicional vermelho, a camisa verde-e-amarela do Manchester United já está no imaginário popular (Foto: FES Retro)

O futebol inglês, em sua própria cultura, tão enraizada no esporte, tem seus marcantes uniformes. É difícil imaginar o Arsenal sem sua camisa vermelha e suas mangas brancas ou Manchester City sem seu azul claro característico.

Mesmo fugindo da tradição e do padrão, temos exemplos frescos em nossa memória, como a camisa verde-e-amarela dos Red Devils. Agora, de onde o Tottenham tirou uma camisa verde?

Como surgiu a camisa verde do Tottenham?

Essa é uma pergunta que só os designers da Nike, e os outros profissionais que trabalharam diretamente no processo a realização desse uniforme podem nos responder. Como eu não sou um deles, tenho que usar a boa e velha lógica.

Sendo a camisa verde dos Spurs um terceiro uniforme, nós podemos notar que, mesmo ela sendo bem fora do padrão que clube costuma ter, faz bastante sentido se observamos outros terceiros uniformes da empresa americana.

Levando em conta principalmente o mercado europeu, a Nike tem uma tendência na década em usar cores fortes e fora das paletas tradicionais das equipes.

O Barcelona e seu uniforme rosa: Outro exemplo de ousadia. (Foto: Nike/Divulgação)

Em sua época de lançamento, a camisa agradou muito uma parcela grande dos consumidores. Mas, como é de praxe em tentativas ousadas como essa, uma parte considerável da torcida dos Spurs criticou o uniforme.

O motivo é exatamente o esperado: Fugir do usual. O esperado seria que virasse uma camisa esquecida em duas ou três temporadas. Até que a bola rolou.

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Objetivamente, o que importa para o torcedor no fim do dia, é se a bola está entrando. E, como você deve ter acompanhado nesse ano aqui na PL Brasil, a bola entrou bastante em favor do Tottenham.

Quando seu time começa a jogar muito bem com uma determinada camisa, você começa a pegar uma afeição por ela. Que brasileiro não fica feliz só de lembrar da camisa que a seleção usou no penta?

A consagração em Amsterdã

E foi graças a um brasileiro que os torcedores se apaixonaram de vez pela camisa verde do Tottenham. A atuação maravilhosa de Lucas Moura pelo jogo de volta da semifinal da Liga dos Campeōes contra o Ajax vai ficar para sempre na memória dos fãs. E, com essa cor tão marcante, fica difícil não lembrar do que ele estava usando.

O hat-trick de Lucas Moura levaria muito mais que só o Tottenham até as finais. (Foto: Getty Images)

Quis o destino que um garoto-propaganda da Adidas fosse o maior culpado em eternizar uma camisa da Nike. As vezes, me arrisco a dizer que na maioria das vezes, o que nos faz lembrar de alguma coisa não é a coisa por si só, sim as memórias que nós, ou o coletivo, temos dela.

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Só por ser uma camisa do Tottenham, de um clube de Liga dos Campeōes, de uma marca famosa, ela já teria uma certa notoriedade, mesmo que só por um curto período de tempo.

Quando ela é usada em uma atuação lendária, em um dos jogos mais impressionantes da história recente do futebol, isso transcende qualquer planejamento de produto e qualquer conceito visual.

Quando o apito final soou em Amsterdam, o trabalho da Nike foi consagrado. O produto que eles desenharam, que tinha tudo para ser esquecido em alguns anos, ganhou novo propósito. Deixou de ser uma polêmica. Virou a camisa que levou o Tottenham para uma final de Champions. Os Spurs chegaram até a final. A camisa chegou ao senso comum.

Lucas Carvalho
Lucas Carvalho

Um dos últimos filhos da década de 90. Fã de futebol acima de qualquer clube, mas Flamenguista nos momentos de paixão. Diretor de Arte e Motion Designer no dia-a-dia. Orgulhoso dono de uma Copa do Mundo no currículo. Victoria Concordia Crescit.