Brighton e Manchester United já fizeram final épica na Copa da Inglaterra

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Brighton e Manchester United fizeram uma final histórica na Copa da Inglaterra há 35 anos, decidida num jogo extra após um empate eletrizante na primeira partida.

Lembrada até hoje, aquela decisão em maio de 1983 foi o ponto alto da primeira experiência do Brighton na primeira divisão inglesa, ao passo que, para o Manchester United, representou um retorno às conquistas depois de um jejum de seis anos.

A grande campanha dos Seagulls

A temporada 1982/1983 foi a quarta e derradeira da primeira passagem do time litorâneo pela elite inglesa – e a última antes de 2017. Quando a equipe alcançou, em meio a uma campanha surpreendente, a final da Copa da Inglaterra, já estava matematicamente rebaixada na liga.

Os Seagulls haviam começado a temporada sob o comando de Mike Bayley, mesmo treinador da campanha anterior, mas ele caiu no começo de dezembro após sequência ruim. Assumiu então Jimmy Melia, ex-meia do Liverpool e da seleção inglesa nos anos 60.

Melia era um treinador com apelo midiático e gostos extravagantes. E chegara ao clube a tempo de iniciar campanha memorável na Copa da Inglaterra. De cara, despachara um bom time do Newcastle com Kevin Keegan, Peter Beardsley e Chris Waddle vencendo o replay dentro do St. James’ Park.

Em seguida, jogando em seu antigo estádio Goldstone Ground, golearia o Manchester City por 4 a 0. Mas o grande feito viria na fase seguinte. A equipe foi a Anfield e eliminou o Liverpool, o grande papão daquele momento, vencendo por 2 a 1 com gol do ex-Reds Jimmy Case.

Foto: The Goldstone Wrap

Depois de eliminar o Norwich pelas quartas, o time foi a Highbury para derrotar o Sheffield Wednesday, confirmando a ida à final. Do outro lado estaria o Manchester United.

A última chance para o United

Os Red Devils viviam sua segunda temporada sob o comando de Ron Atkinson, contratado após ótimo trabalho no West Bromwich Albion para acabar com a seca de troféus dos mancunianos que vinha desde 1977 e atravessara toda a passagem do antigo treinador Dave Sexton.

Naquela temporada, a equipe já havia desperdiçado a primeira chance de comemorar um título ao perder a Copa da Liga para o Liverpool na prorrogação. Mas na Copa da Inglaterra vinha voando: venceu West Ham, Luton, Derby e Everton de primeira, sem replay e sem sofrer nenhum gol.

Nas semifinais, uma grande vitória de virada sobre o Arsenal por 2 a 1 no Villa Park levou outra vez a equipe a Wembley naquela temporada. Contando com um elenco experiente e de qualidade, a ordem em Old Trafford era não deixar passar a nova chance.

Terceiro na liga, um ponto atrás do surpreendente Watford, além do campeão Liverpool, o time contava, porém, com uma quantidade inegável de talento em todos os setores, em especial no meio, com a dupla da seleção Ray Wilkins e Bryan Robson, além do holandês Arnold Mühren.

O Brighton, por sua vez, teria um desfalque sentido na final de 21 de maio. O zagueiro Steve Foster, xerife da defesa, famoso por jogar usando uma faixinha na cabeça.

Mas havia outros bons nomes, como o versátil Gary Stevens, que podia atuar em várias posições da defesa e do meio (e logo seria negociado com o Tottenham), além dos meias Tony Grealish e o já citado Jimmy Case e do atacante irlandês Michael Robinson.

Uma final memorável

A decisão já seria marcante antes mesmo da bola rolar. Os jogadores e a comissão técnica do Brighton viajaram até Londres num enorme helicóptero (o clube era patrocinado pela empresa aérea British Caledonian), que aterrissou no pátio de uma escola perto do estádio de Wembley.

Em campo, jogando um futebol solto e descomplicado como um autêntico azarão, o Brighton começou dando as cartas e abriu o placar numa cabeçada do atacante Gordon Smith aos 14 minutos, indo em vantagem para o intervalo.

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Na etapa final, o United reagiu e empatou com o atacante irlandês Frank Stapleton aos dez minutos e virou aos 27 num golaço de Ray Wilkins. Mas o Brighton estava vivo: a três minutos do fim, Gary Stevens aproveitou chute torto de Tony Grealish e deixou tudo igual de novo.

Na prorrogação, os Seagulls ainda teriam uma chance de ouro no último lance: num contragolpe, Robinson avançou, limpou a zaga e passou a Gordon Smith completamente livre na área. Mas o atacante perdeu chance incrível, chutando em cima de Gary Bailey.

Cinco dias depois do empate, os dois times voltaram a Wembley para o replay. Desta vez, o United não deu chance à zebra e tratou de liquidar o jogo ainda no primeiro tempo, mesmo com a volta de Steve Foster à zaga do Brighton.

O placar foi aberto aos 25 minutos, num chutaço de fora da área do capitão Bryan Robson. Cinco minutos depois, o norte-irlandês Norman Whiteside ampliou em cabeçada.

A um minuto do intervalo, Bryan Robson marcaria seu segundo, completando quase em cima da linha. E na etapa final, aos 17, Arnold Mühren converteu pênalti para fechar a vitória em categóricos 4 a 0.

Emmanuel do Valle
Emmanuel do Valle

Jornalista de Niterói, formado pela Universidade Federal Fluminense e com passagens por Agência EFE, Jornal dos Sports, Lance! e TV Globo. Atualmente, também colaboro com o site Trivela, além de outros projetos. Pesquisador voraz da história do futebol nacional e internacional.