Títulos não vêm por acaso. Técnico que conquista títulos em sequência, por equipes distintas, merece muitos créditos. E quando essas equipes não estão habituadas a figurar entre os grandes, e após sua saída nunca mais conseguem voltar ao topo, o treinador ganha o status de lenda. Falaremos hoje da brilhante carreira de Brian Clough.
A curta carreira de Brian Clough como jogador
Brian começou sua prolífica carreira como jogador no Middlesbrough. Sim, jogador. Muitos possivelmente não sabem, mas Brian Clough foi um excelente atacante.
Em seis anos atuando pelo Middlesbrough, Brian disputou 213 partidas, marcando incríveis 197 gols. Porém, na mesma medida em que era artilheiro, Clough também era problemático.
Ele sempre tinha atritos com seus colegas de clube, e vivia pedindo para ser transferido. Até que o Middlesbrough cedeu aos seus pedidos, e Brian foi vendido ao Sunderland.
Leia mais: 10 jogadores que passaram pelo Nottingham Forest que você nem sabia
Com a camisa dos Black Cats, Brian continuou demonstrando seu faro de gol: foram 54 gols em 61 jogos.
Em um jogo contra o Bury, a carreira de Brian Clough se aproximou do fim. Ele chocou-se com o goleiro Chris Harker e rompeu os ligamentos do joelho.
Brian ainda voltaria aos gramados dois anos após a lesão, mas não suportou as dores, jogando apenas três partidas, e aposentando-se aos 29 anos.
O início da carreira de Brian Clough como técnico
Apenas um ano após sua aposentadoria, Clough iniciou sua carreira de treinador, dirigindo o modesto Hartlepool United, então na 4ª divisão, tendo como seu assistente o ex-goleiro Peter Taylor, que o acompanharia durante quase toda sua trajetória. Os resultados não foram expressivos. Um 8º lugar como melhor posição, e a saída do clube em 1967.
Brian não ficou muito tempo desempregado. Ainda em 1967, assumiria o comando do Derby County, que há anos estava na 2ª divisão.
Aliás, Brian Clough levaria mais tarde consigo um importante jogador do Hartlepool: o jovem meia John McGovern, um dos preferidos de Brian, que levaria John consigo em quase todas as suas mudanças de clube.
Na sua primeira temporada, Brian não levou o time além do meio da tabela. Porém, o elenco do Derby estava em um completo processo de reformulação.
Para a temporada seguinte, Clough manteve no clube apenas quatro jogadores que já estavam lá antes da sua chegada, e realizando uma série de contratações. E as mudanças funcionaram.
Em 1968/69, o Derby County conseguiu o título da Segunda Divisão, com direito a uma série invicta de 22 jogos.
Em sua primeira temporada na elite, Brian Clough consegui levar o Derby a um ótimo 4º lugar. Porém, devido a problemas financeiros, o time foi suspenso das competições europeias na temporada seguinte.
Em 1970/71, o Derby não passou de um 9º lugar.
Primeiro título na elite
Na temporada seguinte, pela primeira vez em sua história, o Derby County disputava, de fato, o título inglês.
Em uma disputa ferrenha com Leeds, Liverpool e Manchester City, o Derby superou seus rivais por apenas um ponto, conquistando seu primeiro título inglês, com uma vitória por 1 a 0 sobre o Liverpool no último jogo.
Certamente, uma das coisas que Clough carregou da época de jogador foi seu lado polêmico. Após o título, Brian se envolveu em confusões com a diretoria do Derby, visto que exigiu que pudesse levar sua família em uma viagem de pré-temporada, e a contratação de jogadores, sem consentimento da diretoria.
A temporada de 1972/73 não foi das melhores para o Derby.
O time não conseguiu defender o título inglês, terminando apenas na 7ª posição. Na Copa dos Campeões, a participação foi boa: chegou às semifinais da competição, parando na Juventus e teve encerrado seu sonho europeu.
O estilo polêmico de Clough, além dos constantes atritos com o presidente do clube, acabou levando a saída dele do Derby, no final de 1973. Logo depois, a dupla assumiria o comando do pequeno Brighton, da terceira divisão (único time onde Clough e John McGovern não estiveram juntos).
Tchau, Derby. Oi, Leeds
Essa passagem não foi das mais marcantes. Durou menos de um ano, não teve resultados expressivos e acabou quando Brian recebeu um convite do Leeds, então campeão inglês, em substituição a Don Revie, que estava comandando a seleção inglesa.
Em sua primeira chance em um time grande, e sem Taylor, Brian não durou muito. Foram apenas 44 dias de resultados ruins e brigas com os jogadores da equipe. Clough era um ferrenho crítico de Revie e seu estilo de jogo.
Os jogadores permaneceram leais ao antigo treinador, e não havia clima para a permanência de Brian. Apesar de rápido, o período de Brian Clough no Leeds ficou marcado no futebol inglês, e rendeu o excelente filme Maldito Futebol Clube.
A era Nottingham Forest: da segunda divisão ao topo da Europa
Em janeiro de 1975, Brian Clough voltaria ao comando de um clube da Segunda Divisão. Era o Nottingham Forest, que ocupava apenas a 13ª posição na tabela.
De certo, o começo da trajetória de Clough no Forest foi discreto: 16º lugar em 1974/15 e 8º lugar em 1975/76.
Para a temporada seguinte, no entanto, Clough realizou uma vital contratação para o sucesso do Forest nos anos seguintes: seu velho auxiliar, Peter Taylor, que ainda estava no Brighton. Juntos, técnico e assistente terminaram a Division Two em terceiro lugar em 1976/77, conseguindo o acesso.
Outro fato pouco conhecido é que a passagem de Clough pelo Forest quase terminou logo após o acesso. Brian foi entrevistado para assumir a seleção inglesa, outra vez no lugar de Don Revie, mas o negócio acabou não se concretizando.
O primeiro ano do Forest no retorno à primeira divisão foi simplesmente espetacular. Com um elenco sem grandes nomes, conquistou o título inglês com sobras em relação ao Liverpool, que defendia o título. De quebra, o Forest ainda derrotou o Liverpool também na final da Copa da Liga, faturando mais uma taça.
Título europeu: fantasia ou realidade?
O time sucumbiu ao Liverpool na busca pelo bicampeonato, mas ainda assim a temporada seria histórica para o Nottingham Forest. O time venceu novamente a Copa da Liga e faria história na Europa.
A campanha na Copa dos Campeões começou justamente contra o Liverpool, atual campeão.
Vitória por 2 a 0 em casa e um empate sem gols em Anfield despacharam mais uma vez o time de Merseyside. Nas oitavas de final, o adversário foi o AEK Athens, da Grécia, que foi eliminado com tranquilidade, vitórias por 2 a 1 fora e 5 a 1 no City Ground.
Na sequência, o enfrentamento foi contra o Grasshopper, da Suíça. Na ida, no City Ground, mais uma goleada: 4 a 1. Já na volta, um empate por 1 a 1 garantiu o Nottingham Forest entre os quatro melhores time da Europa.
Pelas semis, um duelo muito equilibrado contra o Colônia, da Alemanha. No City Ground, os alemães abriram 2 a 0, no entanto, o Forest conseguiu uma grande virada, mas no finalzinho sofreu o empate amargo: 3 a 3.
Na Alemanha, em jogo muito pegado, Bowyer marcou o gol único da partida, levando o time até a grande final.
No jogo decisivo, contra os suecos do Malmö, em Munique, a milionária contratação de Clough fez valer todo o esforço feito para trazê-lo ao clube. Steve Francis fez, de cabeça, o único gol da decisão, dando o título europeu ao clube que até então era totalmente desconhecido fora da Inglaterra.
https://www.youtube.com/watch?v=zq6EzlCJ3jA&t=15s
O bi europeu
Em 1979/80, o Forest falhou na busca pelo tricampeonato da Copa da Liga. O Campeonato Inglês também ficou mais uma vez com o Liverpool, mas o Forest ainda defenderia seu título mais importante.
Öster e Argeş Piteşti foram presas fáceis nas fases iniciais. Nas quartas, contra o Dynamo Berlin, um susto. Derrota na ida, no City Ground, por 1 a 0.
Mas Francis brilhou na Alemanha, marcando 2 gols na vitória por 3 a 1. Pela semifinal, contra o Ajax, vitória por 2 a 0 e sofrimento na derrota por 1 a 0 na Holanda.
O jogo decisivo foi disputado no Santiago Bernabéu. O adversário era o Hamburgo, que havia trucidado o Real Madrid na semifinal. Com um gol de John Robertson, o Forest venceu por 1 a 0 e prolongou seu reinado europeu.
Com o segundo título continental, ficou provado, sem dúvida, que a façanha do ano anterior não foi um mero acidente de percurso.
Clough conseguiu em 4 anos tirar um time de pouca expressão da parte de baixo da tabela da 2ª divisão, levando-o ao bicampeonato europeu.
https://www.youtube.com/watch?v=Gr2j9Omtyfw
Nos anos seguintes, com o envelhecimento de alguns jogadores e a saída de outros, o Forest não conseguiu manter o ritmo.
Dessa forma, o time ficou afastado das disputas por títulos, ficando sempre no meio da tabela no Campeonato Inglês. Outro baque sofrido por Clough foi a aposentadoria do escudeiro Taylor, em 1982.
SABIA DISSO?
Brian Clough ficou 18 anos (ou 994 jogos) no comando do Nottingham Forest! pic.twitter.com/Dk6Lvcbo42
— PL Brasil (@plbrasil1) June 30, 2017
As últimas glórias da carreira de Brian Clough vieram no final da década de 1980. Em 1988/89 o Forest foi campeão da Copa da Liga, derrotando na final o Luton Town.
Além disso, terminou em terceiro lugar no campeonato e alcançou a semifinal da Copa da Inglaterra, perdendo para o Liverpool, em confronto marcado pela Tragédia de Hillsborough.
No ano seguinte, veio o bicampeonato da Copa da Liga. Nas duas temporadas subsequentes, Brian ainda levou o Forest a duas finais de Copas, mas acabou derrotado em ambas.
Rebaixamento, doença e morte
Na temporada seguinte, a primeira da era Premier League, Brian Clough não conseguiu evitar o rebaixamento do Forest, aposentando-se na sequência.
No final do seu período no Nottingham Forest, Brian começou a enfrentar problemas sérios com o alcoolismo, necessitando de um transplante de fígado em 2003. Um ano depois, porém, Brian não resistiu a um câncer no estômago, e faleceu aos 69 anos.
A carreira de Brian Clough foi brilhante. Ele conseguiu com que dois clubes até então pouco relevantes a nível nacional lutassem de igual para igual com os gigantes do futebol inglês durante anos.