Mais brasileiro e olho no Brasileirão: Como o mercado da Premier League se transformou nos últimos dois anos

7 minutos de leitura

A PL Brasil realizou um levantamento dos últimos 50 jogadores brasileiros contratados por clubes da Premier League e identificou uma tendência de mercado nas últimas janelas de transferências: a liga inglesa está cada vez mais brasileira e tira mais atletas do futebol nacional.

O levantamento da PL Brasil considerou 5 tópicos:

  1. ANO DA CONTRATAÇÃO
  2. CAMPEONATO ONDE JOGAVA
  3. TIME INGLÊS QUE CONTRATOU
  4. POSIÇÃO DO JOGADOR
  5. IDADE NA ÉPOCA DA CONTRATAÇÃO

Foram considerados apenas atletas que atuaram por seus respectivos times por qualquer competição. Casos como do lateral-direito Yan Couto, contratado pelo Grupo City em 2020 e que nunca atuou pelos Citizens, não entraram no levantamento.

Jogadores contratados por empréstimo estão incluídos na lista. O único nome que se repete é Andrey Santos, contratado em definitivo pelo Chelsea e, posteriormente, cedido por empréstimo ao Nottingham Forest.

A Premier League está mais brasileira

A Premier League, a nova era do Campeonato Inglês, começou na temporada 1992/93, mas só foi ter seu primeiro brasileiro em 1995. Isaías deixou o Benfica para reforçar o modesto Coventry City. De lá para cá, jogadores brasileiros e a liga inglesa se aproximaram cada vez mais.

A análise da PL Brasil constatou que 30 jogadores brasileiros foram contratados entre 2022 e 2023. Nas quatro temporadas anteriores — entre 2018 e 2021 — esse valor era de 20.

Mercado brasileiro ganha protagonismo a partir de 2022

Dos 50 nomes levantados, 12 deixaram o futebol brasileiro direto para a Premier League, sendo que 10 destes fizeram a mudança entre 2022 e 2023. Com esse grande aumento recente, é possível traçar uma mudança de comportamento dos clubes ingleses olhando mais para o futebol brasileiro e também uma tendência que pode se consolidar nas próximas temporadas.

Mas o que explica a tendência?

As negociações no mercado de transferências passaram por uma grande mudança com o Brexit, a partir de janeiro de 2021. A saída do Reino Unido da União Europeia afetou diferentes áreas, incluindo o futebol.

A nova regulamentação imposta no esporte mais popular do mundo limitou a contratação de jogadores europeus ao impor regras mais restritivas para a chegada desses atletas.

➡️Além disso, o futebol inglês também criou, em 2021, o Governing Body Endorsement (GBE), um sistema baseado em pontos que avalia se os atletas contratados são elegíveis para jogar por um time inglês.

A exigência fazia com que os atletas precisassem atingir 15 pontos neste modelo. Para o jogador pontuar, vários fatores eram considerados, incluindo a participação deste em seleções, a qualidade da liga onde atua e outros.

Andrey Santos não tinha a pontuação necessária e demorou a ser registrado pelo Chelsea (Foto: Reprodução/chelseafc.com)

O sistema de pontuação acarretou, principalmente, no enfraquecimento de clubes menores da Premier League em termos de competitividade no mercado de transferências contra times espanhóis, italianos, alemães e franceses, por exemplo. Isso fez com que a Premier League considerasse mudanças.

➡️Em junho do ano passado, as regras para contratação de atletas do exterior voltaram a mudar na Inglaterra. Agora, os clubes da Premier League podem registrar jogadores que não se qualifiquem para o GBE e podem incluir em seus respectivos elencos quatro atletas que se encaixam neste quesito.

As novas regras podem abrir ainda mais portas para jovens brasileiros e outros atletas sul-americanos nas próximas janelas.

Argentina segue tendência

A ida de mais jogadores trocando o futebol brasileiro pelo inglês parece ser um fenômeno, em menor escala, também visto na Argentina. Entre 2017 e 2021, um único atleta deixou o futebol do país vizinho rumo à Premier League: o zagueiro Juan Foyth, que foi vendido pelo Estudiantes ao Tottenham.

Entre 2022 e 2023, o número de contratações pulou para cinco:

  1. Alejo Véliz (do Rosario Central ao Tottenham)
  2. Carlos Alcaraz (do Racing ao Southampton)
  3. Julián Álvarez (do River Plate ao Manchester City)
  4. Facundo Bounanotte (do Rosario Central ao Tottenham)
  5. Máximo Perrone (do Vélez Sarsfield ao Manchester City)

Outros aspectos: times, posição e faixa etária

O fato de a Premier League ser a liga mais rica do mundo faz com que times ingleses -- desde grandes até pequenos -- passem a ter condições financeiras mais vantajosas para levar destaques de clubes grandes de Itália, Alemanha, França, dentre outros.

O levantamento mostrou que não há concentração de clubes do chamado Big 6 (Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham) na contratação de atletas brasileiros. Os 50 jogadores registrados no levantamento reforçaram 22 times diferentes. Foram 18 atletas contratados pelas equipes do Big 6 e 32 pelo restante dos clubes.

Deivid Washington chegou recentemente ao Chelsea (Foto: Reprodução/Chelsea)

Quanto à posição do jogador, os clubes da Premier League tendem a se inclinar a um perfil específico desejado . Segundo o levantamento, os meio-campistas e atacantes representam 70% do total de contratações. Zagueiros foram 16%, enquanto laterais e goleiros, em baixa, apenas 10% e 4% respectivamente.

O levantamento também considerou a idade de contração dos últimos 50 jogadores. A média é de 24 anos. Isso sugere que, geralmente, os times ingleses têm buscado jogadores com alguma rodagem no futebol profissional em vez de promessas muito jovens e inexperientes.

É importante notar que, se considerarmos apenas os 12 jogadores contratados em 2023, a média de idade cai para 21 anos, o que pode indicar uma tendência de "rejuvenescimento" na contratação de brasileiros.

Pedro Ramos
Pedro Ramos

Coordenador da PL Brasil. Editor da PL Brasil entre 2012 e 2020 e subcoordenador na PL Brasil até o meio 2024. Passagens pelo jornal Estadão e o canal TNT Sports. Formado em Jornalismo e Sociologia.
E-mail: [email protected]