A narrativa imprevisível nunca fez tanto sentido dentro do futebol. Isso porque a final da Champions League 2011/2012 não pode ser contada apenas nos 120 minutos jogados na Allianz Arena. Assim, decidida nos pênaltis – afastando o fantasma de 2008 – o Chelsea derrotou o Bayern e se consagrou campeão naquele 19 de maio de 2012.
Enquanto o clube alemão era tratado como um dos favoritos, os Blues protagonizavam, a cada jogo, uma crônica improvável com seus personagens emblemáticos. Dessa forma, a PL Brasil mergulha com você nas emoções da inédita conquista do clube londrino.
O caminho para uma final histórica entre Chelsea e Bayern
Sem dúvidas, o árduo caminho percorrido pelo time de Roman Abramovich deu forças a um elenco desacreditado. Nesse sentido, ganhar uma partida fora de casa, ainda mais em uma final, contrariava qualquer expectativa. O roteiro não era favorável: em seis jogos como visitante, a equipe venceu apenas um – contra o Benfica, pelas quartas de final, por 1 a 0.
Porém, foi na fase anterior que os heróis ingleses mostraram seu potencial. Ao reverter o placar de 3 a 1, contra o Napoli, no Stamford Bridge lotado, o time comandado pelo, até então técnico interino, Roberto Di Matteo, deu esperanças aos torcedores.
Assim, jogo após jogo, o espírito incansável daquele elenco mostrava que nada era impossível. Desse modo, na semifinal, a vítima foi o poderoso Barcelona – atual campeão na época. Logo o improvável voltava reinando à terra da rainha.
O final todos conhecem: a partir da forte jogada aérea de Didier Drogba, e das mãos salvadoras de Petr Cech, o Chelsea abalou os gigantes e conquistou a Europa pela primeira vez.
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Antes da final
Apesar do nítido cenário de importância, ambas as equipes não puderam entrar em campo com força máxima. O técnico Jupp Heynckes não contava com o zagueiro Badstuber, o lateral Alaba e o volante brasileiro Luiz Gustavo. Entretanto, a situação era mais crítica para os Blues. Com quatro titulares suspensos – John Terry, Ivanovic, Raul Meireles e Ramires – Di Matteo teve que promover o jovem Ryan Bertrand improvisado como ponta.
1° tempo vermelho
Se já não bastasse o ambiente totalmente favorável para o Bayern, dentro das quatro linhas, a equipe alemã começou a todo vapor. Com Mario Gomez centralizado, Robben e Ribéry abertos pelas pontas e Müller fazendo o apoio, o time não dava nenhum espaço para investidas inglesas.
Assim, pressionado e com poucos alternativas, ao Chelsea só restava defender e torcer para a sorte estar do seu lado. E como em toda a campanha, ela estava. Aos 20 minutos, a canhota praticamente mortal de Robben parou nos pés de Cech tocando, ainda, sutilmente no travessão.
Porém, os bávaros não parariam por ai. O ataque estrelado regia a partida como se estivesse em uma orquestra, no entanto, o nervosismo pelo gol não permitia boas conclusões. Ainda, na primeira etapa, Müller e Gómez desperdiçaram chances importantes.
A tensão da segunda etapa
O alívio dos Blues, por não sofrerem gols nos 45 minutos iniciais, durou pouco. Apesar de voltarem melhor do intervalo, até arriscando um chute de longe com Drogba, a equipe continuava focada apenas no setor defensivo. Assim, com a marcação mais alta, obrigava Kross e Ribéry a chutarem de fora da área.
Incrivelmente retraída, a equipe inglesa sobrevivia ao bombardeio alemão. A pressão era tamanha, que até os 35 minutos foram sete finalizações do Bayern, além de um gol impedido – feito por Ribéry.
Dessa forma, os Blues começavam a tentar nos contra-ataques. Entretanto, o time sentia muita falta de Ramires. Isso porque, nenhum dos pontas escalados por Di Matteo – Kalou e Bertrand – auxiliavam o solitário Drogba. Além disso, com Mata sumido em campo, a criação dependia unicamente da técnica de Lampard.
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Gols emblemáticos
Os minutos se passavam e a Allianz Arena ia se transformando em uma panela de pressão. A partir da imparável movimentação de Ribéry, a defesa dos Blues começava a cansar e abrir cada vez mais brechas.
Desse modo, aos 38 minutos, Kross teve boa visão de jogo e achou Müller livre no segundo pau. O resultado não poderia ser outro: de cabeça, o meia alemão abriu o marcador para incendiar o estádio.
Porém, a ducha de água fria parecia, enfim, acordar o treinador italiano. A reação imediata foi mandar o time ao ataque colocando em campo Fernando Torres – o atacante fez o gol, diante do Barcelona, que garantiu a equipe na final.
Assim, a alteração surtiu efeito. O espanhol se desbravou no setor ofensivo e conseguiu um escanteio – algo raro naquela ocasião. A cobrança de Mata na área, poderia mudar a história do clube. E foi o que aconteceu. Da calibrada canhota do jogador, saiu a assistência para o antológico Drogba, de cabeça, fuzilar as redes de Manuel Neuer. Dessa maneira, com o jogo empatado, a prorrogação já era realidade.
Os minutos finais de Bayern e Chelsea
Pela proposta situada àquele contexto, o tempo extra já mostrava que seria mais ofensivo. Afinal, ambas as equipes iriam para o tudo ou nada. No entanto, para desespero dos londrinos, aos dois minutos, Drogba fez falta dentro da área em Ribéry. Logo, o pênalti estava marcado.
O semblante assustado do marfinense mostrava a dor de quem foi do céu ao inferno em poucos minutos. Na cabeça dos torcedores, um filme era passado – uma vez que, na semifinal, o próprio atacante também havia feito penalidade em Fàbregas, mas Messi desperdiçou.
Na marca, um duelo de gigantes: Robben x Cech. Assim, para festa da minoria presente no estádio, o goleiro foi decisivo e agarrou o chute do holandês.
O Bayern, por sua vez, continuava pressionando a todo custo. Porém, o pouco tempo restante, não permitia imprecisões. Com isso, sem conseguir ampliar o placar, a decisão encaminhava para as penalidades.
Cech e Drogba eternizados na terra da rainha
A final criava contornos emocionantes. Nesse sentido, a missão dos Blues, que em momento nenhum foi dada como fácil, naquele momento, parecia mais difícil. Isso porque, à sua frente, se deparavam com Neuer, um dos melhores goleiros do mundo. Além disso, na semifinal, o alemão havia defendido pênaltis de Cristiano Ronaldo e Kaká.
Porém, a imprevisível equipe inglesa, cuja qual se reinventava de forma extraordinária, não decepcionou. Após começar atrás, quando o chute de Mata parou em Neuer, os ingleses, ali presentes, viram Cech defender a cobrança de Olic e Schweinsteiger ser impedido pela trave.
Assim, a bola do título estava nos pés Drogba. O jogador, aliás, por ser um dos remanescentes, tinha a chance de afastar o fantasma de 2008 – na primeira final de Champions, o time perdeu, nas penalidades, para seu compatriota Manchester United.
Logo, como o almanaque sugere, bola para um lado e goleiro para o outro. Dessa forma, o artilheiro mudava a história dos Chelsea, derrotando o Bayern de Munique em plena Allianz Arena.
Além das quatro linhas
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Em entrevista para a PL Brasil, o jornalista Cahê Mota, do Grupo Globo, que morava em Londres na época e cobria o dia a dia do Chelsea, pela Rede Globo, – contou particularidades do ambiente presenciado, em Munique, no dia da final.
“Eu optei por ir de transporte público, já que queria ir sentindo o clima, para conseguir fazer umas postagens de ambiente. A cidade estava toda de vermelho, algo inacreditável, nunca tinha visto nada igual. Mas, por conta da demanda do jogo, a prefeitura mudou alguns trechos das linhas de trem, para evitar aglomerações. E acabou que, quando eu estava meio perdido, me deparei com a torcida do Chelsea. Assim, antes o que era tudo vermelho, ali estava tudo azul. Eu fui em pé no vagão, e pude ir sentindo toda a emoção dos ingleses.”
Sua dinâmica e a imprevisibilidade, como na final da UCL 2011/2012, encantam gerações distintas a fim de, apenas, festejar sua paixão.
Ficha técnica de Bayern x Chelsea
Data: 19/05/2012
Estádio: Allianz Arena
Bayern de Munique: Neuer; Lahm, Boateng, Tymoschuk e Contento; Schweinsteiger e Kross; Robben, Müller (Van Buyten) e Ribéry (Olic); Mario Gómez. Técnico: Jupp Heynckes.
Chelsea: Petr Cech; Bosingwa, David Luiz, Cahill e Ashley Cole; Mikel, Lampard e Bertrand (Malouda); Kalou (Torres), Juan Mata e Drogba. Técnico: Roberto Di Matteo.