Balanço do primeiro turno da Premier League 2020/2021

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A Premier League 2020/2021 está na sua metade e teoricamente o seu primeiro turno terminou. Teoricamente porque na prática há alguns times com jogos atrasados, como, por exemplo, Everton contra Manchester City. Tais questões são explicadas pelas mudanças ocasionadas pela pandemia. Apesar disso, podemos apontar muitas surpresas, algumas decepções e uma corrida pelo título ainda indefinida que caracterizaram essa primeira metade da competição.

É verdade que na Inglaterra os jogos das 19 primeiras rodadas não se repetem em ordem na segunda parte. Há uma mistura nas rodadas para dar mais dinâmica e atratividade para o produto, às vezes até antecipando partidas. Entretanto, no caso dessa temporada, nem todos os times enfrentaram os outros 19 adversários.

Esta temporada da Premier League teve início dia 12 de setembro de 2020, um mês depois do originalmente previsto. Inclusive, os times de Manchester tiveram seus jogos reagendados porque chegaram a fases agudas das competições europeias da temporada 2019/2020.

 

O balanço do primeiro turno da Premier League 2020/2021

As surpresas do primeiro turno

Nesse cenário sem pré-temporada (os times fizeram amistosos, mas poucos), quem saiu na frente foi o Everton, de Carlo Ancelotti. Os Toffees lideraram as primeiras rodadas da competição com um recorde invicto.

Foram quatro vitórias seguidas antes de um empate no Merseyside Derby (2 a 2). Em seguida, a primeira derrota: para o Southampton, por 2 a 0. Essa sequência deu destaque a James Rodriguez.

O colombiano que estava esquecido no Real Madrid chegou a Liverpool mostrando muito talento. Encaixado no esquema de Ancelotti como um meio campista pela direita, fez ótima parceria com Richarlison e Dominic Calvert-Lewin no ataque.

Alex Pantling/Getty Images

Entre tropeços esperados e outros nem tanto (derrotas para Newcastle e Leeds), o Everton conseguiu se manter firme na parte de cima da tabela e deve brigar por vagas europeias no restante do campeonato.

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Essa primeira metade de campeonato também mostrou a genialidade de Marcelo Bielsa no Leeds United. Apesar de estar num nível de dificuldade maior do que enfrentava com apenas alguns reforços pontuais, o tradicional time de Yorkshire está surpreendendo e mantendo o estilo de jogo que o consagrou campeão da Championship.

Jogando sempre de forma ofensiva, conseguiu alguns resultados expressivos, como, por exemplo, empate contra Manchester City, vitória por 3 a 0 sobre o Aston Villa e goleada para cima do West Bromwich.

As derrotas, quando aconteceram, foram pesadas, certamente, mas o que fica marcado nessa aventura do técnico argentino na elite do futebol mundial é o desempenho. Não houve jogo fácil para nenhum adversário mesmo nos reveses e o time sempre proporcionou entretenimento ao público graças a facilidade em criar oportunidades de gol.

MATTHEW CHILDS/POOL/AFP via Getty Images

Houve alternância na ponta da tabela e diversos times tiveram seus bons momentos no campeonato. Depois do Everton, foi a vez do Tottenham de José Mourinho ganhar destaque.

O português, com o seu estilo reativo e estratégico, brilhou contra os adversários do Big Six: goleada sobre o Manchester United por 6 a 1, vitórias contra Manchester City e Arsenal (2 a 0 ambas) e um empate sem gols contra o Chelsea.

 

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Entretanto, o ritmo caiu nas últimas rodadas e os resultados estagnaram. Em seguida quem apareceu foram os Reds. O Liverpool, mesmo sem seus principais nomes da defesa, emendou uma sequência de vitória que o fez disparar na tabela.

Mas assim como o Tottenham, sofreu na reta final e viu a consolidação do seu maior rival, o Manchester United. Após um começo tortuoso, Ole Gunnar Solskjaer e a diretoria aguentaram as críticas. Com confiança no projeto, os Red Devils se arrumaram depois de levar seis de um time de Mourinho e, com uma sequência de 11 jogos de invencibilidade na liga, assumiram a liderança.

Bruno Fernandes teve enorme participação nessa arrancada. Participou de 18 gols no total. Marcou 11 e deu o passe final para oito. Não a toa, o meia português venceu duas vezes o prêmio de jogador do mês da Premier League (novembro e dezembro de 2020). A briga, agora, é com o rival da cidade, o City.

Há destaque para quem não alcançou o ponto mais alto da tabela, mas fizeram campanhas para ficar de olho no segundo turno. O Leicester de Brendan Rodgers, por exemplo.

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Contra os seis grandes, perdeu apenas para o Liverpool. Acabou com o Manchester City no Etihad Stadium logo nas primeiras rodadas: 5 a 2 com direito a hat trick de Jamie Vardy. Além disso, bateu Arsenal, Tottenham (ambas fora de casa) e empatou com o Man United.

Atualmente o Leicester ocupa a terceira posição e descartar os Foxes da briga pelo título não é sensato. Rodgers vai afirmando cada vez mais o bom trabalho que faz no King Power Stadium.

Rui Vieira – Pool/Getty Images

Também é impossível deixar de fora Ralph Hasenhuttl com o Southampton e Dean Smith com o Aston Villa (e Grealish!). Os dois lutaram contra o rebaixamento na temporada passada e hoje entregam muito mais que o esperado. Os Saints terminaram essa primeira etapa em décimo e os Villans, em oitavo, longe da degola e com dois jogos para trás.

As decepções do primeiro turno

Depois de brigar por vaga na Uefa Europa League, esperava-se que o Sheffield United conquistasse, no mínimo, um lugar longe da zona de rebaixamento. Mas aconteceu o contrário.

A equipe de Chris Wilder fez história do jeito inverso. Os cinco pontos ganhos em 19 rodadas confirmaram o pior início de um time em todas as edições da Premier League. Se não fizer pelo menos seis pontos nos próximos 19 jogos, vai superar o Derby County de 2007/2008 como a pior campanha da história da competição.

ALEX LIVESEY/POOL/AFP via Getty Images

No entanto, existe uma luz no fim do túnel. A primeira vitória aconteceu na rodada 18, contra o Newcastle. E por pior que seja a sequência, os Blades não são nem o pior ataque, nem a pior defesa – cargos ocupados por Burnley e West Bromwich, respectivamente.

Aliás, o West Brom, junto do Fulham, é um capítulo repetido. Eles subiram na sombra do Leeds e apresentaram pouquíssimo de bom na elite. É verdade que os Baggies “brilharam” nos empates com o Liverpool e City, mas a perspectiva não é animadora.

Já o Fulham começou mal e manteve a forma, apesar de ter sofrido menos gols desde o empate contra os Reds. O primeiro manteve a maior parte dos atletas que disputaram a Championship enquanto o segundo contratou diversos reforços, como Ademola Lookman e Ruben Loftus-Cheek, por exemplo. Contudo, não somaram nem 15 pontos.

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Falando em decepção, o Brighton de Graham Potter vive uma situação controversa. Na maioria dos jogos, teve um desempenho de time vitorioso, somando mais expected goals (xG) que os adversários em 10 dos primeiros 15 jogos.

Mas a realidade até agora é de equipe derrotada e preocupada com o rebaixamento. São três vitórias, oito empates e oito derrotas. Curiosamente, as vitórias vieram em jogos cujo o xG foi menor que o do adversário.

Outra torcida que se decepcionou com o rendimento do time foi a do Wolverhampton. Isso porque as vitórias praticamente desapareceram desde que o atacante Raúl Jiménez fraturou o crânio. A seriedade da lesão deixou o retorno de Jiménez ao futebol em dúvida. Na segunda parte da temporada, a equipe de Nuno Espírito Santo poderá contar com o brasileiro Willian José, recém-chegado ao clube.

Na Premier League desde então, os Lobos venceram somente um jogo, contra o Cheslea. Além disso, somaram seis derrotas e dois empates. Um dos resultados negativos foi contra o afundado West Bromwich, já citado acima.

O final da temporada 2019/2020 deixou um gosto de esperança para a nova era do Arsenal. Mikel Arteta ganhou a Copa da Inglaterra ao bater o time do seu mestre, Pep Guardiola, na semifinal e o de seu ex-companheiro de profissão e posição, Frank Lampard, na final.

Como se não bastasse, superou o Liverpool de Klopp na Community Shield nos pênaltis. Duas taças em dois meses. Como não se animar? Contudo, a estabilidade na liga não veio. A campanha dos Gunners se assemelhou a uma montanha russa, cheia de altos e baixos.

Venceu o Manchester United fora de casa, mas perdeu para Aston Villa, Wolverhampton, Burnley e, o mais significativo para a torcida, Tottenham. Em seguida, bateu o Chelsea (de novo) e “reviveu”.

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As rodadas finais trouxeram 13 pontos de 15 possíveis. Ainda assim, está longe do que era esperado pelo que o “Artetismo” prometeu no começo. É um sinal de recuperação e de afirmação do trabalho. O treinador espanhol parece ter encontrado a melhor combinação para o time titular, mas a torcida esperava menos volatilidade contra os menores.

 

E, por fim, o Chelsea. Pelo hype que o mercado de transferência colocou em cima dos Blues, esperava-se a disputa pelo título. Kai Havertz, Ben Chilwell, Hakim Ziyech, Timo Werner, Édouard Mendy e Thiago Silva se juntaram a garotada comandada por Super Frank.

O resultado dessa união, porém, passou longe do ideal. Os londrinos estão atualmente na oitava colocação, 11 pontos longe da liderança. Aparentemente, Lampard não conseguiu encaixar os principais nomes, apesar do começo promissor.

Thiago Silva e Mendy podem ter melhorado a defesa, mas aparições discretas e atuações longe da posição ideal de Havertz abrem questionamentos em cima do técnico inglês. Somado a isso, Werner perdeu mais gols do que fez e Ziyech ficou mais tempo fora do que em campo.

 

Se antes o trabalho de Lampard era elogiado, agora é extremamente questionado. Na temporada passada ele teve que se virar com os garotos da base, como Mason Mount e Tammy Abraham. Nessa, apesar de ter o maior investimento da liga, não é capaz de repetir o mesmo sucesso.

Portanto, qual foi o maior destaque do primeiro turno da Premier League 2020/2021? E qual a maior decepção?

Guilherme Rodelli
Guilherme Rodelli

Jornalista da Rádio Futebol Online, formado em Marketing, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e apaixonado pela Premier League.