Como fica o ataque do Manchester City com a saída de Agüero

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Chegou o fim da passagem de Sergio Agüero pelo Manchester City. Conforme o argentino afirmou que irá deixar o clube, Pep Guardiola e companhia irão se deparar com uma situação desafiadora: a primeira vez em 10 anos que não terão um centroavante de referência. Como fica o ataque do City sem Agüero?

Outrora posição de mais importância, o “camisa 9” do Manchester City se desmembrou nas mãos do treinador espanhol que, hoje, faz com que diversos jogadores rendam o suficiente na posição, sem ser necessariamente um atacante.

A “Agüero Dependência” fez parte de boa parte da história recente do Manchester City. Mesmo com grandes contratações, o argentino se colocou em uma posição de ser a cara do time. Não só pelos títulos – que aconteceram muitos graças aos seus gols. Mas também por momentos em que ele era o único capaz de reverter cenários adversos.

Sua chegada gerou controvérsias, visto que, na época, o Manchester City desembolsou 38 milhões de libras por um jovem que destoava no Atlético de Madrid. Seu impacto foi instantâneo e relevante, com 26 gols em seu ano de estreia na Inglaterra.

O que era duvidoso passou a ser rotineiro. Desde cinco gols contra o Newcastle até o topo da artilharia Citizen, Agüero se tornou referência. Seu faro de gol contagiou a equipe azul e transbordava frente aos gigantes ingleses. Contudo, em um determinado momento, sua magia passou a não ser a única necessidade para o City dar o passo a mais que gostaria.

Em cenários maiores, por exemplo, o Manchester City pecou em detalhes que Agüero não pôde resolver por conta própria. Na primeira semifinal continental do time, o argentino sequer marcou um gol para tirar o zero do placar na eliminação frente ao Real Madrid. Antes, contra o Paris Saint-Germain, Kevin De Bruyne já havia se responsabilizado com dois dos três gols no agregado.

O episódio mais marcante envolve outro gigante do Big Six, em duelo válido pela fase quartas de final da Liga dos Campeões da Europa da temporada 2018/2019. Apesar de ter marcado um gol no 4 a 3 contra o Tottenham, o argentino não desempenhou bem o suficiente para colocar o City em sua segunda semifinal continental.

Na partida em questão foi visto um grande protagonismo de Raheem Sterling, que já dava indícios de o quê Pep Guardiola visava em seu esquema sem um atacante de ofício – já que Sterling na maior parte da carreira atuou pelos lados. A dependência em relação ao argentino se dissipava ao passo que ele se tornava a peça de um jogo bem mais desenvolvido e elaborado para dar certo.

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Com Guardiola, Agüero desempenhou bem. Afinal, ainda era um grande jogador que, na mão de um grande treinador, tende a maximizar seu rendimento. No entanto, a temporada que o argentino mais fez gols nos últimos anos de Premier League, foi, por acaso, a última em que Pep ainda não o treinava.

O espanhol trabalhou pela primeira vez no City durante a temporada 2016/2017. Nela, Agüero somou 20 gols. Nos anteriores, 24 e 26, respectivamente. Desde então Kun não conseguiu passar da marca de 21 gols uma vez sequer. Reflexos de um jogo mais amplo que não depende de uma carta principal.

Da mesma forma com que estilo de jogo mudou, Agüero, com repentinas lesões e 32 anos de idade, se via cada vez mais longe do time ideal. A virada de chave fica ainda mais nítida caso seja feita a análise da atual temporada em que, das 60 vezes que o Manchester City entrou em campo, apenas 34 delas contaram com um centroavante de ofício (Agüero, Gabriel Jesus ou Liam Delap).

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Isso representa por volta dos 57% do total de jogos. Tal qual sobressaem duelos de menor importância, como os de copas nacionais e contra times da parte inferior da tabela. Isto é, decisões importantes, como a fase eliminatória da Liga dos Campeões, foram escolhidos jogadores como Riyad Mahrez, Kevin De Bruyne e Bernardo Silva para referência no ataque. Nomes que trazem mais mobilidade e variação frente a adversários de qualidade maior.

O número comprova de maneira eficiente o quanto Sergio Agüero deixou de ser peça fundamental no elenco. O que nos leva a questionar se a lacuna deixada por ele ao fim da temporada pode não precisar ser preenchida com urgência no mercado de transferências.

Erling Braut Haaland e Harry Kane são dois dos nomes que irão movimentar a próxima janela. Com a saída de Agüero, e por ser um dos times mais ricos, o City entra automaticamente na lista de potenciais destinos. Como dito no início do texto, outrora a posição de atacante já teve mais valor nos Cityzens.

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Dentro de uma organização em que a maioria dos jogadores consegue executar bem o papel de referência do time, é difícil imaginar um investimento de grande porte pelos jogadores citados anteriormente. Conforme os resultados positivos acontecem dentro das quatro linhas, a urgência fora delas diminui.

Sem contar com jovens da base, Gabriel Jesus será o único atacante remanescente no elenco. Apesar de não passar confiança para o torcedor, o brasileiro tem o aval de Pep, como foi visto em clássicos ao longo da temporada.

Por outro lado, um reforço como Harry Kane ou Erling Haaland iria incrementar um arsenal que tem espaço de sobra para ser potencializado. Afinal, nas mãos de Pep Guardiola, o que não é bom, melhora. E o que é bom, fica melhor ainda.

Uma coisa é certa: Pep Guardiola não tem medo de gastar e o Manchester City tem porte o suficiente para isso. Apesar de o cenário indicar um caminho, o espanhol, normalmente, opta pelo mais inesperado – como foi quando gastou milhões em Rúben Dias, por exemplo.

Lucas Pires
Lucas Pires

Jornalista em formação que fala sobre esportes