Eleito o melhor diretor esportivo do futebol europeu em 2023 pelo jornal italiano “Tuttosport”, o brasileiro Edu Gaspar iniciou sua carreira como dirigente no Corinthians e passou pela direção da seleção brasileira antes de assumir o cargo no Arsenal, em 2019.
Em entrevista ao “Estadão” publicada nesta segunda-feira (27), ele comparou os trabalhos nos dois times — pelos quais ele também atuou como jogador antes de se aposentar — e apontou as principais diferenças entre trabalhar no Brasil e na Europa.
Apesar de o dinheiro parecer a grande discrepância entre os dois, esse não foi o fator pontuado por Edu. Para o diretor dos Gunners, o fato de o clubes inglês ser mais parecido como uma empresa é o que mais o distingue do Alvinegro.
— Aqui não existe política. Eu entendo e respeito o processo no Brasil. Eu me dei bem com todos os presidentes no Corinthians, mas aqui é diferente. Eu tenho a sensação de que vivo em uma empresa. Uma empresa de futebol. Eu participo e discuto todas as questões. Orçamento, investimentos, equilíbrio financeiro. Tudo.
Edu Gaspar pendurou as chuteiras em 2011, mesmo ano em que começou como diretor de futebol do Corinthians. Em cinco anos, conquistou a Copa Libertadores, Mundial de Clubes e foi bicampeão brasileiro. Em 2016, foi para a seleção brasileira, onde foi campeão da Copa América de 2019. Depois, seguiu para o Arsenal.
Um outro fato que diferencia a equipe brasileira da inglesa é a pressão da torcida. Apesar de os Gunners também contarem com fãs apaixonados, Edu acredita que ali é possível trabalhar com mais tranquilidade.
— Se você sobrevive no Brasil, você sobrevive aqui na Europa e em qualquer lugar do mundo. Além da política, o Brasil existe uma pressão muito grande da torcida. E ela é bem exagerada, ainda mais no Corinthians — continuou.
O diretor também pontuou a existência de um processo muito meticuloso para realizar contratações. No Emirates, ter dinheiro em caixa não é sinônimo de ter liberdade para gastar como quiser: “Você não pode contratar por contratar”, relatou.
— Isso tem de ser um processo que leva semanas e semanas. Ali na minha mesa, eu tenho relatórios com mais de 180 páginas de um jogador. É coisa detalhada mesmo. Perfil físico, técnico, mental, se tem experiência de Premier League, se vai conseguir se adaptar. Tem tudo.
— Nós analisamos as nossas deficiências, onde podemos melhorar, onde podemos investir e aí vamos em busca desse novo nome. O que vou fazer agora, nós estamos discutindo desde janeiro. Não é uma decisão minha ou do Mikel (Arteta). É de todo um grupo.
Corinthians descartado e foco no Arsenal
Mesmo com grande identificação com o Corinthians, onde começou as carreiras de jogador e dirigente, Edu Gaspar não planeja voltar ao Brasil.
Aos 46 anos, o brasileiro está consolidado no Arsenal e pretende ficar na Europa para encerrar o jejum de títulos de expressão do clube londrino.
— Essa é uma coisa que eu me pergunto bastante (sobre o futuro). Eu estou vivendo um momento que sempre sonhei. Hoje eu não penso em voltar ao Brasil. Não posso dizer nunca, mas hoje eu não penso. Quero seguir por aqui e talvez me aposentar. Não tem como eu pensar diferente disso. Como dirigente, eu ganhei todos os títulos que ganhei como jogador. Falta só o da Premier League.