O que o Arsenal precisa fazer para ser campeão inglês

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Agora não tem mais pausa. Finalizada a Data Fifa das seleções que ocupou o calendário do futebol mundial ao longo da última semana, a Premier League está de volta para a sua decisiva reta final. A partir do fim de semana de 1º de abril, que abriga a 29ª rodada da tabela que tem o Arsenal na liderança, o Campeonato Inglês realiza seus jogos em ritmo semanal até o último e decisivo domingo da temporada, marcado para o dia 28 de maio.

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A menos de dois meses do fim do torneio, a maior expectativa é sobre quem erguerá o troféu de campeão. De um lado, o Manchester City, campeão em quatro das últimas seis edições, agora tem a missão de perseguir o líder para reconquistar um troféu ao qual se acostumaram. Mas a ansiedade maior está do lado dos Gunners, que não só são favoritos como buscam encerrar o jejum de 19 anos sem o título nacional.

A PL Brasil aproveitou a última paralisação no calendário inglês para arregaçar as mangas, consultar a tabela, pegar a calculadora e responder a pergunta que todo aflito torcedor do gigante londrino se faz: afinal, o que o Arsenal precisa fazer para ser campeão inglês?

O cálculo matemático

Embora seja quase irreal, o cálculo matemático é o mais simples de ser feito. Olhando para a tabela, o Arsenal tem 69 pontos em 28 jogos. São oito a mais que o vice-líder Manchester City. Os Citizens, no entanto, tem um jogo a menos por conta da participação nas quartas de final da FA Cup, que atrasou uma rodada para o time.

Caso o City vença seu jogo atrasado — contra o Brighton, fora de casa –, a diferença dos Gunners diminuiria para cinco pontos. Na ponta do lápis, isso indica que o Arsenal, sem depender de ninguém, não teria mais do que uma rodada de vantagem para o segundo colocado. Mas um acréscimo relevante é que os dois líderes se enfrentam na rodada 33.

Ou seja: se o Arsenal vencer todos os seus compromissos daqui até o final da Premier League, incluindo o City, o lado vermelho do norte de Londres poderá comemorar o fim do seu jejum na antepenúltima rodada, em casa, contra o Brighton. Os Gunners fechariam essa jornada com oito pontos de vantagem, com apenas seis pontos a serem disputados.

Agora, se o City conseguir a proeza de vencer todos os jogos, incluindo o rival, mas o Arsenal pontuar o máximo possível além da derrota no Etihad Stadium, os londrinos terminariam o campeonato com dois pontos de vantagem. E a comemoração só viria ao apito final da última rodada.

Por fim, se ambos pontuarem na mesma quantidade (em caso de empate no confronto direto), o Arsenal celebra o título na penúltima rodada, ao vencer o Nottingham Forest fora de casa.

O cenário em que um dos líderes tem 100% de aproveitamento nas rodadas finais não é impossível — em 2018/19, tanto City quanto Liverpool, os dois que brigavam pelo título, venceram seus últimos nove jogos no torneio — mas tampouco é verossímil. Esse cálculo matemático aponta, por exemplo, chances do Fulham, nono colocado com 39 pontos, ser campeão inglês. Bastaria para os Cottagers ganhar seus 11 jogos restantes e torcer para que nenhum dos oito times à frente passem dos 72 pontos.

Mas, para efeito de maior probabilidade, o nosso levantamento descarta até o Manchester United, atual terceiro colocado. Os Red Devils têm dois jogos a menos que o Arsenal e, em caso de duas vitórias, diminuiria sua desvantagem para 13 pontos. Mesmo assim, ainda é uma distância grande demais para considerar o lado vermelho de Manchester um candidato ao título. Afinal, nunca na história da Premier League um time tirou uma diferença de 13 pontos a dois meses do fim do campeonato. O que nos leva, então, ao cálculo mais plausível.

O cálculo mais próximo da realidade

Arsenal e City se enfrentam e, logo, não vão vencer todos os seus jogos até o fim da Premier League. E, mesmo sem a certeza de quantos pontos os dois favoritos ao título farão, é possível fazer projeções com base nos jogos restantes e no passado recente do torneio.

Jogos que faltam para o Arsenal

  • Leeds United (casa) – 1/4
  • Liverpool (fora) – 9/4
  • West Ham (fora) – 16/4
  • Southampton (casa) – 21/4
  • Manchester City (fora) – 26/4
  • Chelsea (casa) – 29/4
  • Newcastle (fora) – 7/5
  • Brighton (casa) – 13/5
  • Nottingham Forest (fora) – 20/5
  • Wolverhampton (casa) – 28/5

Jogos que faltam para o Manchester City

  • Brighton (fora) – sem data
  • Liverpool (casa) – 1/4
  • Southampton (fora) – 8/4
  • Leicester (casa) – 15/4
  • Arsenal (casa) – 26/4
  • Fulham (fora) – 30/4
  • West Ham (casa) – 3/5
  • Leeds United (casa) – 7/5
  • Everton (fora) – 13/5
  • Chelsea (casa) – 20/5
  • Brentford (fora) – 28/5

É importante ressaltar que, entre os jogos com Southampton, Leicester e Arsenal, o City enfrenta o Bayern de Munique duas vezes pelas quartas da Liga dos Campeões e o Sheffield United, pela semifinal da FA Cup.

Uma conta otimista para o City é o melhor jeito de saber o caminho para o fim do jejum gooner. O time de Guardiola não deve ter problemas para faturar os três pontos contra Saints, Leicester, West Ham, Leeds e Brentford, o que dá uma soma de 15 pontos. Mas também chama a atenção a irregularidade do time de Guardiola na temporada, que alterna goleadas estrondosas com empates decepcionantes. Isso pode pesar, por exemplo, contra Brighton e Fulham, que são compromissos difíceis fora de casa, assim como o desesperado Everton, que arrancou um empate em Manchester no primeiro turno.

Imaginamos que os Citizens pontuem entre seis e sete pontos nesses três jogos. Sobram os clássicos contra Liverpool, Chelsea e Arsenal, todos em casa. Mais uma vez, a conta deve ficar entre seis e sete pontos.

Gray comemora gol do Everton no empate contra o City, no Etihad Stadium, pelo primeiro turno - Foto: Twitter @Everton
Gray comemora gol do Everton no empate contra o City, no Etihad Stadium, pelo primeiro turno – Foto: Twitter @Everton

A soma indica que o City poderia acumular entre 27 e 29 pontos na reta final. Com isso, chegaria a no máximo 90 pontos na classificação.

O número a ser batido pelo Arsenal seria, portanto, 91 — descontando os critérios de desempate, até para que o torcedor dos Gunners não sofra além da conta. Para chegar ao número mágico, o time de Londres precisaria somar 22 pontos nos 10 jogos restantes.

Para bater os 91, é fundamental que o Arsenal vença os jogos nos quais é bem favorito. Vitórias contra Leeds, West Ham, Saints, Brighton, Forest e Wolves já renderiam 18 pontos. Restariam, então, quatro pontos a serem somados nos outros quatro jogos, de nível mais difícil: Liverpool, City, Chelsea e Newcastle.

Uma vitória contra os Blues no Emirates e um empate em Anfield ou no St James Park, por exemplo, já seriam suficientes para erguer o título sem depender do resultado no confronto direto. Duas vitórias contra os adversários do ‘big seven' torna o título ainda mais próximo.

Os piores e melhores vices da Premier League

Também é necessário acrescentar um pouco de contexto à numeralha. O pior vice-campeão da história da Premier League foi o Newcastle de 1996/97, que somou 68 pontos — uma pontuação já ultrapassada pelo atual Arsenal.

Mas uma comparação mais precisa pode levar em conta as últimas seis temporadas do Campeonato Inglês, justamente o período em que Guardiola treina o City. À exceção de seu primeiro ano na Inglaterra, quando ficou em terceiro lugar com 78 pontos, o time de Manchester sempre foi campeão ou vice com o espanhol no comando.

Nas cinco temporadas seguidas, a pior pontuação do City foi os 81 pontos em 2019/20, quando terminou em segundo lugar. Em três oportunidades a equipe de Guardiola passou dos 90 pontos: 100 em 17/18, 98 em 18/19 e 93 em 21/22 (em todas elas foi campeão).

Já o pior vice-campeão desse período foi o Manchester United e seus 74 pontos em 2020/21. O melhor foi o Liverpool, que chegou a incríveis 97 pontos e não foi campeão em 2018/19, justamente o ano em que o City fez 98. A campanha dos Reds também marcou o vice-campeão que mais pontuou na história da liga.

Em suma, caso a lógica dos últimos anos continue, mesmo o prognóstico mais otimista para os Gunners indica que o time de Guardiola passará dos 80 pontos. E não raro chega aos 90 — ainda que o limite matemático, no momento, seja de 94 pontos.

Tudo corrobora com a conclusão de que, para ser campeão e encerrar o jejum de duas décadas, o Arsenal deve precisar de pelo menos dois terços dos pontos restantes. Uma missão que ficará mais fácil se Arteta e cia. fizerem o dever de casa e vencerem os jogos nos quais são favoritos. A partir daí, basta “apenas” não passar em branco contra os maiores rivais que os Gunners estarão com uma mão na taça.

Isso, claro, assumindo que o futebol é um esporte previsível. O que nem sempre (ou quase nunca) é verdade.

Diogo Magri
Diogo Magri

Jornalista nascido em Campinas, morador de São Paulo e formado pela ECA-USP. Subcoordenador da PL Brasil desde 2023. Cobri Copa América, Copa do Mundo e Olimpíadas no EL PAÍS, eleições nacionais na Revista Veja e fui editor de conteúdo nas redes sociais do Futebol Globo CBN.

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