A temporada 2018/2019 está sendo marcada pela forte disputa entre Liverpool e Manchester City pelo título. A diferença que já chegou a ser de 10 pontos em favor dos Reds, agora é de apenas um, e o time do técnico Jürgen Kloop tem um jogo a mais que o Citizens.
Com a distância tão curta entre os que brigam pela ponta da tabela, e levando em conta que uma competição de pontos corridos todo jogo tem grande importância, é natural que os confrontos que tiveram seus placares diretamente modificados por erros dos árbitros comecem a vir à tona. E na atual temporada da Premier League não foram poucos os erros grotescos dos árbitros desde a primeira rodada.
Com isso, a PL Brasil conversou com Sálvio Spínola, ex-árbitro de futebol, comentarista de arbitragem da ESPN Brasil, emissora detentora dos direitos de transmissão da Premier League no país.
Diferenças entre a arbitragem brasileira e inglesa
Muito se fala sobre as diferenças entre a arbitragem no Brasil e na Inglaterra, principalmente em relação ao número da faltas assinaladas. Para Sálvio Spínola isso isso se dá devido ao contexto cultural que envolve o jogo.
“De fato existem diferenças sim. Mas acredito que é algo ligado ao comportamento, conduta dos jogadores, e também ao próprio jogo em si. A dinâmica da partida faz com que o árbitro conduza tudo de forma diferente do que estamos acostumados aqui”, disse o ex-árbitro, que ressaltando também o tempo que a bola fica em jogo nas partidas da Premier League.
“É comum ouvirmos que na Inglaterra os árbitros marcam menos faltas do que a arbitragem brasileira, isso é algo que eu, de certa forma discordo. O futebol brasileiro tem mais faltas que o futebol inglês, assim como também tem mais arremessos laterais. Na Premier League a bola sai menos do campo de jogo, fica mais em disputa, é algo cultural”.
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Relação entre árbitros e jogadores
Para que o jogo tenha muito mais bola rolando, é preciso que exista compreensão de árbitros e jogadores sobre cada lance. A relação entre as duas partes é algo que, segundo Sálvio Spínola, ajuda o jogo fluir.
“Na Inglaterra existe uma forma de gerir a partida que faz com que o jogo em si seja muito mais importante. No Brasil a gestão é mais punitiva. Quer punir o jogador a todo momento. Pra mim aqui existe um ‘abismo’ entre o árbitro e o atleta, sendo que lá não há essa distância, ambos estão muito próximos”.
Outro ponto importante que o comentarista citou foi em relação ao respeito com a arbitragem na Inglaterra. “É lógico que a parte técnica do árbitro é fundamental, mas eu entendo que lá exista muito mais credibilidade. No Brasil, os árbitros sempre são clocados à prova. Isso se dá também pelo fato de que aqui as federações estaduais estão no comando. O ‘patrão’ do árbitro é o presidente da federação, e não a CBF. Na Inglaterra a arbitragem é comandada pela entidade nacional do país. Claro que temos erros na Premier League, mas não é colocada a credibilidade do árbitro em cheque”.
Temporada marcada por erros
Até o momento aconteceram muitos erros claros de arbitragem na Premier League 2018/2019. Gols de mão, impedimentos claros e falta no goleiro. O cardápio de equívocos é variado.
“O motivo disso, na minha opinião, é muito mais pelo jogo, pela grande competitividade. Passou a ter no futebol inglês um maior número de decisões a serrem tomadas pela arbitragem. Antes eu via uma partida sem que o árbitro tivesse que tomar essas grandes decisões, o jogo se resolvia normalmente, hoje não. A intervenção do árbitro está sendo muito mais necessária. O melhor modelo do jogo para o árbitro é aquele que ele precise intervir menos, o que não ocorre mais na Inglaterra”, afirmou Sálvio Spínola.
VAR na Premier League
A Premier League será a última grande liga da Europa a ter o VAR. Na temporada 2019/2020 todos os jogos terão o assistente de vídeo para arbitragem. Favorável ao uso da ferramenta, Sálvio comentou sobre a demora da liga.
“É fato que o futebol inglês relutou um pouco por conta de alguns testes frustrantes na Copa da Inglaterra, onde tivemos muitos erros, muitos equívocos. Eu entendo que o protocolo precise de alguns ajustes, pois está cada vez mais extensivo. O VAR não é para substituir o ser humano, é sim uma ferramenta de ajuda para grandes decisões, que poucas vezes deva ser usada”.
Arbitragem da Premier League
“Eu vejo com muito bons olhos a arbitragem na Premier League, e na Inglaterra como um todo. Lá se tem um conceito muito maior de experiência e capacidade do árbitro no entendimento do jogo. Não estou falando sobre profissionais mais veteranos, mas sim rodados, que sabem conduzir bem o andamento do jogo”, ressaltou.