Exclusivo: Andrey Santos revela por que preferiu empréstimos em vez de ficar no Chelsea

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Andrey Santos foi o capitão da seleção brasileira que venceu o Sul-Americano sub-20 de 2023 — e artilheiro do torneio mesmo sendo volante. Impressionou no Vasco e, como uma das principais promessas do mundo na sua posição, rapidamente foi contratado pelo Chelsea.

Os Blues desembolsaram 12,5 milhões de euros (R$ 70,7 milhões, na cotação da época) em janeiro de 2023 para contratar a joia. Um ano e meio e dois empréstimos depois de chegar a Londres, ele está animado para evoluir na Premier League.

Em entrevista exclusiva à PL Brasil, Andrey avaliou seu primeiro ano na Europa e falou sobre os bastidores de seus empréstimos, revelando o motivo de ter preferido essa opção em vez de permanecer no em Stamford Bridge.

O início no Chelsea e a expectativa alta

Andrey foi contratado pelos Blues em janeiro de 2023, mas ficou mais alguns meses no Vasco e só chegou ao clube em julho, no início da temporada 2023/24. Isso porque ainda não tinha os pontos necessários para obter um visto de trabalho britânico.

Apesar da espera, quando chegou, surpreendeu. Na pré-temporada sob o comando de Mauricio Pochettino, jogou quatro e foi titular em três dos cinco jogos na turnê nos Estados Unidos.

  • 62 minutos contra o Wrexham
  • 63 minutos contra o Brighton
  • 25 minutos contra o Newcastle
  • 46 minutos contra o Fulham
  • Ficou no banco contra o Borussia Dortmund

Os primeiros jogos da era Pochettino foram muito promissores. Experimentando no 4-2-3-1 que se tornou marca registrada na temporada, o argentino alternou Andrey ao lado de Enzo Fernández, Casadei e Gallagher, três perfis diferentes de meio-campistas os quais o brasileiro conseguiu complementar muito bem.

Como o mais defensivo da dupla na maior parte do tempo, o ex-vascaíno teve bons momentos protegendo a defesa e sendo o pivô que progride o jogo nas primeiras fases de construção.

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Andrey na pré-temporada do Chelsea (Foto: Icon Sport)

O bom desempenho chamou a atenção da imprensa local e o brasileiro passou a ser tratado como uma opção real para a rodagem do inflado elenco do Chelsea. Andrey, inclusive, esteve no banco na primeira rodada da Premier League, no empate contra o Liverpool.

O próprio volante entende que foi bem e pessoas próximas admitiram isso a ele. Criou-se uma expectativa sobre sua permanência.

Assim que eu cheguei, fiz uma pré-temporada muito boa, muito produtiva. Fiquei muito feliz e satisfeito com meu desempenho, mas infelizmente eu não tive uma sequência — disse o jovem meio-campista.

Mesmo assim, ele não voltou a ser relacionado pelo argentino nas rodadas seguintes e foi emprestado ao Nottingham Forest, em um movimento surpreendente dos dois lados.

Primeiro pelo desempenho de Andrey — esperava-se que as oportunidades aparecessem — e depois pelo destino. O Forest foi justificado pelo fato de estar na Premier League e oferecer um desafio real ao jovem volante, mas o elenco, principalmente na sua posição, estava tão inchado quanto.

Empréstimo frustrante no Forest

À PL Brasil, Andrey Santos contou bastidores sobre sua troca de clube na Premier League. Tanto jogador quanto clube queriam que houvesse a permanência, mas a situação em Stamford Bridge não ajudou:

— Eles me deixaram bem à vontade. Eu também queria ficar, mas, naquele momento, até para ter sequência na evolução da minha carreira, era importante eu estar tendo minutos em campo — contou o jogador.

E o espanto com o empréstimo não veio só para público e imprensa. O próprio jogador se mostrou surpreso com a situação, por mais que fosse algo que ele tenha concordado em tudo.

— Surpreendeu um pouco (ter saído por empréstimo), mas entendo que é o processo. É muito difícil para um jovem que vem do Brasil ao exterior chegar jogando, ainda mais na Premier League.

Andrey pelo Nottingham Forest (Foto: Icon Sport)

Com olhar sereno e a fala tranquila, Andrey se mostra um jovem de 20 anos muito centrado e com uma paciência ímpar para lidar com os percalços. Ele lembra de Gabriel Jesus, um dos únicos que foi à Inglaterra — e em um time gigante — ainda muito novo e chegou jogando, e entende que casos como esse são exceção, não regra.

E o empréstimo ao Forest foi encarado da mesma forma: possibilidade de aprendizado, sem frustrações e reclamações. E mesmo que Andrey tivesse acabado em um time repleto de volantes — e que contratou ainda mais depois da sua chegada — ele não vê com maus olhos seu tempo no clube.

— Não tem como a gente prever o que vai acontecer. Mas eu estava sempre bem, disposto a ajudar e fazendo a diferença no treino, tanto é que o técnico na época, Steve Cooper, estava me elogiando muito nos treinamentos, mas infelizmente não me deu oportunidades. Eu estava no meu auge tanto física quanto tecnicamente.

O volante esteve no Nottingham Forest entre o fim de agosto de 2023 e a primeira semana de janeiro de 2024. Nesse período, atuou apenas duas vezes: uma pela Copa da Liga, contra o Burnley, e os minutos finais contra o Liverpool, pela Premier League.

Mais um empréstimo e destaque na França

Depois de meses sem sequência no Forest, a direção dos Blues decidiu chamar Andrey de volta. Porém, ela não se transformou em novas oportunidades.

Um respiro foi o Pré-Olímpico com a seleção brasileira. Mesmo sem a classificação para os Jogos de Paris, a felicidade de vestir a camisa amarela é algo revigorante para o atleta — que lembrou com felicidade as passagens desde o sub-15 na Seleção.

Em meio a toda essa situação, ainda haveria a possibilidade de um novo empréstimo. O volante revelou à reportagem como tudo isso se desenrolou:

— Quando meu contrato (com o Nottingham Forest) se encerrou, eu foquei em voltar ao Chelsea e para o Pré-Olímpico, que também era meu objetivo. Eu amo defender meu país. Depois do torneio, a gente ia avaliar as sondagens e propostas de empréstimo. O mais importante era minutar.

As coisas foram mais rápidas que ele imaginava, no entanto. Andrey foi emprestado ainda durante o Pré-Olímpico: o torneio durou do dia 23 de janeiro até 11 de fevereiro, e o volante se tornou jogador do Strasbourg, da França, no dia 31 de janeiro.

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Andrey em ação pelo Strasbourg (Foto: Icon Sport)

Se no início da temporada ele tinha uma visão, o meio da campanha trouxe outra opinião à cabeça de Andrey sobre permanecer nos Blues. Ele admitiu que preferia ser emprestado mais uma vez caso seguisse sem oportunidades na Inglaterra.

— Eles (direção do Chelsea) sempre foram muito tranquilos quanto a isso. Sempre tomamos a decisão em conjunto. Eu preferia sair por empréstimo porque o time já estava formado, entrosado. Tinha muitos jogadores na minha posição. Eu preferi sair por empréstimo para o Strasbourg — contou.

Olhando em retrospecto e com uma análise muito madura dos seus passos na carreira, o ex-vascaíno não tem dúvida sobre a sua decisão:

“Foi uma escolha certa. Consegui mostrar meu futebol para a Europa. Foi uma sequência muito boa para mostrar meu potencial”.

Na equipe francesa, Andrey Santos rapidamente entrou na rotação e se tornou titular quase incontestável. Foram 11 jogos na Ligue 1, nove deles como titular, e até conquistou prêmio de Melhor Jogador Jovem do mês de março.

Guilherme Ramos
Guilherme Ramos

Jornalista pela UNESP. Escrevi um livro sobre tática no futebol e sou repórter da PL Brasil. Já passei por Total Football Analysis, Esporte News Mundo, Jumper Brasil e TechTudo.

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