Análise tática do Wolverhampton de Nuno Espírito Santo

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Campeão da Championship em 2017/18 com sobras, os Wolves voltaram cercados de expectativa para Premier League e, em 11 rodadas até agora, não vem decepcionando. 

É verdade que a equipe vem de 3 derrotas seguidas (as únicas três até agora), mas mostra um desempenho bem acima do comumente apresentado por equipes recém-promovidas. 

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O ELENCO 

O elenco que Nuno Espírito Santo é recheado de jogadores portugueses (são 7 no total) e consegue mesclar muito bem experiência e juventude. Há jogadores rodados como João Moutinho, e jovens promessas, como Rubén NevesAdama Traoré. 

A base campeã foi mantida, com a adição de jogadores de outras ligas (principalmente a portuguesa). O ataque foi qualificado com Raúl Jimenez, ex-Benfica, e a defesa, com Rui Patrício, ex-Sporting. 

O meio de campo é o setor com melhores opções e mais destaque. Ruben Neves mostra-se ótimo jogador moderno porque ataca e defende com muita eficiência. Ainda conta com o auxílio do conterrâneo João Moutinho para criar jogadas. 

Roman Saiss, titular até o acesso, perdeu espaço, mas ainda colabora como opção. O belga Leander Dendoncker é outro que chegou para qualificar o setor. Além disso, o ex-Anderlecht pode exercer a função de zagueiro. 

Outro que vale destaque é Morgan Gibbs-White, campeão sub-17 com a Inglaterra em 2017 (colega de Jadon Sancho, Phil Foden e Angel Gomes). O meio campista de 18 anos aos poucos vai entrando no time como opção interessante na construção de jogo. 

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Ele já participou de 5 jogos, vindo do banco em todas as oportunidades. Foram 59 minutos jogados e uma chance de gol criada. O começo é animador para os torcedores não só do Wolves, mas da Inglaterra em geral porque Gibbs-White faz parte do processo de renovação do futebol inglês. 

O ataque tem opções de velocidade pelas pontas, com os portugueses Ivan Cavaleiro, Diogo Jota e Helder Costa. Na referência, Raúl Jimenez é um pivô alto e generoso. Já o brasileiro Léo Bonatini foi o vice-artilheiro da equipe na campanha anterior. 

Talvez o principal ponto fraco sejam os zagueiros. Apesar de ter dividido a melhor defesa da segunda divisão com o Cardiff, para os altos padrões da Premier League as opções deixam a desejar. 

Willy Boly, Ryan Bennett e Conor Coady são zagueiros altos e fortes, porém lentos. O esquema de Nuno os resguarda de certa forma, mas têm dificuldades contra ataques leves. 

O TREINADOR 

Nascido em São Tomé e Príncipe, ex-colônia portuguesa, era conhecido apenas como Nuno em seus anos de goleiro profissional. Jogou por diversos clubes em Portugal e ainda passou por La Coruña e Osasuna, da Espanha, e Dynamo Moscow, da Rússia. 

Então como treinador, comandou o Rio Ave em sua primeira experiência. Em 2 anos, levou o time de pouca expressão às finais das Copas nacionais e à UEFA Europa League pela primeira vez na história. 

Tal sucesso despertou o interesse do Valencia, substituindo Juan Antonio Pizzi em 2014. Ficou em quarto no Campeonato Espanhol numa campanha em que não foi derrotado pelo Real Madrid, por exemplo. 

Apesar de eleito três vezes técnico do mês naquela temporada, foi desligado na seguinte após derrota para o Sevilla. Dessa forma, o Porto ofereceu-o um contrato de 2 anos.

Sem conquistar qualquer título com os Dragões, Nuno deixou o clube em maio de 2017 para assumir o Wolverhampton. No time inglês, até agora, tem o melhor aproveitamento de sua carreira como técnico: 58,5%. 

A TÁTICA DO WOLVERHAMPTON

Nuno Espírito Santo, desde que chegou em 2017 vindo do Porto, escala seus 11 iniciais num 3-4-3, podendo variar para um 5-4-1 na defesa. O esquema tático deu muito certo no Wolverhampton na temporada passada e sua manutenção se mostra correta para a temporada atual. 

Prova disso é que nas 10 primeiras rodadas, os jogadores que entraram em campo foram sempre os mesmos e na mesma disposição tática. Rui Patrício, Bennett, Coady e Boly, Doherty, Moutinho, Neves e Jonny, Jota, Costa e Jimenez. 

Os jogadores já estão acostumados com as posições e sabem o que fazer na hora de defender e de atacar. Por isso, a equipe é extremamente obediente e consegue se compactar de forma rápida e precisa. 

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FASE DEFENSIVA 

Quando está se defendendo, os jogadores se organizam num 5-4-1, como dito anteriormente. Os alas, Doherty e Jonny, se juntam aos 3 zagueiros para formar a primeira linha de 5 homens.

Já os pontas, Jota e Helder Costa, se integram ao meio-campo ao lado de Neves e Moutinho, formando a linha de 4 no centro. Raúl Jimenez tem poucas atribuições defensivas e fica à frente como referência para a transição rápida.

Estas duas linhas se compactam entre a entrada de sua área e aproximadamente 15 metros antes do círculo central, dificultando as infiltrações adversárias. A marcação flutua sempre para o local da bola, buscando gerar superioridade numérica no setor.

Até a 11ª rodada, os números são bem condizentes com a campanha mediana, apesar de surpreendente. É a décima equipe com maior número de desarmes (tackles) e a oitava em interceptações.

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Moutinho é quem mais vence as divididas (26) e é o quinto no campeonato. Boly é quem mais intercepta jogadas no time. São 22 em 11 partidas, sendo o 11º entre os jogadores.

Se Moutinho é quem mais dá o bote, é o segundo que mais comete faltas na equipe. Foram 18 faltas cometidas, apenas uma a menos que Bennett, o líder no quesito. Até agora, no entanto, nenhum jogador foi expulso.

Em bolas aéreas, Doherty, mesmo com 1,82m, ganhou 54 duelos por cima. No campeonato, é o sétimo. Por outro lado, Ryan Bennett já perdeu 35 desses duelos e ocupa a décima posição nessa estatística desagradável.

Ao mesmo tempo, o zagueiro é quem mais afastou bolas de cabeça (35) e também é o décimo jogador da Premier League que mais faz isso.

As forças defensivas passam pelo bom aproveitamento pelo alto e têm muita segurança quando estão em vantagem no placar. Contudo, ainda concedem diversas chances pelos lados, já que os laterais fecham, e há espaço na entrada da área para chutes de longe.

CONSTRUÇÃO DO ATAQUE 

Ofensivamente, o time pode ser visto num 3-4-3 ou num 3-4-2-1. Na segunda forma, Diogo Jota e Helder Costa aparecem por dentro e os alas Doherty e Jonny abrem para dar amplitude. O contrário também acontece com o objetivo de confundir a marcação.

Graças à compactação defensiva, o time aprecia a transição rápida para o ataque. Utiliza a velocidade dos externos portugueses e o físico e altura do mexicano Jimenez entre os zagueiros.

Mas se precisar trabalhar a bola, os Wolves não se sentem desconfortáveis. É um dos times que mais cria jogadas, mesmo com média de posse menor que 50%. Prova disso foi a partida contra o Southampton, na 7ª rodada.

Na partida contra o Burnley, por exemplo, foram 30 chutes contra a meta do goleiro Joe Hart. Inclusive, o Wolverhampton é o terceiro time que mais finaliza na liga. No entanto, é apenas o nono que mais acerta o gol (53 chutes certos). A má pontaria é o principal motivo da ineficiência ofensiva em muitos momentos.

O mapa de calor do jogo contra o Burnley mostra como o time pressionou. Claramente, lado direito tem destaque (Whoscored.com)

Ruben Neves é o cara da construção. Por ele passam todas as jogadas. Participou de 855 ações com a bola (15º na liga) e deu quase 700 passes em 11 jogos.

Aliás, Neves (678) e João Moutinho (623) estão entre os 20 atletas que mais passam a bola. Jorginho (1.136) é o líder, claro, do top 5 que ainda tem nomes como, por exemplo, Fernandinho (767) e Pogba (700).

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O time costuma tratar muito bem a bola e é o 9º time que mais troca passes (4888). O percentual de acertos também é alto, chegando a 80%. Eles variam entre passes curtos, em profundidade e lançamentos/cruzamentos.

Os passes em profundidade, por sinal, são especialidade da casa. Foram 20 tentativas, 15 a menos que o Chelsea, líder no geral. Já os Wolves estão em 5º.

Neves, certamente, é quem mais busca esse tipo de passe. Enfiou 4 bolas para seus companheiros, se tornando o 8º na estatística do campeonato. O líder, mais uma vez, é Jorginho com 9.

Os passes curtos, porém, causam a perda da posse em muitas ocasiões, junto das jogadas individuais. Perderam a posse 130 vezes. Somente Crystal Palace (1º), Chelsea (2º) e Manchester United (3º) foram desarmados mais vezes.

Por característica, Helder Costa é quem mais contribui. O camisa 10 português perdeu a pelota 24 vezes e é o 8º na liga. Em seguida, vem Diogo Jota e Adama Traoré, mesmo o último sendo reserva na maioria das vezes.

As jogadas pelo lado direito, principalmente, são a arma do time. De lá saem a maioria das jogadas e dos cruzamentos. É o lado preferido, somando 45% das ações ofensivas.

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Time ataca pela direita e trabalha a posse pelo meio (Whoscored.com)

Para aproveitar a estatura de seu centro-avante, a bola levantada para área é um artifício bem requisitado também. A equipe é a 5ª em cruzamentos (228) e, novamente, um português se destaca: João Moutinho (3º) é quem mais cruza – 76 cruzamentos (61 de escanteios).

O aproveitamento, entretanto, é de apenas 25%. Ou seja, a cada 20 bolas cruzadas, somente 5 chegam ao destino final em boas condições.

Resumindo, Nuno Espírito Santo arma o seu time para utilizar bastante os lados do campo, dando amplitude às jogadas. Seus meio-campistas apreciam a troca de passe, bolas enfiadas e chutes de média distância.

Quase metade das finalizações são feitas de fora da área e pelo centro do gramado (Whoscored.com)

Os pontas são acionados com frequência para utilizarem a velocidade e habilidade em jogadas individuais. Raúl Jimenez é um atacante extremamente generoso, que mais colaborara na preparação do que na finalização das jogadas.

Apesar das várias chances criadas, a falta de pontaria afeta os resultados da equipe. Por outro lado, o time titular costuma ser seguro e consistente. Afinal, a escalação inicial foi repetida em 9 das 11 rodadas disputadas.

*dados colhidos até a 11ª rodada do site oficial da Premier League e do Whoscored.com
Guilherme Rodelli
Guilherme Rodelli

Jornalista da Rádio Futebol Online, formado em Marketing, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e apaixonado pela Premier League.