Altos e baixos da Premier League #10 – Leicester, Xhaka e Fabinho

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Foi uma rodada repleta de entretenimento. Da maior goleada da história da Premier League até um ótimo jogo entre Liverpool e Tottenham, pontos a serem discutidos não faltam. Como costuma ser na rotina do Campeonato Inglês.

E por isso trago, a partir de hoje, um quadro semanal com três fatos positivos e três negativos. O melhor e o pior do que está acontecendo na elite da terra da rainha.

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Altos e baixos da Premier League #10 – Leicester, Xhaka e Fabinho

Positivos

1) Um placar que não acontece nem no FIFA 

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O Leicester pode estar a caminho de mais uma temporada quebrando a hegemonia do big six. Dessa vez não visando o título, claro, mas uma vaga entre os seis – quem sabe, quatro – primeiros colocados e a classificação para competições europeias. O rendimento já era convincente desde a chegada de Brendan Rodgers, em fevereiro, mas noites como a de sexta-feira elevam o status do clube.

A fase do Southampton não é das melhores, mas não é sempre que vemos um nove a zero. Ou melhor, zero a nove. Em um mundo onde muitos acabam ‘tirando o pé’ depois de abrir certa vantagem, os Foxes aproveitaram a situação e, com um jogador a mais, demonstraram que podem punir os adversários de várias maneiras. Por dentro, Maddison cria como poucos e Tielemans é uma ameaça constante na finalização.

Pelos lados, Chilwell e Ricardo Pereira vão subindo de patamar a cada partida e produzem tanto nos passes quanto na conclusão das jogadas. Em profundidade, Vardy está mais letal do que nunca.

Barnes é uma ótima opção de velocidade e Ayoze Pérez mostrou com o hat-trick que está se adaptando e pegando confiança. Sim, as coisas poderiam melhorar. E estão melhorando. Azar dos concorrentes.

2) O Liverpool dos laterais. E de Fabinho

Na semana passada, o Liverpool teve uma sequência de 17 vitórias na Premier League interrompida por seu maior rival. O Manchester United teve uma estratégia bem pensada para anular quase todas as armas de Klopp e, em geral, nem mesmo os famosos laterais foram perigosos. Até a reta final e antes da assistência de Robertson, não tinham jogado como de costume. O sucesso de Solskjaer não foi o mesmo de Pochettino.

O argentino também conseguiu fechar as portas até certo ponto, adotando uma postura mais retraída e explorando as dificuldades dos Reds para avançar pelo centro. Mas faltou tática – e qualidade, considerando as atuações de Rose e Aurier – para conter as investidas da melhor dupla de laterais do mundo. Robertson e Arnold dessa vez sufocaram a marcação do Tottenham, municiados por uma figura dominante mais atrás.

Fabinho. O meio-campista que demorou pra se adaptar quando veio do Monaco, mas, pouco a pouco, foi se transformando em referência da posição. Diante de um Spurs menos agressivo do que antigamente, foi o maestro do jogo e saiu de Anfield como o melhor da partida. O brasileiro segue sendo fundamental para os objetivos do Liverpool.

3) A atuação completa do Manchester United

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O United fez uma de suas melhores exibições sob o comando de Ole Gunnar Solskjaer – certamente a melhor na temporada. Em Carrow Road, contou com um Norwich disposto a facilitar o trabalho ao jogar exatamente da forma que o adversário se sente confortável. Saída de bola desde a zaga, muitos passes horizontais, linha alta e pouca pressão na marcação.

Mas o time de Manchester explorou todos os pontos que podia – menos nos pênaltis, momento que está se tornando um pesadelo. No geral, os Red Devils amassaram os donos da casa com uma performance agressiva, pressão alta, intensidade e verticalidade. O foco estava na meta de Krul – que fez milagres – e a plataforma para desenvolver o jogo foi vista desde o início.

Maguire, Lindelof e Wan-Bissaka faziam a cobertura, com o último em especial dando um show na recomposição, e juntos com McTominay davam a liberdade para as peças ofensivas se soltarem.

Diante de um dos melhores laterais defensivos da liga (Jamaal Lewis), James continuou incomodando a cada investida. Do seu lado, Rashford e Martial deram um exemplo do que o torcedor reza para ver sempre.

Uma dupla de atacantes talentosos e muito capacitados produzindo com consistência, mostrando entrosamento e combinando para superar defesas rivais. O francês teve uma atuação completa, levando a melhor como pivô e se movimentando para abrir e explorar espaços, enquanto o inglês não parou de chegar com qualidade por um minuto sequer. Até Fred conseguiu ser dominante. Bons sinais.

Negativos

1) O Southampton está na sombra do seu passado recente
Southampton James Ward-Prowse Naomi Baker Collection Getty Images Sport
Naomi Baker Collection Getty Images Sport

Não tem como deixar de falar sobre o outro lado da moeda dos nove a zero. Ralph Hassenhutl chegou no Southampton em dezembro de 2018 e reviveu temporariamente um time que estava fadado ao rebaixamento. Tirou leite de pedra e prometia continuar nessa temporada, mas fica difícil com a (falta de) colaboração do elenco.

Existem peças interessantes, como Hojbjerg e Ings, mas analisando friamente percebe-se uma qualidade baixa em praticamente todos os setores. A tomada de decisão em campo tem sido lamentada também e uma expulsão aos 12 minutos não ajudou. Mas Bertrand está longe de ser o culpado pela maior derrota da história da Premier League.

A equipe teve uma postura incompatível até mesmo com quem luta contra a queda, dando ao Leicester totais condições de aumentar o placar a cada posse de bola. O irônico é que, há poucos anos, os Saints estavam justamente na posição dos Foxes: eram os favoritos dos neutros, bons de ver jogar e ameaça ao big six.

Uma sequência de escolhas questionáveis da diretoria, tanto com Nicola Cortese ou com Les Reed no comando, sabotou o próprio crescimento do clube e a expectativa agora é em breve fazer uma visita à Championship. Pelo menos entenderam que a culpa não é do treinador, dando um voto de confiança para Hassenhutl e prometendo rever a montagem do plantel.

2) Situação de Xhaka abre os olhos de todos os envolvidos

Granit Xhaka se tornou um personagem icônico nos últimos anos de Premier League. Não exatamente por suas performances em campo, mas sim tudo que o envolve – pro bem ou pro mal. Uns o veem como talento incompreendido e outros não entendem como chegou ao ponto de ser titular absoluto e capitão de um clube como o Arsenal.

O fato é que sua atitude ao ser substituído e vaiado no empate contra o Crystal Palace não ameniza a situação. Nenhum indivíduo merece conviver com críticas – a maioria não construtiva – enquanto desempenha sua profissão. E reagir como fez quando saiu do campo gera um caso incômodo para todos os envolvidos com os gunners. A faixa que estava no seu braço deveria ter lhe lembrado disso.

Por outro lado, é mais uma oportunidade para ressaltarmos a importância de medir nossos atos como pessoas que estão fora do jogo. É impossível cravar como um ser humano lida com a repercussão do seu nome e a meta tem que ser a de um esporte menos tóxico. De qualquer forma, Emery tem mais um problema nas mãos. Como se já não tivesse o bastante.

3) O Norwich cai na realidade. E na tabela

Não faz muito tempo que o Norwich estava sendo exaltado pelo mundo por sua ‘coragem’ contra o Manchester City. A vitória por 3 a 2 sobre os atuais bicampeões da Premier League na hora se elencou como um dos pontos principais da temporada, mas pode acabar sendo único.

Porque a realidade do campeonato não é tão simples quanto a que encontraram naquele dia, com erros bobos e estranhos do adversário e um caminho facilitado para o triunfo.

Desde então, um choque: foram cinco jogos, quatro derrotas e o melhor resultado sendo um empate contra o Bournemouth. Sofreu 12 gols e marcou apenas dois. Cada vez parece mais claro que o fator ‘novidade’ conseguiu surpreender no início, mas ainda falta bastante coisa para demonstrarem competitividade na elite. A performance contra o United foi uma das piores de qualquer time em 19/20.

É até difícil entender como o placar final não foi cinco ou até seis a zero para os comandados de Solskjaer. Daniel Farke mandou para o campo um conjunto incapaz de ler os movimentos do oponente, entregando a posse assim que começavam a construir e insistindo no erro no momento seguinte.

Quando por algum milagre conseguiam superar as primeiras linhas de marcação dos Red Devils, a lentidão das peças de ataque foi bem recebida por Wan-Bissaka e companhia.

A sorte é que clubes como Southampton e Watford, que tinham a expectativa de estar em posições melhores, fazem uma péssima campanha e estão no rebaixamento. Na 19ª posição, porém, e entregando os pontos nas mãos dos adversários, a estadia na Premier League pode acabar sendo apenas um bate-volta.

Lucas Filus
Lucas Filus

Jornalista. Estou também no Footure e fui blogueiro do Manchester United no ESPN FC por 4 anos. Apaixonado por futebol inglês.