Mesmo sendo um dos rostos mais famosos de uma competição, poucos sabem que Sir Alex Ferguson já treinou em um torneio bem maior. Isso porque, surpreendentemente, ficou encarregado de comandar a seleção da Escócia na Copa do Mundo de 1986.
SAF é um dos nomes mais vitoriosos do futebol inglês. Ao longo da vida, construiu uma carreira com grande currículo e, de certa forma, único. Certamente quando se fala de Ferguson, a associação imediata é ao Manchester United e à Premier League.
Quis o destino que um dos maiores treinadores da história do esporte tivesse a oportunidade de trabalhar em uma Copa do Mundo no cargo principal.
Como aconteceu
Desde 1978, Alex Ferguson treinava o Aberdeen. A equipe foi o segundo lugar em que ele passou mais tempo na carreira. Ao todo, teve 459 partidas no comando dos Dandies. Além disso, em paralelo, SAF era assistente do lendário John Stein na seleção escocesa.
Ao lado de Stein, Ferguson se deparou com uma situação difícil para entender a importância de defender a seleção do seu país. Contra País de Gales, partida que valeria a vaga para a repescagem da Copa do Mundo de 1986, a classificação acabou eventualmente sendo o menos importante.
Conforme a importância e a pressão, John Stein sofreu um ataque cardíaco no banco de reservas e, logo ao término da partida, veio a óbito aos 62 anos. Na ocasião, o empate garantiu a Escócia na repescagem contra a Austrália.
Com Ferguson de interino, os escoceses não tiveram dificuldade para carimbar seu passaporte para o México. Com 2 a 0 na ida e 0 a 0 na volta, portanto, iriam para a disputa de sua quarta Copa do Mundo consecutiva. Nas anteriores, foram eliminados na primeira fase.
Às vésperas da Copa, o cargo estava vago. Ainda que sem muitas opções, o desconhecido Alex Ferguson, de 45 anos, foi depositado a confiança para comandar o time. No Aberdeen, SAF nomeou seu assistente, Archie Fox, para assumir em sua ausência.
Alex Ferguson na Copa do Mundo de 1986
Se já não bastasse as dificuldades enfrentadas antes do torneio, a Escócia não teve descanso ao seu início. Dessa forma, o sorteio colocou-a no ‘Grupo da Morte’, ao lado da Alemanha, Dinamarca e Uruguai. Soma-se o fato de que eles não contavam com grandes jogadores, como: Kenny Dalglish (lesionado) e Alan Hansen (problemas pessoais), ambos do Liverpool.
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Mesmo assim, o otimismo prevalecia. Na época, o meia Graeme Souness, da Sampdoria, afirmou que este era o elenco mais qualificado que a Escócia já teve. Dentre os 22 convocados, haviam bons nomes como Steve Archibald (Barcelona), Gordon Strachan (Manchester United) e Charlie Nicholas (Arsenal), além da dupla de zaga de confiança de Ferguson no Aberdeen, Alex McLeish e Willie Miller.
A estreia foi contra a Dinamarca. Apesar de não ser uma das mais tradicionais do continente, estava em uma das melhores safras de sua história. Comandados por Michael Laudrup e com falha de Willie Miller, a primeira derrota veio nos pés de Preben Elkjaer: 1 a 0 para os dinamarqueses.
O começo negativo não abalou o time. Já na segunda rodada, contra a atual vice-campeã do mundo Alemanha – e que também foi vice em 86 -, os escoceses abriram o placar cedo com um gol de Strachan. A alegria durou pouco ao passo que Völler e Allofs viraram a partida para os alemães, 2 a 1.
Na última rodada, a situação do grupo era a seguinte: Dinamarca, líder com seis pontos; Alemanha, segundo colocada com quatro pontos; Uruguai, terceiro colocado com um ponto; e Escócia zero. No entanto, o cenário ainda era classificatório, visto que no formato da competição os quatro melhores terceiros colocados se classificavam. Bastava vencer.
A sorte não era uma das melhores companheiras da Escócia, contudo, ela resolveu aparecer no jogo decisivo. Com apenas 56 segundos, Jose Batista fez uma falta dura em Strachan e foi expulso. Ao propósito, é a expulsão mais rápida na história das Copas do Mundo.
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Contra a Dinamarca, por exemplo, o Uruguai já havia se deparado com uma situação semelhante. Por ser um time agressivo, aos 19 minutos já estava com um jogador a menos. Com isso, os dinamarqueses golearam por 6 a 1. Em suma, o otimismo era alto por parte dos comandados de SAF.
A classificação não veio, mas foi visto pela primeira vez o ‘Hairdryer Ferguson’. O apelido surgiu por conta da maneira com que o treinador lidava com algumas situações, sendo assim comparado a um secador de cabelo por ser intenso e quente em suas palavras.
Os escoceses não conseguiram romper a barreira dos uruguaios. Em virtude de uma retranca e um jogo físico em que a bola era somente um detalhe, os sul-americanos suportaram a pressão durante os 90 minutos para garantir a vaga na próxima fase com o empate de 0 a 0.
Por estar com um jogador a menos e não precisar da vitória, a única preocupação do Uruguai era fazer com que a Escócia não marcasse um gol. Assim sendo, os sul-americanos fizeram de tudo para quebrar o ritmo da partida, cometendo muitas faltas.
Ao apito final, Ferguson se mostrou muito irritado com a postura uruguaia. “Estou feliz em ir para casa, acredite em mim, porque isso não faz parte do futebol. Não é mais problema meu. É um problema da Fifa. E vai ser um problema para a Argentina na segunda”, disse.
Ferguson se referiu ao confronto das oitavas de final que o Uruguai teria contra a Argentina, campeã da edição em questão. Por isso, a Fifa ouviu as reclamações do treinador punindo os uruguaios em 25 mil francos suíços (cerca de 21 mil libras nos dias de hoje) e suspendendo Omar Borras, técnico, por chamar o árbitro de “assassino”.
Mesmo não indo bem em seu curto período como treinador da Escócia, Alex Ferguson mostrou o suficiente para ser contratado pelo Manchester United logo após a Copa do Mundo de 1986. O resto é história.