O início da era moderna da Premier League teve em seus campos um atleta que entrou para a história da liga e do futebol inglês. Jovem nascido em Gosforth, Newcastle, Alan Shearer tinha rápido raciocínio e um instinto raro para o gol, se tornando uma referência entre os atacantes da liga, entrando posteriormente, para o seleto grupo de lendas do futebol a terra da Rainha.
Alan Shearer, um artilheiro assombroso do futebol inglês
O início de Shearer
A exemplo de outros tantos bons jogadores, sua carreira como profissional teve início no Southampton. Alan Shearer chegou aos profissionais dos Saints em 1988 após dois anos jogando na equipe de juniores.
Sua estreia foi contra o Chelsea na até então chamada First Division (antiga Premier League), em 26 de maio.
Em sua primeira temporada como profissional alcançou o recorde de mais jovem jogador a marcar um hat-trick (17 anos e 240 dias) em uma partida da divisão principal. O feito foi alcançado na vitória por 4 a 2 contra o Arsenal.
Sua passagem pelo Southampton foi discreta, uma vez que tinha como companheiros no ataque, Rod Wallace e aquele que se tornaria o ídolo local, Matt Le Tissier.
Foi vestindo a camisa do time do sul que seu futebol o levou à seleção.
Em 1991, Shearer integrava o elenco da equipe inglesa sub-21. Foi a grande estrela da edição daquele ano do Torneio de Toulon, marcando sete gols em quatro partidas.
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Tal desempenho o ajudou a se consolidar nos Saints e a convocação para compor elenco principal da seleção da Inglaterra foi apenas uma questão de tempo.
Alan Shearer deixou a sua marca logo em sua estreia, na vitória dos ingleses diante da França por 2 a 0 em 19 de fevereiro de 1992.
Sua consolidação no ataque do Southampton aliada à presença frequente entre os convocados para a seleção acabou despertando o interesse de outras equipes, o que marcaria o fim da sua trajetória nos Saints.
Durante sua passagem pelo Southampton, Shearer participou de 118 partidas, marcando 23 gols.
A glória com um azarão
A janela de transferências da temporada 1992/1993 foi cercada de especulações e apostas. Apesar do interesse do Manchester United, então comandado por Sir Alex Ferguson, Shearer declinou a oferta e acabou acertando com uma equipe modesta para os padrões do futebol inglês.
Em 1° de julho de 1992 era anunciada a sua transferência para o Blackburn Rovers pelo valor de 3,6 milhões de libras. Sua primeira temporada no Ewood Park foi de altos e baixos.
Uma séria lesão em seu ligamento cruzado anterior direito o deixou fora de combate por boa parte da temporada.
No entanto, seu desempenho nas partidas em que entrou em campo já dava indícios do que ainda viria. Em 21 partidas que disputou naquela temporada, Shearer teve a expressiva marca de 16 gols.
Sua segunda temporada no Blackburn foi de muito destaque. A equipe fez excelente campanha terminando aquela edição da Premier League na segunda colocação, atrás somente do Manchester United.
Durante aquela edição do campeonato, Alan Shearer marcou 31 gols em 40 partidas. Seu desempenho acabou lhe rendendo o prêmio de melhor jogador da temporada.
Seu desempenho atuando pelos Rovers consolidou sua presença na Inglaterra, mesmo com o time não obtendo a classificação para o Mundial nos Estados Unidos em 1994.
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A temporada seguinte à decepcionante ausência da Inglaterra na Copa foi a de maior destaque na carreira do atacante.
Ao lado do recém-chegado Chris Sutton, formou o ataque conhecido como SAS, atingindo a marca de 49 gols marcados (34 de Shearer e 15 de Sutton) que ajudaram o Blackburn Rovers a conquistar pela primeira vez em sua história o título da Premier League.
Além de campeão inglês, ao mesmo tempo, terminou o campeonato na artilharia. Na edição seguinte do campeonato, seguiu mantendo sua excelente média de gols. Foram 31 gols em 35 jogos na edição 1994/1995.
No entanto o desempenho da equipe passou longe de repetir a campanha do título. O Blackburn fez uma campanha modesta na Premier League, terminando o torneio na sétima posição da tabela.
O desempenho na Champions League foi bastante discreto e o time foi eliminado ainda na primeira do torneio continental.
Seu rendimento com a seleção inglesa seguiu em alta, mas o desempenho da equipe não foi o esperado. Na edição da Eurocopa de 1996, Shearer marcou cinco vezes no torneio. No entanto, a Inglaterra ficou sem conquistar a taça ao ser derrotada na semifinal pela Alemanha.
Após o fim daquela edição da Euro, também chegava ao fim a passagem de Alan Shearer por Ewood Park. Pelos Rovers, foram 138 partidas disputas e 112 gols marcados, sendo artilheiro da Premier League por dois anos consecutivos.
De volta ao lar
Ao final daquela temporada, mais uma vez surgia no mercado, a possibilidade de sua transferência para o Manchester United. E mais uma vez, contrariando as probabilidades, Alan Shearer surpreendeu ao anunciar o clube que estava indo.
Em 30 de julho de 1996, o atacante era contratado pelo Newcastle. O valor da negociação, recorde na época, foi de 15 milhões de libras.
Era dessa forma que Alan Shearer voltava a seu lar para vestir as cores do seu time do coração.
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Naquela edição, o atleta foi às redes 25 vezes em 31 jogos da liga, sendo pela terceira vez consecutiva, o maior artilheiro do campeonato.
Mesmo com esse grande desempenho, o Newcastle não conseguiu terminar aquele edição da Premier League como campeão, ficando com o vice-campeonato.
A segunda temporada em sua cidade natal foi marcada por lesões que atrapalharam seu desempenho, refletindo assim diretamente no resultado da equipe na liga.
Com 17 partidas disputadas naquela edição da Premier League, Shearer conseguiu marcar somente duas vezes e o Newcastle terminava o torneio somente na décima terceira posição.
Entretanto, os Magpies quase conquistaram o título em outra competição nacional.
Em, 1998, a equipe chegou à final da Copa da Inglaterra contra o Arsenal. No entanto, o time foi derrotado por 2 a 0, mantendo o grito entalado na garganta de seu torcedor.
Naquele ano conseguiria ainda se recuperar de uma lesão a tempo de participar da Copa do Mundo da França.
Mas, mesmo com boas atuações, marcando dois gols, e tendo ao seu lado no ataque o jovem Michael Owen, a trajetória dos ingleses naquele mundial teve seu fim contra a Argentina nas oitavas de final.
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O cenário para a temporada 1998/1999 foi praticamente o mesmo. Ainda que o rendimento de Shearer tenha melhorado muito com 14 gols marcados em 30 partidas, a equipe repetiu o desempenho do ano anterior na temporada da Premier League.
Ocupou a décima terceira posição e ficou novamente com o vice-campeonato da Copa da Inglaterra, dessa vez derrotada na final pelo Manchester United por 2 a 0. A temporada seguinte se mostrou bastante conturbada para Alan Shearer e a para a equipe do Newcastle.
Naquele ano, o clube tinha como Ruud Gullit como treinador, mas a relação do técnico com o maior craque e capitão do time estava estremecida.
Somente após a saída do holandês, e com a chegada de Bobby Robson é que a tranquilidade voltou a reinar pelos lados do St. James Park, o que levou a equipe ao décimo primeiro lugar ao término da liga.
Foi nessa temporada que Shearer alcançou a marca de 100 jogos pelos Magpies, ocorrendo também nesse jogo a primeira expulsão de toda a sua carreira.
O instinto artilheiro continuava presente, tendo o atacante feito 23 gols durante todo aquele campeonato.
A temporada 2000/2001 marcou o fim da carreira do atacante como jogador da seleção inglesa. Tal decisão se deu após a edição da Eurocopa, onde a Inglaterra decepcionou e foi eliminada ainda na fase de grupos.
Após tal anúncio, o atacante não pôde entrar em campo muitas vezes. As lesões foram constantes naquele momento de sua carreira. Shearer conseguiu atuar somente 19 partidas em todo o campeonato, marcando apenas 5 gols.
Seu baixo rendimento pessoal e da equipe ficaram para trás na temporada 2001/2002.
Retorno aos torneios europeus
O instinto artilheiro de Shearer se fazia presente mais uma vez. Ele ajudou o Newcastle a figurar novamente na parte de cima da tabela, lutando pelas primeiras posições.
O quarto lugar naquela edição da Premier League, melhor classificação desde 1997, garantia o retorno da equipe à Champions League.
Naquela temporada, Alan Shearer assinalou 23 gols em 37 partidas em todo o campeonato. O sucesso daquela edição se repetiu em 2002/2003.
O Newcastle fez uma campanha digna em seu retorno à Champions. A equipe avançou até a segunda fase enquanto Shearer saiu do torneio continental com sete gols marcados.
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Com as atenções voltadas à Premier League, o atacante seguia marcando os gols que ajudaram a equipe a fazer uma campanha ainda melhor a do ano anterior, levando os Magpies ao terceiro lugar no campeonato.
No total foram 17 gols marcados em 35 jogos e o Newcastle se classificava mais uma vez para a Champions League.
No cenário internacional, a equipe até venceu o Barcelona em casa por 3 a 2, mas foi eliminada ainda na fase preliminar da Champions League de 2003/2004. Dessa forma, teve que disputar assim a Copa da Uefa.
Nessa competição. o Newcastle fez uma excelente campanha, mas parou na semifinal ao ser derrotado pelo Olympique de Marselha.
O início do adeus
A temporada 2004/2005 começou com um misto de surpresa e tristeza para a torcida do norte. Sentindo o peso da idade e a capacidade de ajudar o time diminuindo, Alan Shearer anunciava que aquela seria sua última temporada vestindo a camisa do Newcastle.
Seu desempenho naquele ano foi discreto, contribuindo com 7 gols em 28 jogos na Premier League, que renderam ao clube apenas as décima quarta posição na classificação final.
No cenário europeu, o clube avançou até as quartas da Copa da Uefa, mas acabou derrotado pelo Sporting.
Tudo se caminhava para o fim de sua passagem por Tyne and Wear até que no meio do ano, a pedido do treinador Graeme Souness, o veterano concordou em adiar para o fim da próxima temporada sua aposentadoria dos gramados.
Despedida e legado
Sua temporada derradeira em St. James Park ficou marcada por emoção, lesões e recordes. A despedida de Alan Shearer do Newcastle marcou a quebra de uma marca que já perdurava há 49 anos.
O atacante marcava seu 201° gol pelo Newcastle e assim superava Jackie Milburn, outra lenda do clube, se tornando o maior artilheiro da história do clube.
Aliás, a marca foi alcançada em 4 de fevereiro de 2006, com a equipe vencendo o Portsmouth por 2 a 0. A última partida de sua carreira aconteceu em abril, aos 36 anos e da forma que todo herói merece se despedir.
Foi justamente contra o maior rival da equipe, no Tyne-Wear derby, que o atacante marcava de pênalti seu último gol pelo Newcastle. Os Magpies golearam o Sunderland por 4 a 1 fora de casa.
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Naquela partida ele sofreria uma lesão no joelho que o tiraria das últimas três rodadas do campeonato, colocando fim à sua história como jogador profissional de futebol. Durante seus 10 anos em St. James Park, “Big Al” disputou 395 partidas e deixou sua marca 206 vezes.
O instinto de ir às redes também o coloca como maior artilheiro da Premier League com 260 gols assinalados.
Atualmente, segue venerado e saudado pela torcida do Newcastle. Aliás, seu serviço prestado pelo clube do norte valeu até uma estátua em St. James Park.
Ainda em 2009, já aposentado, voltou ao clube na tentativa de ajudar na fuga contra o rebaixamento. Ele então assumiu o time por oito rodadas após o afastamento do treinador Chris Hughton.
A salvação não veio e, assim, o ex-atacante se desligou do comando técnico. No entanto, Alan Shearer sempre será uma figura lendária lembrada por todos os apaixonados por futebol, em especial, por aqueles que vestem o manto listrado em branco e preto.