A resistência e a ressurreição do Wimbledon

O AFC Wimbledon é um clube que ressurgiu das cinzas com a força de seus torcedores, quando seu precursor, o Wimbledon FC, deixou de existir e se tornou o MK Dons, nos anos 2000.

Para entender mais, o clube foi fundado em 1889, no oeste de Londres. Seu auge foi em 1988, quando ganhou a FA Cup em cima do Liverpool, naquela época atual campeão inglês. Porém, pouco mais de dez anos depois a situação era outra.

O Wimbledon dividia o o estádio Selhurst Park com o Crystal Palace, e para se adequar às novas regras do futebol inglês essa divisão deveria acabar. Além disso, o clube se via em uma grande crise financeira.

A única solução vista pela diretoria do clube do oeste de Londres era vender a equipe a uma dupla de noruegueses Kjell Røkke e Bjørn Gjelsten. O clube permaneceu em Londres até 2000, quando a cidade de Milton Keynes entrou na história.

A resistência e a ressurreição do Wimbledon
Wimbledon comemorando a inédita FA Cup de 1988 em Wembley. (Foto: David Cannon/ALLSPORT)

Um consórcio liderado por Pete Winkelman e apoiado pela Asda, uma subsidiária do Walmart, propôs uma série de revitalizações e melhorias na cidade de Milton Keynes, no condado de Buckinghamshire.

Nessas melhorias estavam inclusas a construção de um estádio moderno e a ida de algum clube importante para a cidade. Propostas foram feitas para Crystal Palace, Luton, Queens Park Rangers e Wimbledon.

Como estava sem estádio e precisava de uma maior estrutura, o até então presidente do Wimbledon, Charles Koppel viu em Milton Keynes uma ótima oportunidade para o clube prosperar e crescer – mesmo que a 90 quilômetros de distância de sua torcida.

O processo

Em 2 de agosto de 2001, Koppel anunciou a intenção do clube se mudar para Milton Keynes. A primeira decisão da Federação Inglesa e da Football League foi de recusa. Na segunda decisão, no dia 22 de maio de 2002, após apelação, o processo de mudança acabou sendo autorizado.

A ideia não foi nem um pouco bem aceita pelos torcedores. Exatos dois dias depois um grupo de torcedores, revoltados com o que tinha acontecido com seu clube do coração, decidiram criar o AFC Wimbledon, o time que ressurgiria das cinzas.

A resistência e a ressurreição do Wimbledon
Os torcedores foram fundamentais para que a memória do Wimbledon FC não morresse (Foto: Autor desconhecido)

Apesar da aprovação dos órgãos ingleses, a mudança demorou a ocorrer. Apenas em setembro de 2003 que o Wimbledon foi jogar sua primeira partida em Milton Keynes. Nove meses depois, Pete Winkelman comprou o Wimbledon FC e mudou seu nome para MK Dons, trocou suas cores e seu escudo.

Para os torcedores do Wimbledon, foi realmente a gota d’água. O uso da alcunha “Dons”, que era utilizada para o Wimbledon FC, no nome do time de Wilkeman era uma afronta, uma vez que o MK Dons renegava todo o passado do clube de Londres.

A resistência e a ressurreição do Wimbledon

“Nós somos a ressureição”

Imagina ficar órfão de um clube centenário. Foi com essa sensação de angústia e raiva que torcedores do Wimbledon ficaram. A partir da mudança no nome do clube para MK Dons, o AFC Wimbledon começou a ganhar força.

Como primeiro passo, o AFC Wimbledon conseguiu um acordo com o Kingstonian FC para utilizar o modesto estádio Kingsmeadow, em Kingston upon Thames. A partir de então, iniciou-se o verdadeiro processo de volta aos gramados.

Para o AFC Wimbledon, tudo que podia ser mantido pela legislação foi mantido. Cores e escudo sofreram alterações, mas a águia continuou no novo clube.

O segundo passo foi ter jogadores. Foi feito um evento com mais de 200 inscritos que se achavam bons o suficiente para representar o novo clube nas divisões regionais. Feita a seleção dos candidatos, começou a história de resistência do AFC Wimbledon.

A resistência e a ressurreição do Wimbledon
Adebayo Akinfenwa, “o jogador mais forte do mundo”, foi um dos nomes mais famosos do AFC Wimbledon. (Foto: Liam McAvoy/SportPix)

A equipe se juntou e começou a se dar bem nas divisões regionais inglesas. Com o tempo, a história e as conquistas da equipe atraiu apoiadores e patrocinadores. Essa cooperação resultou em um registro histórico de seis acessos em 16 anos.

Mesmo com a vida mais fácil, o MK Dons foi rebaixado em 2006 para a quarta divisão inglesa. Após subir tantos degraus e muito esforço, o AFC Wimbledon conseguiu alcançar o MK Dons na temporada 16/17 na League One, a terceira divisão inglesa.

Rivalidade com o MK Dons

A resistência e a ressurreição do Wimbledon
Torcida do AFC Wimbledon faz questão de ir aos jogos contra o MK Dons e lembrar sua posição.

A relação entre as equipes nunca foi amistosa, muito pelo contrário. As duas diretorias sempre fizeram questão de se cutucar e as torcidas mais ainda. As equipes se enfrentaram sete vezes, com quatro vitórias do MK Dons e duas do Wimbledon.

Quando o MK Dons surgiu, em 2004, Pete Winkelman disse que “o AFC Wimbledon e o MK Dons tem a mesma herança do Wimbledon FC. A diferença é que nós somos os verdadeiros herdeiros”, e isso gerou uma polêmica e um atrito muito grande.

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Torcedores do AFC Wimbledon protestando contra Pete Winkelman.

Em 2017, a conta oficial do Wimbledon no Twitter se referiu ao MK Dons apenas como Milton Keynes. Deixou no ar uma crítica e uma insatisfação com o uso da alcunha “Dons” por parte do clube de Buckinghamshire.

A certeza é que para sempre as histórias de AFC Wimbledon e MK Dons estarão entrelaçadas, mesmo que de forma negativa entre torcedores e dirigentes. Outra certeza é que quem faz o futebol ser o que é são as pessoas, e os torcedores ressurgiram o clube das cinzas.

Emanuel Vargas
Emanuel Vargas

Jornalista pela UFV, radialista e viciado em esportes. Escrevo na @PLBrasil1 e no @doislances