Opinião: Adaptação do jogador brasileiro na Premier League passa pela mentalidade inglesa

Assim como tudo que oriunda de outro país, o futebol traz consigo características culturais, de acordo com a região em que é jogado. Mas se tem algo que em que a Premier League se distingue do futebol brasileiro é, especialmente, na mentalidade dos jogadores – e talvez seja essa característica que mais deveria ser “copiada” aqui na América do Sul.

O futebol inglês se difere em muitas questões: na força física empreendida nas partidas, na verticalidade do jogo, sempre buscando o gol e na persistência.

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Por outro lado, são raros os jogadores ingleses que trazem consigo a característica nata da habilidade, do drible e da jogada individual. Isso é uma dádiva nossa. Então, porque é sempre tão difícil para um jogador brasileiro se adaptar ao futebol inglês, mesmo sendo um craque?

Gabriel Jesus, Firmino, Willian, Richarlison e Lucas Moura são jogadores de ataque que hoje se destacam nos seus times. Mas grande parte deles, mesmo saindo do Brasil como titulares absolutos de seus clubes, demoraram a manterem uma regularidade.

A disputa pela titularidade é parte do cotidiano destes jogadores, mesmo alguns deles estando há anos na Premier League. Outros muitos já passaram por ela, e mesmo com potencial, falharam.

Para muitos, a Premier League está em um nível muito acima do futebol praticado no Brasil. Eu discordo. Com exceção dos 5 principais, o nível de qualidade técnica decai bruscamente.

Acontece que o futebol inglês tem um diferencial e é a aplicação tática dos seus jogadores, aliada a uma mentalidade de força, persistência e controle emocional que para nós, brasileiros, é difícil de construir.

O inglês não se abate, e mesmo compreendendo algumas vezes as suas limitações técnicas é um jogador lutador. Pra jogadores leves, apostadores de jogadas individuais e, ainda, com um emocional típico do povo latino, vencer as barreiras táticas e a força física dos adversários ingleses é uma tarefa complicada.

A adaptação é cultural. Vai desde compreender que contato não é mais falta, até aceitar que a torcida vai exigir te ver jogando mesmo quando não se está com a bola.

E, se não bastasse essa leitura diferente do jogo, a Premier League tem outra característica importantíssima: a confiança dos clubes nos seus treinadores, principalmente quando se fala dos clubes que estão sempre buscando o título e figurando entre os classificados para a Champions League.

A confiança no trabalho do técnico permite, por exemplo, que ele construa elencos competitivos, com diversas peças de qualidade para as mesmas posições, fazendo com que ninguém seja titular absoluto no time.

Talvez essa seja a maior vitória em termos de gestão de grupo nos tempos atuais do futebol: craques sem garantia de titularidade. É claro que existem aqueles que se destacam, mesmo assim, os treinadores revezam escalações e garantem oportunidade a todos que se dedicam para a vaga.

É como Gabriel Jesus e Kun Agüero, no City, por exemplo. Os dois marcam em todos os jogos em que eles participam. Mas os dois, ora ou outra, estão no banco de reservas.

Como é possível fazê-los aceitar o fato de não saírem jogando em todas as partidas e mesmo assim continuarem focados totalmente no objetivo do time?

Como fazer um brasileiro ter a mentalidade forte o suficiente para entender essa diferença drástica com relação ao nosso futebol brasileiro e, ainda, estar psicologicamente preparado quando entrar em campo para vencer a força do adversário sem abrir mão das suas características natas?

Sem dúvidas, de todos os desafios que um jogador brasileiro pode enfrentar quando vai jogar na Europa, o maior deles está em ser bem sucedido na Premier League. No ponto de vista da mentalidade de equipe, com certeza nós estamos atrasados aqui no Brasil.

Mal começamos a apostar em técnicos a longo prazo – e isso se restringe a pouquíssimos clubes – quem dirá em dar continuidade aos jogadores por mais de uma temporada.

Só assim se constrói uma mentalidade vencedora, de ações coletivas, de persistência e de confiança. A rotatividade e o imediatismo nosso é, ainda, o nosso maior adversário.

Nota: a opinião deste texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete a visão da PL Brasil

Jéssica Cescon
Jéssica Cescon

Estudante de jornalismo na UFSC. Desde pequena aprendi com meu pai a ter o futebol como a primeira paixão