O Crystal Palace teve temporada bastante inconstante. Mas a mediana temporada teve lampejos de sucesso. Dentre eles, sem dúvida, as excelentes atuações de Aaron Wan-Bissaka, novo reforço do Manchester United, e sua consolidação como um dos grandes laterais da Inglaterra, quem sabe do mundo.
Aaron Wan-Bissaka e o potencial para ser um dos melhores laterais direitos do mundo
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Junto de Gaita, Milivojevic e Zaha, foi um dos principais destaques do Crystal Palace em 18/19.
O jovem lateral direito recebeu o prêmio de melhor jogador do mês em quatro oportunidades. Ao fim da Premier League, recebeu dois prêmios de melhor jogador do clube na temporada, em um deles eleito pelos torcedores (Player of The Season), com 59% dos votos, e no outro pelos próprios companheiros de equipe (Player’s Player of The Season).
E o jogador nascido em Londres se tornou lateral direito por acaso. Fã de Thierry Henry em uma família de torcedores do Arsenal, iniciou sua trajetória nas categorias de base do Crystal Palace aos 11 anos de idade. Entretanto, como atacante, e posteriormente, meia-avançado, tendo como referência Yannick Bolasie, à época ídolo do clube.
Aos 18 anos, quando chamado para completar treinos dos profissionais, teve que ser improvisado como lateral direito. E os excelentes treinamentos, mesmo diante de jogadores como Zaha e Andros Townsend, fizeram com que passasse a ser aproveitado na nova posição pelas equipes juvenis.
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Em 2018, até então não aproveitado pela equipe principal, quase foi emprestado pelo Crystal Palace para disputar a Championship. Mas a oportunidade finalmente veio, em razão de inúmeras lesões no time principal, incluindo Joel Ward, então lateral direito da equipe.
Então, em fevereiro de 2018, aos 20 anos, Wan-Bissaka fez sua estreia pela equipe profissional, contra o Tottenham, no Campeonato Inglês. Ainda participou de outras seis partidas na Premier League 18/19, até iniciar a temporada seguinte como titular absoluto.
E já no início da temporada 18/19 as ótimas atuações transformaram-no em xodó da torcida. Inspirada em Rock the Casbah, de The Clash, o canto “Your wingers don’t like him! Your wingers don’t like him! Wan Bissaka! Wan-Bissaka!” tomou as arquibancadas do Selhust Park em 2019. “Seus pontas não gostam dele” representa bem o desempenho do jogador na última Premier League.
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“Há 12 meses eu não esperava estar vivendo isso. Sou muito grato por onde consegui chegar e estou indo degrau por degrau. Tem sido incrível. Desde meu primeiro dia em campo o apoio dos torcedores é impressionante”, afirmou Wan-Bissaka em entrevista ao site oficial do clube após o fim da temporada.
E o sucesso parece não ter tido grande impacto sobre o jovem jogador. “O que eu gosto nele é que continua trabalhando duro, demonstrando profissionalismo e que é capaz de manter firmemente os pés no chão quando tantos elogios são escritos e falados a ele”, disse o técnico Roy Hodgson em partida contra o Burnely, em março.
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Dentre os defensores da Premier League 18/19, Wan-Bissaka foi o líder de desarmes, 129 em 35 partidas. No quadro geral, atrás apenas dos volantes Wilfred Ndidi (144), do Leicester, e Idrissa Gueye (143), do Everton. Em fevereiro, chegou a liderar o ranking de desarmes do futebol europeu, considerados todos os jogadores das cinco principais ligas do continente.
Além de destaque nos desarmes, foi também o lateral direito com mais interceptações na última Premier League, 84 no total. Sofreu apenas dez dribles na temporada e tem média inferior a uma falta cometida por partida, resultando em apenas quatro cartões amarelos. Assim, foi fundamental para a marca de 12 clean sheets do Crystal Palace no Campeonato Inglês, a sexta melhor equipe no quesito.
Na opinião de Steve Nicol, ex-jogador do Liverpool e da seleção inglesa, e atualmente comentarista da ESPN do Reino Unido, o lateral “é absolutamente perfeito”.
“Não existem muitos laterais direitos extraordinários na defesa como ele. No ataque, é bom, jovem e com muito potencial para evoluir. Mas o que mais me impressiona é que realmente gosta de defender, e não se vê isso atualmente”.
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A fantástica temporada do jovem lateral direito, confirmada pelas estatísticas, talvez não tenha sido tão exaltada quanto merecia. Se isso ocorreu, foi, sobretudo, ofuscada pelas ótimas atuações de Trent Alexander Arnold nas retas finais de Premier League e Champions League. Aliás, certamente ficará entre os dois a disputa pela titularidade da seleção inglesa no futuro próximo.
Diferentemente de Alexander Arnold, Wan-Bissaka, aos 21 anos, ainda não teve oportunidades na equipe principal da Inglaterra. Até o momento, sua não convocação é relativamente compreensível, ante os destaques de Kyle Walker (29) e Kieran Trippier (28) já há alguns anos. Mas é natural e iminente que comece a receber minutos em campo pela seleção inglesa principal.
De ascendência congolesa, atuou pela equipe sub-20 do Congo em 2015. Já pela Inglaterra, a partir de 2018, tem partidas com as equipes sub-20 e sub-21. E é o titular da seleção na disputa da Euro sub-21 deste ano.
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Se Wan-Bissaka já é uma realidade como excelente defensor, no ataque ainda pode render muito mais. O potencial demonstrado pelo lateral, que combina força física, técnica e velocidade, ainda tem muito a ser explorado. Em 46 partidas como profissional pelo clube londrino, nenhum gol marcado e apenas quatro assistências.
Na Premier League 18/19, foram dez chutes ao gol e 14 passes decisivos, resultando em três assistências. Apesar de ser a quinta maior marca de um lateral direito no campeonato, é um número baixo quando comparado a Alexander Arnold, por exemplo, com 12 assistências na competição.
Mas Wan-Bissaka se encaminha para alcançar em breve patamar que Alexander Arnold começou a atingir na última temporada: status de um dos melhores laterais direitos do mundo. E tem tudo para chegar lá, tornando-se um dos melhores, senão o melhor. Aperfeiçoar o desempenho ofensivo é justamente um dos caminhos para isso.
E Wan-Bissaka tem um cenário bastante promissor pela frente. Para as próximas temporadas, o jogador tende a entrar em um processo natural de substituição de nomes mais experientes na posição.
Aos 21 anos, junto do próprio Alexander Arnold (20), faz parte de jovem geração de laterais direitos que devem se consolidar cada vez mais entre os grandes do continente europeu. Entre eles estão Achraf Hakimi (20), Joshua Kimmich (24), Noussair Mazroui (21), Benjamin Pavard (23), Davide Calabria (22), João Cancelo (25) e Éder Militão (21).
A excelente temporada de Wan-Bissaka chamou a atenção do Manchester United, que o contratou nesta janela. Antonio Valencia deixou o clube, o contestado Ashley Young tem apenas mais um ano de contrato, enquanto Diogo Dalot é tido como ainda despreparado para assumir a posição.