Cá estamos nós após mais uma temporada da Premier League que, convenhamos, foi uma das melhores dos últimos anos. Tanto na briga pelo título entre Manchester City e Liverpool, quanto na disputa por vaga na Champions League entre o restante do Big 6.
Na briga pela tão almejada taça, o Liverpool bateu na trave mais uma vez e segue sem o título na era Premier League. Apesar do fracasso, a temporada do time foi uma das melhores da história da competição, e de quebra, o time ainda pode beliscar o hexa europeu. Muito disso foi graças ao zagueiro holandês Virgil van Dijk.
Virgil chegou na temporada passada, mas foi nessa que ele se consolidou como melhor do mundo na posição. Atuações, gols e liderança que o levaram ao prêmio de melhor jogador da temporada. A PL Brasil já listou outros zagueiros que conseguiram a façanha.
O número que mais assusta é que o holandês não sofreu nenhum drible na temporada, e não foi contra qualquer jogadores que ele tinha o desafio. Só na PL, se deparou com Kun Agüero, Heung Min Son, Eden Hazard… e na Champions, teve pela frente Lionel Messi, Arjen Robben, entre outros.
Jogadores de alto nível são marca registrada na PL, afinal, é a melhor liga do mundo. Na parte defensiva, já passaram nomes lendários como Sol Campbell, Rio Ferdinand, Jamie Carragher, entre outros. Dentre esses grandes nomes, alguns se sobressaíram com o passar dos anos.
Afinal, qual deles teve uma temporada mais dominante? Seria a temporada de van Dijk a melhor de um zagueiro na história da Premier League? A concorrência é forte. Separamos outras duas temporadas para trazer o debate à tona.
*A escolha foi feita com base em números, desempenho individual e impacto do jogador para o time.
John Terry, Chelsea – 2004 /05
A temporada em que o time londrino foi campeão, também foi a primeira sob os comandos de José Mourinho. O então atual campeão da Champions League pelo Porto, chegou e implantou seu tão conhecido sistema defensivo nos Blues. Possivelmente nem ele acreditava que daria certo tão rápido.
Sucessor de Marcel Desailly, Terry foi o capitão da campanha histórica. Foram incríveis 25 jogos sem sofrer gols, sendo apenas seis cedidos dentro de casa e 15 no total. Vale dizer que foram apenas 13 cedidos com ele em campo. A equipe se sagrou campeã com 95 pontos, atualmente a terceira melhor campanha da história da competição.
O “ônibus” de Mourinho foi tão bem executado que na temporada seguinte, um tabloide inglês ofereceu 10 mil libras para o jogador que conseguisse marcar um gol contra eles.
Terry seguiu bem o roteiro de um capitão, até mesmo na parte de ataque do campo. Na questão de disciplina, foram apenas sete cartões amarelos no campeonato. No ataque, três gols na competição, sendo oito durante toda a temporada.
Formando também uma grande dupla com o português, Ricardo Carvalho, o capitão foi a certeza do novo time de Mourinho e passou a confiança que o time precisou para fazer história.
Conquistas pessoais na temporada: Jogador do Ano da PFA, Time do Ano da PFA, FIFPro World XIX, Time do Ano da UEFA, Defensor do Ano da UEFA, Jogador do Mês (Janeiro)
Conquistas coletivas: Premier League, Copa da Liga
Nemanja Vidic, Manchester United – 2008/09
O sérvio era um verdadeiro guerreiro dentro de campo. Juntando sua habilidade de marcar, conseguia o equilíbrio perfeito entre desarmes e intensidade. De maneira geral, Vidic era muito inteligente.
Sua visão de jogo era um ponto muito forte, não à toa que teve incríveis 360 bolas afastadas. Seu papel foi fundamental nos 23 de 38 jogos em que o time ficou sem sofrer gols, sendo que em certo momento da temporada, os Red Devils tiveram 14 jogos (1.331 minutos) consecutivos sem sofrer sequer um.
Vidic formou uma das melhores duplas de zaga da história da competição, ao lado do inglês Rio Ferdinand. A confiança passada por eles era a melhor forma de atacar daquele time, contagiando todos em campo. A dupla chegou a ser indicada, individualmente, por três temporadas seguidas ao prêmio de melhor jogador da temporada.
Na temporada em questão, ele perdeu o prêmio da associação de jogadores para o companheiro Ryan Giggs. Em compensação, venceu a premiação dada pela liga e também a interna do clube nos quesitos de melhor jogador votado pelos fãs e pelos jogadores do time.
Conquistas pessoais na temporada: FIFPro World XIX, Time do Ano da PFA, Jogador do Ano da Premier League, Time do Ano da UEFA, Defensor do ano da UEFA, Jogador do Mês (Janeiro)
Conquistas coletivas: Premier League, Copa da Liga, Mundial de Clubes e Community Shield
Comparação
Fazer uma comparação entre os três é algo certamente complicado. O futebol mudou com o passar dos anos e o perfil de zagueiros foi algo muito afetado nessa transição. Agora, traremos pontos para diferenciar cada um dos citados acima.
O ponto aqui não é trazer conclusões sobre qual temporada foi a melhor, mas sim explorar pontos para um debate que, em qualquer lugar, com qualquer pessoa, pode ser feito. Possivelmente esse é um questionamento sem resposta concreta, mas vamos lá.
*Na temporada em questão de John Terry (2004/05) as estatísticas mais avançadas citadas a seguir ainda não eram computadas. Tendo isso em vista, não as utilizaremos como base da comparação.
Técnica
Hoje, zagueiros que apenas desarmam são taxados como incompletos, visto que precisam de melhor técnica para, principalmente, sair jogando com a bola. Nesse quesito, van Dijk tem muita vantagem em relação aos concorrentes.
Vidic e Terry dificilmente transformavam sua posse de bola em criação para o ataque, enquanto o holandês, por exemplo, faz lançamentos que contribuem diretamente na criação de jogadas. Claro que os dois mais antigos tinham uma boa saída de bola, mas não comparada à de Virgil.
Na temporada, VVD criou três grandes chances de gol, além de dar duas assistências e ter 3.037 passes em 3.471 toques na bola. Terry teve uma assistência. Nemanja, por sua vez, não criou nenhuma grande chance e deu apenas 1.676 passes em 2.460 toques na bola.
Defesa
Vendo o lado marcador, Terry e Vidic se sobressaem. Vidic com mais vontade, mais raça. Terry com mais cadência, frieza. Uma dupla que se jogasse junta, certamente seria uma das melhores da história.
Para se ter uma ideia, van Dijk teve uma temporada monstruosa e, mesmo assim, comeu poeira para o ano em questão do zagueiro Red Devil. Em 2008-09 foram 71 bolas interceptadas e 45 desarmes para o sérvio.
Já VVD teve 40 e 28, respectivamente. Também venceu na disputa de desarmes sendo o último homem: 4 x 1. Em bolas afastadas, 360 x199 (233 x 112 de cabeça).
A comparação com John Terry é mais acirrada. Foram 25 jogos sem sofrer gols para John e 23 jogos para Nemanja. Seus times cederam 15 e 16 gols, respectivamente.
Um ponto a ser abordado é o esquema tático usado pelos times. Enquanto o sérvio tinha um meio-campo mais frágil defensivamente, com Michael Carrick sendo o principal marcador, Terry contava com o incansável Claude Makélélé em sua frente.
Tal fato não diminui a qualidade do zagueiro londrino, mas a divisão de trabalho era bem maior, não se restringindo apenas aos defensores.
Liderança
Todos foram capitães de seus respectivos times, impondo a confiança necessária que um líder precisa passar. A segurança é, no mínimo, o que um defensor precisa passar para um time, é a partir dele que a confiança do time passa a ser formada. Os três esbanjaram tal qualidade.
Na bola ou no grito. No campo ou no vestiário. Em momentos bons ou ruins, todos se mostraram verdadeiros líderes. John Terry, por sua vez, teve um melhor papel de líder.
O fato de ser sua primeira temporada como capitão e de se sair tão bem com a braçadeira, pesa demais na comparação. Além do mais, gols decisivos com o oportunismo de um atacante e a cabeça de um líder que precisa resolver as coisas para seu time.
O gol contra o vice, Arsenal, em Highbury, representa um pouco disso. O da classificação contra o Barcelona, pela Champions League, também.
Impacto para o time
Citaremos aqui o impacto para o time de duas maneiras. Primeiro, a influência do jogador na criação de gols, a participação dele no que realmente importa. A outra é a força dele dentro de campo. A segurança que é passada por ele para o restante do time.
No argumento de participação de gols, van Dijk se sobressai pela técnica superior, como já citada acima. Contudo, não vence por muito. Terry e Vidic eram verdadeiras ameaças para a zaga adversária quando resolviam ajudar na parte ofensiva do campo. Pelo fato de não terem muitas chances por lá, acabavam arriscando sem medo algum de errar.
Vidic, por exemplo, teve inúmeras sobras de bola na entrada da área que, por muito pouco, não resultaram em belos gols. Terry, por sua vez, era mais calculista. Tinha boa leitura das jogadas criadas pelo ataque enquanto estava por lá e aproveitava-as muito bem.
Já no ponto de segurança passada aos companheiros, uns mais calmos, outros mais esbravejantes, é possível colocá-los no mesmo patamar. Nem mais para um, nem menos para outro. A solidez de cada um desses jogadores é de se invejar. Além dela, a regularidade também é algo que surpreende.
As cartas estão na mesa e cada jogador tem seus prós e contras nessa disputa pelo rótulo de melhor temporada. Para você, qual dessas foi a melhor temporada de um zagueiro na Premier League? O debate é extenso e, com certeza, renderia horas de conversa.
Sem dúvidas, Virgil ainda tem um longo caminho pelo Liverpool, mas já se sabe que a trajetória será parecida com a de Terry e Vidic, que já estão marcados pra sempre na história de seus devidos clubes como líderes de grandes conquistas ao longo da carreira.